Capítulo 91

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Custava-me a crer que amanhã iria partir, sem sequer saber para onde, sem ter uma noção do que aconteceria a seguir. Iria virar as costas à pouca família que me restava e teria de renegar as minhas origens, de novo. Mas, tal como o Niall diz, isto não é simplesmente por amor ou para poder ficar com Harry, é muito mais do que isso. Desde o início de toda esta história que isto não se trata apenas de um capricho dos nossos sentimentos. Trata-se das nossas vidas e daqueles que amamos. Se eu ficasse, Troy viria atrás de mim e isso colocaria em risco todas as pessoas que vivam no mesmo espaço que eu. Não podia arriscar que ele chegasse até Zayn, Liam, Marcel ou qualquer outro membro que aqui vive. Até mesmo o pequeno Alexander tem a sua quota parte em tudo isto. Deixei que Niall levasse Hatchi com ele de novo para Holmes Chapel, para ter a certeza de que não ficaria a maus cuidados. Não que ele fosse mal tratado aqui, mas sem mim, não poderia ter a certeza que ele ficasse bem. Tinha a minha mala pronta, debaixo da cama, para que ninguém a visse e começasse a fazer perguntas. Ninguém entrava no meu quarto a não ser eu, Marcel e o rapaz irlandês que ainda aqui estava. Ele dizia que queria ter a certeza que eu ficaria bem até ao máximo que ele conseguisse e eu quase chorei quando ele me fez prometer que, antes de qualquer outra coisa, eu cuidaria de mim. Disse-me o que achava de tudo isto e que me adorava e tinha medo que algo me acontecesse, mas depressa se recompôs e disse que tudo iria correr bem.

Sem dar muito nas vistas, fui-me despedindo de todos. Aproveitei todos os momentos que podia estar com o meu irmão, disse-lhe que estava tudo bem entre nós e que o amava. Aconcheguei o meu sobrinho nos braços sempre que conseguia, beijando-lhe as faces rosadas e enchendo-o de todos os mimos que conseguia. Marcel já sabia o que iria acontecer e prontificou-se a ajudar, ao início fiquei reticente sobre a minha confiança nele, mas acabei por me deixar ir.

“Podemos falar?” A questão saiu-me pequena, miúda, envergonhada, no momento em que pisei o interior da divisão. Os olhos castanhos da cor do chocolate voltaram-se para mim. O rapaz terminou as elevações e os seus pés voltaram a aterrar no chão. Suspirou, recuperando do esforço físico e passou a toalha pela testa.

“Acho que não há mais nada pra falar entre nós, Evelyn.” Liam entoou de uma forma fria e distante, fazendo-me sentir uma pressão enorme na zona da barriga. Custasse o que custasse, eu não era capaz de ir embora sem que as coisas ficassem bem entre nós. Este era o único peso que me restava nos ombros e eu não estava disposta a mantê-lo. Já me chegariam as saudades que iriam arrebatar os meus sentimentos, aquelas que já sinto e ainda nem saí de casa.

“Li, eu…” Tentei começar, mas as palavras pareciam presas na minha garganta. Todo o discurso que havia preparado mentalmente tinha desaparecido. Parecia ridículo, estupido e sem um pingo de decência. O rapaz voltou a olhar-me, como se realmente esperasse que eu falasse, mas não fui capaz de o fazer. Que iria dizer-lhe? Pedir desculpa porque amo outra pessoa? Quando dei conta, a sua cabeça abanou negativamente e ele tornou a suspirar, desta vez frustrado, e voltou a colocar as mãos na barra, elevando o seu corpo. Só agora me havia dado conta de que nem camisola tinha vestida e os músculos das suas costas definiam-se à medida que o seu corpo era elevado e baixo. Os braços pareciam mais avolumados desde a ultima vez que os vira e, as pequenas gostas de suor escorriam-lhe pela pele morena, de uma forma mais atraente do que aquela que poderia esperar. “Ouve, eu sei que estás magoado comigo, mas nós não podemos continuar assim!” Acabei por quase gritar captando a sua atenção de novo. Liam voltou a parar o exercício e olhou-me, com um sorriso irónico.

“Não podemos continuar assim? Então queres que fique como? Depois do que fizeste?” Atirou quase no mesmo tom, mas de forma rude e visivelmente magoado.

“Eu sei que o que fiz foi errado, mas… tu não podes culpar-me, se eu pudesse… se eu pudesse…”

“Se pudesses o quê?” Gritou-me finalmente, e então eu percebi que, a sua zanga, na verdade, não era por causa do que aconteceu, mas sim porque Liam estava cansado, cansado das minhas idas e vindas, do sentimento sem sentimento e destas reviravoltas. Ele sentia-se frustrado pelo simples facto de que não consegue ter-me de volta e perdeu para alguém que eu conheço à menos de um ano.

Save Yoυ  △ |h.s|Onde as histórias ganham vida. Descobre agora