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Capítulo 29

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Coloquei os brincos e ajeitei o cabelo uma última vez em frente ao espelho antes de pegar na bolsa preta e sair do quarto. Dei uma olhada no interior da mala para ter a certeza que tinha tudo antes de descer as escadas e dei-me por feliz ao constatar que sim. Depois entrei na sala e encontrei o rapaz dos caracóis folheando o álbum que fizera.

“Isso já devia estar dentro do saco e fechado, porque é que não fizeste o que eu te pedi?” Questionei apontando para o saco de embrulho que havia comprado para guardar a prenda. Harry olhou-me de relance e ficou alguns minutos a olhar para mim, de novo com o tom rosado nas suas bochechas.

Se não estivesse tão preocupada com o facto de estarmos atrasados teria corado até às orelhas e me embrenhado no meu embaraçado. Mas como estava, acabei por me sentar ao seu lado e tentei arrancar-lhe o livro de recordações da mão, algo que ele não deixou.

“Porque é que puseste esta fotografia aqui?” Apontou para a última página do álbum indicando a fotografia que havíamos tirado no dia de educação física, onde ele aparecia. “Eu não faço parte do vosso grupo, não devia estar aqui.” Olhou-me de novo, mas desta vez nos olhos, em busca da resposta.

Demorei algum tempo a dar-lha, pois processei as suas palavras antes de ponderar no que iria dizer. Para ser sincera nem sei bem porque tinha posto aquela fotografia. A verdade era, eu tirei-a de propósito para pôr no álbum, mas também tirei muitas outras ao longo da última semana e poderia ter escolhido qualquer uma que não aquela. Porque o fiz, não sei, simplesmente achei que seria a mais engraçada e algo me dizia que Harry não era assim tão diferente de nós como ele tentar parecer.

“Enquanto estiveres aqui fazes parte do nosso grupo,” Comecei a falar pousando a minha mão sobre a sua e demonstrando-lhe o melhor dos sorrisos. Queria que ele se sentisse bem vindo entre nós, talvez dessa forma ele percebesse que não precisa de ser tão frio e distante, talvez assim perceba que realmente não lhe queremos mal e ele pode descontrair quando está connosco. “além disso, a fotografia está muito bem, está diferente e engraçada, algo me disse que deveria ser essa que devia usar.” Dei de ombros ainda com a minha pele em contacto com a sua. Não entendia como é que isso acontecia, mas de alguma forma sentia-me presa ao seu toque. Como se eu realmente quisesse continuar a sentir o seu calor em contacto com o frio dos meus dedos. Será que quero mesmo? Eu não devia, no fundo eu sabia que não devia criar qualquer tipo de aproximação com aquele ser, mas estava a tornar-se difícil não fazê-lo.

Os seus olhos desceram para as nossas mãos e depois subiram de novo para os meus. Devia ter sentido alguma repulsa, mas ao invés disso ainda tive mais vontade de ficar daquela forma. Pior, um sentimento impulsivo estava a formar-se no interior do meu ser para me deixar cair na protecção dos seus braços. Quis combatê-lo, obrigá-lo a retrair-se e eliminar-se por completo, mas ao invés disso, foi como se o partisse e os seus pedaços se multiplicassem e se tornassem mais fortes ainda.

“Ainda assim, não percebo.” Harry quase que sussurrou desviando o olhar para os meus lábios e eu senti-os queimar em desejo pelos seus. Eu não podia ter vontade de o beijar! Isso não fazia qualquer sentido na minha cabeça. O seu verde esmeralda voltou a incendiar-se nos meus azuis perdidos traçando os seus habituais caminhos, como se me lê-se a partir do meu interior.

“A-a-acho melhor irmos.” Afastei a minha mão rapidamente quando caí na realidade do momento importuno. Não podia deixar que tais desejos florescessem em mim, desejos que nunca seriam correspondidos e muito menos proveitosos para mim. Só me traria problemas, tudo o que se liga àquele ser, que por muito perfeito que seja, só me vai trazer problemas e problemas. Por isso, tinha de me afastar o mais que conseguia e por muito que custasse.