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Capítulo 10

Senti o meu estômago dobrar-se e esmigalhar-se sozinho assim que a mulher terminou a sua frase. Quis gritar a perguntar se aquilo era algum tipo de piada, mas eu sabia que isso só ia piorar a situação então permaneci calada. O que é que ele estava ali a fazer? Eu sei que ele estava aqui para me proteger mas ele não vai passar vinte e quatro horas comigo, vai? Nem pensar, ele não vai controlar a minha vida de jeito nenhum. Além disso ele desapareceu por dois dias, deixou-me sozinha esse tempo todo sabendo perfeitamente o estado da minha segurança, é assim que ele tenciona fazer o seu trabalho?

"Ele só estará convosco em duas aulas, mas ainda assim façam-no sentir bem-vindo." A mulher de cabelos achocolatados revelou e por momentos senti-me mais aliviada. Só eram duas aulas. Mas qual é a lógica disso? Talvez ele não esteja aqui por mim no final das contas, talvez a minha teoria de tudo aquilo não passar de uma brincadeira para gozar com a minha cara seja verdade. Se bem que no fundo eu não queria que assim fosse pois parte de mim já acreditava nele. Eu e a minha mania de acreditar em todos.

Depois das palavras da docente Harry começou a divagar entre as mesas à procura de um lugar para se sentar. Ainda bem que a minha era uma das últimas.

"Evelyn estou a falar contigo!" Um puxão no meu vestido fez-me olhar para a minha melhor amiga que permanecia de sobrolho erguido, um tanto chateada por tê-la ignorado totalmente. De certo que já me chamava à um bom tempo e eu nem a ouvi, de tal forma foi o meu pânico ao ver aquele ser entrar por aquela porta.

"Desculpa, diz." Pedi calmamente.

"Este não é-" Ela começou por dizer mas depressa se calou e o seu semblante alterou-se de repente. Os seus olhos claros ergueram-se como se observassem uma figura mais alta e atrás de mim.

Não por favor não.

Quando me voltei para trás a figura masculina sentava-se do meu lado com um olhar sério e convicto. O pânico instalou-se na minha cabeça mas rapidamente tornei a virar-me para a Amy que tapava a boca para conter o riso. Olhei-a confusa e ela explicou-me que era engraçada a forma como fugi de falar com ele. Embora eu ainda não lhe tenha contado nada do que se passou sexta-feira, ela já me conhecia bem o suficiente para saber quando não quero encarar alguém ou transmitir-lhe uma palavra que seja. Bati-lhe no braço para que parasse de troçar de mim e virei-me de novo para a frente começando a passar o sumário e as datas dos testes.

A presença de Harry ao meu lado estava a deixar-me um pouco nervosa pois eu não sabia bem como agir. Não sabia se haveria de lhe perguntar algo, se simplesmente cumprimenta-lo ou começar a discutir com ele. Estou furiosa com toda a confusão que ele está a criar na minha vida, e ainda só o conheço à poucos dias. É normal as coisas acontecerem assim? Eu não acho e odeio perder o controlo das coisas, mas parece que este rapazinho decidiu meter tudo fora do meu controle, até mesmo o meu temperamento que já era pouco equilibrado. Para dizer a verdade eu nem sei bem porque é que estou tão chateada, talvez pelo facto de ele ter desaparecido ou por ter entrado na minha escola sem me dizer nada. Mesmo que ele não me deva explicações eu quero-as na mesma, ele não tem o direito de mexer assim comigo nem com a minha vida.

"Não precisas de ficar assim tão nervosa por eu estar aqui." A voz rouca soou junto do meu ouvido e eu dei um pulo de susto não esperando aquela atitude por parte dele. Só então reparei que agitava freneticamente a caneta entre os meus dedos e agitava a perna sem dar conta. Parei imediatamente os meus movimentos, não queria dar-lhe a entender que estava assim por sua causa, isso não teria qualquer cabimento pois ele não me é nada e eu não tenho de me deixar afectar.

"Porque é que estás aqui?" A pergunta saiu da minha boca sem que eu pensasse nela ou sequer a pudesse impedir. Senti as minhas bochechas ganharem cor assim que o olhar carregado de Harry colidiu com o meu. O seu maxilar estava tenso e os seus lábios fechados numa linha dura e única. Arrependi-me imediatamente de ter perguntado aquilo e desviei os meus olhos dos seus voltando-os de novo para a professora.