Capítulo 62

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Talvez a questão ali fosse como... traição...?

Fosse machucar alguém como eu nunca imaginei machucar. O olhar sôfrego nunca visto antes, em espanto e desolação inundaram meu coração de remorso.

As mãos de Louis apertaram meus braços, eu ainda contra a parede, quase completamente despida se não fosse pela blusa do uniforme ainda estar enrolada acima dos meus seios.

Todo o sentimento angustiante foi substituído por medo, quando os olhos de Harry se transformaram em um verde escuro cercado por vermelho vivo, assim como o de seu pai.

O arrepio que subiu do início da minha espinha e se espalhou quando chegou em minha nuca, fez meu coração bater mais rápido. Quase saindo do peito.

Eu não conseguia olhar para Louis e nem para outro lugar a não ser os olhos de Harry.

Um passo a frente e suas mãos se fecharam em punho.

O segurança logo atrás tentava a todo custo manter a postura estratégica.

O maxilar quadrado de Harry pulsava assim como todos os músculos de seu corpo que imploravam para serem libertos da roupa preta justa de cetim.

Louis se pôs a minha frente e Harry gargalhou.

Só pude ver sua mão se ergendo quando ela já atingia a lateral da cabeça de Louis, que chocou contra o concreto da parede.

Um 'não ' saiu gritado da minha boca enquanto eu puxava o ombro de Louis para mim, que logo se esquivou.

O som seguinte, da mão em punho do Harry batendo contra o estômago de Louis, também foi tão audível quanto meu grito anterior.

O corpo a minha frente, menor e mais magro que o de Harry, se encolheu.

Louis tinha uma mão apoiada na parede e a outra abraçando seu corpo.

Eu tinha medo de dizer ou fazer algo e tudo piorar.

Mais uma vez, Harry ergueu sua mão em direção ao homem a minha frente.

Me joguei entre os dois homens e me ajoelhei de frente para Louis, o abraçando.

Fechei meus olhos com força a espera da pancada, mas ela não veio.

Louis se mexeu, retirando sua mão que rodeava sua barriga, e do meu abraço.

Quis por meus dedos em seu rosto, acaricia-lo e perguntar se ele estava bem, mas quando abri os olhos e os dele estavam fixos aos meus, eu tive certeza de que não, ele não estava bem.

Talvez aquilo o protegesse e eu rezei para que eu estivesse certa.

A voz que soou em minha cabeça era a de Louis pedindo para eu olhar nos olhos dele:

"É onde meus demônios se escodem."

E eles estavam lá.
Pela primeira vez os senti presente.
Eu os vi.

Me questionei se foram esses olhos que tiraram a vida de seus pais ou se eles só ficaram assim quando Louis foi trancado aqui a mercê deles, de tudo o que ele carrega e o acompanha.

Seu tronco levantou tão rápido que meus braços se soltaram sozinhos de seu corpo e o meu cambaleou em meus joelhos.

Louis parceria muito mais alto, forte e seguro do que Harry agora.

A escuridão dos olhos de Harry, que me assustou a poucos minutos atrás, não chegavam perto da que Louis exalava.

Louis carregava ódio. Fome. Era visível o outro homem que ele se tornara em tão pouco tempo. Aquele não era Louis e se fosse, eu ainda o amaria.

Save MeWhere stories live. Discover now