Capítulo 46

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—Qual o seu nome? –Niall diz subindo nos pés da cama e se aproximando da garota.

—Bárbara... –ela responde com um pouco de receio, provavelmente por causa do tom e expressão de Niall ao se dirigir a ela.

—Qual sua idade? –o tom de Niall se assemelha aos de policiais em filmes quando um criminoso ou uma vítima está sendo analisada.

—É...– ela deve ser de menor, ao julgar pelo receio de falar usa idade.

Fico calada e atenta a cena e interação dos dois.
Silêncio...

—Suas mãos já estão mais quentes. – Minha voz quebra o silêncio. —Niall, você se importa se ela ficar aqui hoje? Desculpa, não deveria perguntar isso. Bárbara, desculpa mas você terá que voltar e...

—Não! Ela pode ficar. Pagarei pelas duas. –Niall diz saindo da cama.

—Niall, mas nós... Ela não está em condições de fazer o que fazemos e...

—Pagarei para as duas ficarem aqui, quietas, enquanto o tempo passa. – Niall me corta. —Mas então, champagne? Vou pedir para nós!

Niall disca o número de seu cadastro para liberar o telefone e poder ligar para o bar.

A garrafa chega. Niall a bebe sozinho. Não é de seu costume fazer isso aqui.

Bárbara está inquieta, como se escondesse algo.

Me preocupo com as câmeras filmando isso tudo...

—Bom, hora de ir. Boa noite Lisy. – Niall quebra o silêncio da noite ao se levantar e sair do quarto deixando a porta entreaberta para sairmos.

—Te drogaram, não foi? –pergunto para Bárbara e ela afirma com um movimento de cabeça. —Você tem que ser forte. Mais do que tudo. Não perca e não esqueça seu passado antes de chegar aqui, tudo bem? Não deve ter sido pior do que ser submetida a isso.

Me ajeito ao seu lado na cama.
Ela se senta, reta, assim como eu.

—Eu tenho tanto medo. –ela chora. —Muito medo...

Ela abraça os joelhos e chora.

—Ei, vai ficar bem. Eu vou te ajudar. Eu te prometo.

Coloco a mão em seu ombro e ela me olha com seus olhos azuis. Tão familiares para mim, por algum motivo.

—Você não ia contar para ele, Niall, certo? Você não ia, ia? —ela pergunta.

Penso.
Eu ia. Como eu ia...

—Não. –respondo. —Não podemos confiar em ninguém aqui. Sugiro que faça o mesmo. Também sugiro que tome cuidado com Cásper.

— Cásper? Quem é Cásper? –ela pergunta.

—Espero que você não saiba quem ele é. Não se iluda caso ele apareça para você. Nem Harry. Ninguém. Não se iluda e não acredite em ninguém.

—Mas em você eu posso confiar? –sua voz transmite carência. Necessidade de alguém. Procura por esperança.

—Vou te ajudar. Isso você pode ter certeza. O resto... Bem, o resto vamos ver.

Bárbara me olha confusa.
A sirene toca.
Os clientes já foram.
O trabalho para nós continua.

LOUIS POV'S

(Parte do Louis acontece no réveillon)

Os sons me enlouquecem.
São fracos. Bem longe daqui.
Não gosto deles. Minhas sombras também não.
Elas se irritam e brigam comigo enquanto outras gargalham e imitam os sons dos fogos de artifícios dançando no céu em algum lugar fora daqui.

—Calem... Por favor...

Mas elas não param. Elas não calam.
Faz dias que ela não vem.

Me sinto sufocado.
A tão familiar sensação de taquicardia me toma por inteiro.

Reviro sobre a cama para buscar ar, como se alguma posição que meu corpo parace me proporcionaria mais oxigénio que a anterior.
Meus movimentos também são para tirar o foco das vozes.
Os minutos são curtos, eu sei. Eles só são atirados ao céu por alguns minutos. Eu me lembro de comemorar o ano novo. Mas aqui, como todo ano, parece uma eternidade.

As pessoas dos quartos vizinhos também não ficam contentes com eles.
Choros. Gritos.

Mas tudo se cala por um momento.
A sensação é de vácuo. Pressão.
Um sorriso se desenha em minha mente.

Faz tempo que ela não vem aqui.
Quando me lembro dela, nada mais importa.
O ar me faltou diversas vezes e foram poucos os momentos de sanidade que tive desde a última vez que a vi.

Jesus Cristo... ela é tão bonita. Ela é tão pura. Queria que ela fosse alguém que eu pudesse salvar. Ela não merece estar aqui. Vejo sua bondade e sua lucidez.
Prometi que a salvaria, mas preciso que ela se salve de mim.
Eu preciso me salvar dela, mas a essa altura, isso seria um milagre.

As noites se tornaram  mais difíceis de se passar. Quando as luzes dos corredores se apagam e nenhum vestígio de luz adentra nesse quarto pela fresta da porta é o momento que eu mais me sinto sozinho.

As sombras e castelos que passeiam pelas paredes ou andam até mim não me atormentam mais do que a falta de Lisy.

Eu vou morrer sozinho
Eu não tenho medo de morrer, só fico um pouco assustado pelo que vem depois... Penso nisso agora pois a morte provavelmente seria menos agoniante do que essa esperança e esse calor no meu peito que há muito tempo esteve frio.

O teto cinza me faz imaginar se quando eu morrer eu flutuaria sobre ele.

Me pego com os olhos fechados e me sinto no ar.
Meu corpo leve flutua pelo espaço.
Quando os abro ainda estou na cama.
Minha mente me prega truques.

Meu brilho é muito fraco pra sobrepor toda minha escuridão.
Esse é meu fim. Gostaria de saber o final no meu fim.

Não posso mentir. É uma vida boa quando penso nela.
Penso que se eu tiver ela, eu tenho tudo.

Ela é minha calmaria quando o mundo é guerra, quando o meu mundo está em guerra. A calma que ela tem me acalma, o jeito meigo de me fazer acreditar que no fim as coisas vão dar certo. É impressionante o efeito que ela causa aqui. Mesmo eu sendo essa confusão, ela consegue me acalmar sem nenhum esforço, mesmo estando tão distante de mim, eu sei que, de algum modo, de alguma forma, ela está comigo.

***

—Você está fazendo um ótimo trabalho.

—Eu não brinco em serviço, Cásper.

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