Capítulo 9

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Louis POV's

Todas as noites, todas as noites desse último mês, desde que ela chegou aqui, são seus olhos. São os olhos azuis de Lisy que me fazem ser o que eu acho que seja o meu verdadeiro eu. E eu quero que esse seja meu verdadeiro eu. Quero que eu sinta que sou bom, pelo menos um pouco bom, mesmo que eu não mereça isso. Ela me desperta da escuridão. Ela me faz esquecer que matei meus pais. Eu nunca quis fazer aquilo com eles, mas a minha psiquiatra tinha suspendido meus remédios pela melhora que eu havia apresentado, e ao fazer isso, ela deu, sem perceber, armas para um adolescente bipolar. 

Eu tinha 14 anos quando os matei. Não lembro de nada, não foi minha culpa mas eu sou o culpado. Lembro-me apenas de vê-los já sem vida. Meu pai ao lado de minha mãe na cama, esfaqueado, e eu de joelhos em cima do corpo de minha mãe, da mesma forma. Eu estava sujo, pingava o sangue daqueles que me deram a vida. E eu tirei a vida deles.

Fui mandado pra cá por policiais depois dos exames e relatórios feitos. Tentaram me levar para a boate, mas após eu agredir um homem eles me colocaram aqui. Mereci tudo que eu passei e passo. Não mereço sentir nada por Lisy e nem mereço ser aquele que ocupa seus pensamentos. Sou uma pessoa corrompida. Muitas vezes tentei me tirar a vida, mas não mereço a paz da morte. Eu mereço sofrer. Mereço os choques e sedativos que recebo semanalmente. Mereço passar fome. Mereço o pior dos infernos. 

Tenho medo de machucá-la. Nenhum sentimento a não ser ódio e frieza me ocupavam, até que ela chegou. Tenho medo e isso não é bom. Estava aguentando firme meus últimos dias aqui até que eu pudesse morrer da forma que mereço, ou até que descobrissem a farsa que isso tudo é. Assim eu poderia pedir perdão para minha irmã e voltar para algum inferno. 

Nunca, em 23 anos eu tive tanta vontade de não ser controlado por um ser desconhecido, pelo meu subconsciente obscuro, pelo fantasma que me leva e me traz de um mundo paralelo vez ou outra. Não posso colocar Lisy em perigo. Nunca sei quando eu não sou bom. Nunca sei quando estou fazendo mal para alguém, os resultados vem depois que apago ou quando volto à minha consciência boa, como sempre, tarde demais. 

Quero tê-la. Quero ouvir ela gritar meu nome de dor, mas principalmente, quero tê-la me dizendo que está tudo bem, mesmo não estando. Nunca pensei algo parecido antes. O medo volta. Não... NÃO... isso não é bom.

Estou tremendo. Me Levanto com o auxílio das minhas mãos e começo a bater minha cabeça com força na parede à minha frente. 

Não posso e não mereço ser a luz de alguém, muito menos a esperança. Preciso mostrar para Lisy que não sou bom, mesmo ela despertando a sanidade em mim.

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Save MeWhere stories live. Discover now