Capítulo 58

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Poucas foram as vezes que alguma sombra passou do lado de fora da minha porta. A luz do corredor, sempre acesa, visível pelo espaço do chão até a porta, raramente falhava com a sombra da passagem de alguém.

As primeiras horas que fui deixada sozinha se passaram lentamente.

Minha bochecha encostada no colchão e com o olhar fixo na fresta, mil e uma coisas passavam pela minha cabeça.

Eu estava confusa, com medo por Bárbara e necessitada de explicações.

Tive ânimo e forças para levantar da li apenas após um cochilo ou um sono pesado de horas. Eu não faço ideia. Só fechei os olhos desejando que a latência em minhas têmporas passasse e minha cabeça pudesse estar livre das pulsações.

Meu coração batia no ouvido.
Meu corpo vibrava como fogos dolorosos que explodiam a cada milímetro.
Minha respiração ainda falhava e era audível, mesmo que eu lutasse para silencia-la.
Meu nariz estava congestionado e meu rosto continha lágrimas secas e craqueladas que, a cada movimento que eu fazia, repuxavam a pele adormecida e levemente ardente pelos tapas.

Foi enquanto eu analisava cada coisa minha, minuciosamente, que fechei os olhos e dormi.

Acordei após algum tempo com meu estômago se contorcendo em dor.

Vazio e com fome.

Me obriguei a deitar meu corpo mais uma vez no colchão de Bárbara e tentar dormir para cessar a fome.

Eu não comia desde a noite anterior da minha visita a Louis e eu não sei dizer se foi ontem ou anteontem...

Eu sentia frio e o desejo de vomitar era tão grande que várias vezes me pus de joelhos, inclinada para frente com as minhas mãos em apoio ao chão, forçando o nada que tinha dentro de mim a sair.

A tontura era forte demais e minha boca estava seca.

Eu não podia estar aqui há apenas um dia.

Os tapas não foram ontem.
Minha visita para Louis não foi ontem.
Bárbara não foi levada ontem.
Não podia ser.

Ora! Eu não sou tão fraca que apenas um dia sem comida me deixasse assim.

Vez ou outra eu dormia e acordava pior do que antes.

Eu precisava urinar mas não tinha nada para ser expelido de mim.

Meu ventre doía e eu só precisava de um copo d'água.

Economizei minha voz a cada vez que a vontade de me jogar contra a porta e implorar por um banho ou algo para comer batia em mim mais forte do que os últimos tapas.

A verdade é que eu não entendia o motivo disso.

Ele já teve chances muito piores de me punir assim.

Por que agora?

Talvez a paciência dele estivesse acabando tanto quanto a minha.

Talvez ele apenas queira me descartar.

Será que Bárbara é a nova boneca dele? Será que ele sabe que Harry já a tocou antes?

Harry tocou nela?

É inevitável não lembrar de como ele me olhou e tocou minha perna quando cheguei aqui.

Carne nova no pedaço.

Talvez ele só não me forçou a nada naquele dia por eu já ter dono.

Seu pai.

Mal posso acreditar que me dei para Harry.

Save MeWhere stories live. Discover now