Capítulo 16

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Quando o prato com duas fatias de pães e um copo de café fora entregue por um guarda, eu já estava em pé, mas não esperando pela refeição. Eu estava apenas inquieta.
Meu sonho que se transformou em um pesadelo que ainda me atormentava.
Esse sonho junto com os de minha irmã gritando e o barulho dos três tiros disparados na noite em que perdi tudo o que ainda me restava, me atormentou mais do que os dias passados.
Sexo não é algo que eu gosto de praticar. Minhas experiências sobre o assunto não foram das mais agradáveis. Começando por Cásper que me olha, desde um tempo, com um olhar sujo e malicioso, por minha irmã, que antes de morrer teve a experiência mais dolorosa de toda sua vida, vindo de alguém que ela tanto amava. Me culpo todos os dias pelo que aconteceu com ela. O tempo todo. Eu realmente desejava estar no lugar dela naquela noite.
Depois o homem sujo e bruto com quem eu fui obrigada a dar minha virgindade que tanto conservei.
Niall, por sua vez, me salvou de outras experiências drásticas, mas também não era nada bom manter meus serviços para com ele, afinal, eu fazia tudo aquilo obrigada. Ainda não senti o prazer que tanto é cobiçado.
Na sequência dessas experiências dramáticas e torturantes, meu sonho com Louis só piorava o pavor de fazer tal ato.
Sei muito bem que Louis não é uma pessoa calma. Pelo contrário, sei que eu deveria me sentir intimidada por ele. Sei que deveria sentir medo ou nojo, assim como mantenho sentimentos com os outros trancafiados da falsa clínica.
O problema é que eu me interessei por um problema repleto de problemas. Eu nem imagino o quanto os parâmetros da falta de sanidade de Louis é extenso.
Tenho medo de que o que ele me desperta seja bem maior que apenas uma vontade de protege-lo.

Decido parar de andar paranoicamente de um lado para o outro e pego o prato e o copo que o guarda havia deixado na cadeira ao lado da porta.
Eu apenas levanto os objetos da cadeira e me sento nela para poder comer.
De imediato me lembro de Harry e do pedido que farei para ele. Eu simplesmente não aguento mais essa solidão angustiante.

Trancada no quarto/cela, espero para que alguém venha me buscar para fazer seus trabalhos antes de ir para a boate.
Horas se passam e uma moça me chama para almoçar. Geralmente como sozinha em meu quarto, mas seria diferente naquele dia, aparentemente.
Passeio com um segurança pelos corredores ainda não conhecidos por mim da clínica e paro diante de uma porta. Ele me manda entrar.
Todas as meninas estão sentadas em camas postas paralelamente por todo o cômodo. Elas abrem suas refeições e conversam entre si. Se não fosse pelas olheiras e aparência desgastadas de algumas delas, poderia jurar que eu havia entrado em um quarto de república onde estudantes conversam sobre assuntos aleatórios, e não em uma sala/cela de meninas que precisam de tratamento para distúrbios psíquicos e que são obrigadas a oferecer seus corpos para nutrir o ego e o bolso dos que comandam isso aqui.
Liam logo entra no quarto também.
Eu ainda estou em pé a alguns passos da porta.
-Lisy, certo? Você provavelmente se lembra de mim e se não se lembrar eu vou reforçar quem eu sou. Sente-se em algum lugar. -ele diz com olhos cerrados olhando diretamente para mim.
Ele é um homem bonito. Barba por fazer, inteiro castanho: olhos, cabelos e pele. Tem um porte forte.
Me sento na beirada da cama mais próxima. Coloco as mãos entre minhas pernas para disfarçar a timidez que estranhamente se apossou de mim. Talvez seja porque nunca estive com as outras meninas antes, e não as vejo desde dois dias atrás, quando aconteceu tudo aquilo entre eu e Amy.
—Como vocês devem se lembrar, são poucas aqui que tem como quadro clínico a falta de memórias –ele revira os olhos —não estou aqui para brincadeiras. Qualquer gracinha que saia do cabível para vocês, serão punidas, e a próxima vez será de forma lenta e dolorosa... A maioria de vocês sabem o quanto meu Zayn gosta de brincar com palhacinhas –ele sorri. E o silêncio toma conta da sala. O único barulho é de algum paciente gritando... São gritos de piedade. —voltem a comer, queremos vocês bem alimentadas! Ah, e Elizabeth pediu para eu reforçar o pedido dela: a deixem orgulhosa.
Liam tira as mãos que estavam o tempo todo em suas costas para cruzar os braços. Ele olha todo o cômodo, uma a uma. Sorri de lado sem mostrar os dentes e sai. Junto dele vai todos os seguranças. Estou sozinha com as outras garotas.
Uma ruiva sai do fundo do quarto carregando uma marmita. Ela a trás até mim.
—Lisy, essa é sua. Pediram para eu guardar para a pessoa que chegasse, deve ser você. Ainda não comeu, certo? –ela diz.
Depois de Amy não me sinto segura de socializar com nenhumas dessas garotas.
—Lisy? –ela abana a mão livre em frente ao meu rosto.
–Oi... Desculpa eu..eu –estendo a mão e pego a marmita. Não sei se agradeço.
Uma outra garota, Mariana, se não me engano, coloca a mão em meu ombro por trás de mim. Me assusto com o gesto.
—Olha, não é porque você teve aquela treta com a Amy que todas aqui vamos aprontar com você –a voz dela me lembrava as populares de meu colégio. É engraçada. Eu sorrio ao lembrar.
—Mariana? –pergunto
Ela assente com a cabeça.
—Marê! Me chame assim. Desde que cheguei aqui não sou mais a Mariana. Acho que você pode entender. –sua voz está menos aguda agora.
Olho para ela com jeito de quem a entende. Eu realmente a entendo.
Na cama do lado direito, está tendo uma leve discussão e duas garota seguram Carla, uma morena bem magrinha. Ela me lança um olhar de aviso e volta a postura desleixada. Logo as duas garotas que estão na cama com ela a soltam. Carla cruza os braços e revira os olhos.
Como e logo passo o resto do dia com as garotas. Corrigindo: passo o resto do dia olhando as garotas.
Lapsos do sonho ainda me atormentava meu corpo ainda doía.

Save MeWhere stories live. Discover now