Capítulo 56

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Meu riso se misturou aos de Bárbara quando fomos jogadas em nosso quarto. Nem o tropeço e a queda seguinte, devido a brutalidade com que nos deixaram aqui, foi o suficiente para cessar minha gargalhada.

Babi agora chorava, mas era de tanto rir.

—Por que você foi comigo, sua louca? -pergunto, me levantando do chão enquanto ela se arrastava para seu colchão.

—Isso era pra ser uma clínica psiquiátrica, certo? Não faz mal fazer algumas loucuras. Temos que honrar o nome desse lugar... –Ela diz a última frase ironicamente. —Somos loucos e não prostitutas escravizadas.

Ela olha para as mãos em seu colo e descasca o esmalte vermelho de seu dedão.

—O que você sentiu... hm... hoje, Babi?
–pergunto me referindo ao nosso trabalho na boate.

—Eu... só tentei não decepcionar. Não quero ficar mas mãos de homens diferentes em cada noite que vamos pra lá. Se era nós duas que Niall queria, foi o que eu dei.

—Você fez bem. –ela corou com a minha resposta.

Deito em minha cama ainda sentindo a adrenalina.

Descanso minhas mãos sobre minha testa e olho para o teto que um dia foi branco, não deixando de me lembrar de como foi ver o céu depois de muito tempo, e o motivo.

—Bárbara? –a chamo.

—Hm?

—Qual é o nome daquela constelação que você disse que era a preferida do seu irmão?

—Ele que criou o nome. Na verdade são só algumas estrelas próximas que ele diz ser uma constelação. Chama Babi, não é pra rir. –ela mesmo dá uma pequena risada nasalada. —Acho que eu tinha uns cinco anos. Mas ainda me lembro como era olhar as estrelas com ele. Quando ele foi embora e minha mãe foi internada e meu pai sumiu no mundo, a única coisa que eu tinha para me lembrar dele era o telescópio. É triste pensar que nem ele e nem meu pai voltaram.

—Eu e meu pai também olhávamos as estrelas. Mas não lembro de muita coisa, foi há dez anos a última vez.

Bárbara não me responde. Viro minha cabeça para seu lado após alguns segundos de silêncio e seus olhos piscam lentamente.

Choro baixo ao lembrar do meu pai.

Isso aqui não pode demorar muito mais.
Não.
Definitivamente não. 

Viro para a parede forço minha visão para encarar os poros de tinta no escuro, até que eu pegue no sono.

×××

Acordo sentindo um arrepio singelo pelo meu corpo.

Sonhei com meus pais.

Me sento na cama e me abraço.
Meus joelhos em meu campo de visão começam a ficar embaçados e a necessidade de colocar para dora a angústia que tomou conta de mim, me queima.

—Vocês estavam no meu sonho hoje, exceto que era diferente desta vez.
–digo para o nada, em um sussurro para não acordar Bárbara. —Nele, eu não chorava mais na falta de suas presenças. Vocês apenas me disseram que estava tudo bem deixar ir, sabe? Esse sentimento de tristeza? E assim eu acenti. Vocês estavam felizes por mim, por minha luta, e o momento foi surreal. Foi o encerramento que eu precisava. Uma parte de mim sempre irá ama-los e, como prometido, eu me vingarei. Mas farei isso por mim, pai e mãe, vocês já encontraram a paz, eu tenho certeza, mas agora preciso trocar tudo que me deixa mais fraca, como a tristeza e a saudade, para seguir em frente. Obrigado por tudo.

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