Do Outro Lado| [ reescrevendo ]

37. O funeral

O corpo de Katherine parecia ter perdido todas as forças. Aqueles enjoos não eram da maldição e sim da gravidez. Um filho que ela nunca imaginou que teria e que acabou de mata-lo.

Era uma assassina.

Seu corpo amolecido encostou se na parede e foi caindo aos poucos, até que enrolou os braços nas pernas e começou a chorar. Sentia-se suja por ter feito aquilo. Nunca imaginou que mataria o próprio filho. Mesmo não sabendo de sua existência, a culpa por ele estar morto era toda dela.

- Ele não merecia. – ela disse entre soluços. A dor era grande e parecia não ter fim.

Sua mão se agachou para ficar de seu tamanho. Sentiu as mãos dela passeando por seus cabelos embaralhados. Ouviu o choro de sua mãe, que logo em seguida a abraçou calorosamente.

De uma maneira desconhecida para ela, sentiu como se tivesse encontrado um tipo de amor incondicional que sempre almejou. Um amor materno que Maris Aurora nunca fora capaz de lhe dar corretamente.

Um abraço podia curar feridas, era o que diziam. Katherine acabou de comprovar. Doía, mas de uma maneira amenizada. Podia até mesmo o seu poder tomando conta de seu corpo.

- Eu sou uma pessoa horrível. – ela disse olhando fixamente para o chão. As lágrimas estavam secando em seu rosto e seus olhos estavam avermelhados. Os soluços tinha se cessado, mas a dor de alguma maneira mostrava-se que iria ficar ali permanentemente.

- Você não sabia. – ela disse calmamente. Dava para conhecer o rastro de tristeza por sua voz.

Kate ficou em silêncio.

Pensou em Thomas. Ele nunca a perdoaria por ter matado um filho deles.

- Meu bebê... – Katherine disse tocando a barriga e logo em seguida uma onda de lágrimas veio ao seu encontro. – Eu quero morrer!

- Filha, acalme-se, por favor.

- Como eu vou me acalmar?! Eu sou uma pessoa horrível! –ela disse. Suas mãos tremiam freneticamente e sua mente parecia não funcionar direito.

- Ele não iria querer isso.

- Como você pode achar que ele não iria querer isso? Você não sabe de nada!

- Eu sei a dor de perder um filho.

- Mas você não o matou!

- Eu a deixei ir. – ela abaixou a cabeça. – Foi a pior decisão da minha vida.

Katherine sentou-se no chão, distante de sua mãe. Ela engoliu em seco.

- Vou vencer pelo meu filho. – ela disse sem acreditar naquelas palavras. Pareciam frias como gelo.

Sua mão apenas a olhou.

- Seu funeral está acontecendo agora.

- O quê?

- Seu funeral. Se quiser ir, será a última vez que verá sua amiga e Maris Aurora.

Ela assentiu. Uma luz surgiu na mão de sua mãe que com a mesma, abriu um portal arredondado. Ambas entraram ao mesmo tempo no portal e foram transportadas para um cemitério simples com várias arvores.

As duas estavam distantes de um pequeno grupo de pessoas vestidas de preto. Katherine sabia que era o seu enterro.

Viu que estava vestida de um paletó preto e os cabelos ruivos em um coque frouxo. A mãe estava com o mesmo visual, porém usava uma meia calça roxa.

- Você tem certeza de que quer fazer isso?

Katherine assentiu. A cada passo que dava em direção a seu caixão, mais seu coração doía, pois seus pensamentos a levavam para o filho. Respirando fundo, ela se aproximou.