A ideia de a Letícia ver a Clarinha estava me corroendo há dias. A sensação é a de um buraco no estômago, uma ânsia só em pensar nela perto da minha bebê.Depois de tudo o que fez, Letícia não deveria poder ter esse direito, se seu plano tivesse dado certo a Clara nem estaria com a gente hoje, só Deus sabe o que poderia ter acontecido com ela.
E o pior de tudo é que Letícia não estaria abatida por isso.
— Acho melhor eu ficar aqui — insisti pela décima primeira vez, com uns dez pés atrás com a situação.
— Por favor amor, preciso de você, vamos passar por isso juntos — Emerson levou nossas mãos entrelaçadas até os lábios e beijou o dorso da minha mão. — Vai dar tudo certo — a convicção na sua voz me acalmou, mas bem pouco.
— Não é querendo ser pessimista, mas depois do que aconteceu... — suspirei ajustando a Clara no meu colo.
Nós já estávamos no Ibirapuera, o doutor levava o carrinho da bebê com a mão livre enquanto eu a levava no colo, já que ela insistia em andar agarrada a mim.
— Eu sei — ele suspirou parando para me olhar nos olhos. — Prometo que esse pesadelo já está acabando, não vai demorar para sermos só nós — ele conseguiu cobrir nós duas com seus braços fortes em nosso entorno, um ato que deixou a Clarinha ainda mais agitada, dando impulsos de alegria. — Eu te amo demais — falou baixinho me olhando nos olhos enquanto depositava um beijo na cabecinha da filha.
— Está falando isso para mim ou para a Clara? — perguntei saindo do seu abraço, deixando-nos livre para que eu pudesse ajustar a bebê no meu colo novamente, para que não corresse o risco dela cair.
— As três — comentou voltando a andar, dessa vez com ambas as mãos levando o carrinho.
— Que três Emerson? — questionei ainda parada, aproveitando para fazer pose com uma mão na cintura.
Sem se abalar ele inclinou a cabeça para nos olhar e sorriu sugestivo para minha barriga, mordendo os lábios de forma nada despretensiosa. Dei alguns passos rápidos para conseguir acompanhá-lo e assim que fizemos a curva já conseguimos ver a Letícia sentada em um banco junto com a tia Su.
Tentei vestir a máscara da indiferença, mas tenho certeza que falhei ao perceber o quanto ela estava diferente fisicamente. Seus cabelos castanhos estavam curtos e ralos, seu rosto bem arredondado e ela aparentava ter engordado bem mais que na gravidez.
— Oi — ela se levantou quando estávamos há apenas alguns passos de distância.
Seus olhos estavam cravados na sua filha e não foram desviados dela até que estivéssemos frente a frente, então ela me lançou um meio sorriso antes de desviar para o Emerson.
— Oi Let — percebi que o Emerson não falaria nada então me prontifiquei a cumprimentar.
— Não vai falar comigo?
Encarei o doutor que estava um pouco atrás de mim, suas mãos no bolso, a postura rígida e intimidante, sua feição inabalável, mas apesar da pose eu já o conhecia bem o suficiente para saber que ele não estava confortável.
— Não tenho nada a dizer — o doutor se limitou a responder.
— Como não? Esse tempo todo longe de mim... — Letícia ia começar com alguma encenação, mas a tia chamou sua atenção juntando suas mãos, entendi como um sinal de calma vindo da sua mãe.
Se o tratamento estava indo bem como dizia, não faria bem se alterar.
— Filha, viemos aqui pela Clara, se lembra? — tia Su falou de maneira leve, como a de quem falava com uma criança, só então Letícia desviou a atenção do doutor para a filha que permanecia atenta no meu colo.
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Ardentemente Sua
RomantikaNa mesma proporção que o sexo te dá tudo, você não tem nada. Praticamente como na música da Rita Lee, Angel se viu em meio a uma selva de epiléticos, envolta no antro da putaria e prazer ilimitado, mas tão sozinha como nunca esteve. Apavorada por...