Capítulo 12

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Não posso dizer que vi quando Otávio foi embora, mas quando abri os olhos depois de uma breve cochilada era somente Emerson quem estava comigo.

Sem dizer uma palavra sequer ele me carregou no colo e saímos do quarto de hóspedes em direção ao dele. O doutor me deixou sentada sobre a pia do banheiro e ligou o chuveiro sentindo a temperatura da água, somente quando achou que estava no ponto certo foi que me pegou novamente nos seus braços e enfim deixou que eu tocasse meus pés no chão, sentindo o frio do piso e o quente da água sobre meus cabelos.

— Desculpa.

Foi a primeira palavra que ele disse, em tom sussurrado enquanto seus dedos acariciavam minha cabeça formando espumas de xampu.

— Pelo o que? — perguntei de olhos fechados, aproveitando o carinho no lugar que ele tanto judiava.

— Por toda essa merda — suspirou cessando a massagem, deixando a água levar todo o produto.

— A única coisa que podemos fazer para melhorar é parar com isso — sussurrei no mesmo tom de voz que ele.

Era uma conversa sussurrada no banheiro como se alguém pudesse ouvir.

Como se limitar o tom de voz fosse o suficiente para que a realidade não gritasse com a gente.

— Não sei se consigo — respondeu sincero, virou meu corpo para ficar de frente para o seu e olhou direto nos meus olhos. — Na verdade sei que não consigo.

— A Letícia...

— Deixa que eu me viro com ela, sento e converso, conto parcialmente os fatos, ela não tem muita escolha — Emerson tocou cada uma das minhas bochechas, mais carinhoso do que eu estava acostumada a lidar.

— Meia verdade não é uma verdade.

— Mas já é mais do que uma mentira — ele encostou sua testa na minha e fechou os olhos, fazendo com que a água quente tivesse que abrir caminho entre nós para escorrer.

— Essa é a melhor opção? — questionei com o peito apertado.

A pessoa com quem compartilhei anos de moradia e confidências não se importaria, mas aquela que estava grávida eu já não tinha tanta certeza.

— A única que temos agora. Não consigo ficar longe de você, por favor para de me torturar — gemi frustrada.

Eu conseguia lidar com o Emerson Gupper; doutor veterinário mulherengo, safado e que não leva fodas para casa, mas com o Gupper extremamente sincero, carinhoso e romântico... Eu não sabia nem como respirar perto dele.

— Preciso pensar — fui sincera, qualquer coisa que eu concordasse agora seria loucura.

Seria loucura contar alguma coisa para Letícia, na atual fase da sua vida isso poderia acarretar muitos mais problemas para nós do que orgasmos.

— Angel eu...

— Para um pouco Emerson — pedi afastando-o com uma mão no peito, deixando a água de lado e saindo do box do banheiro. — Você me sufoca, me tira do eixo — confessei pegando uma toalha que estava pendurada.

— É recíproco — resmungou desligando o chuveiro, marchando para fora do banheiro sem se importar em molhar todo o quarto.

— Mas eu não estou disposta a perder uma amizade de anos por causa disso, nem sabemos se daria certo — andei atrás dele até o closet, onde ele pegou uma toalha limpa para se secar.

— Faremos dar certo — afirmou enrolando a toalha na cintura.

— Se tivesse que escolher entre eu e Otávio, quem você escolheria? — bingo, vi a hesitação no seu olhar. — Exatamente, sei que um relacionamento é uma coisa incerta e que pode durar dias ou anos, mas de verdade, vamos dar um tempo para ver se é realmente o certo — pedi me aproximando dele, tocando sua barba, perdendo meus dedos nos fios molhados.

Ardentemente SuaWhere stories live. Discover now