Capítulo 41

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É muito estranha a sensação, não consigo nem definir.

Me lembro vagamente das coisas. Lembro do parto, de ver Stella pela primeira vez, mas não me lembro de ver a Sara. Lembro do Emerson apertando minha mão, preocupado entre prestar atenção em mim ou no médico. Lembro das vozes, o doutor gritando com as enfermeiras, alguma coisa sobre perca de sangue e sobre eu não aguentar.

Em certo momento até pensei que não iria mesmo, se eu tivesse que escolher entre me salvar ou salvar uma das minhas filhas é lógico que ela seria a prioridade, só que não foi o caso, eles conseguiram tirar a Sara e então a questão não era mais eu ou ela e sim como que vou deixar minhas filhas crescerem sem mãe.

Eu preciso ser forte.

Senti uma tontura e agora estou aqui, brigando com as minhas pálpebras para abrirem enquanto ouço o ronco suave que sei que vem do meu noivo.

Tentei me mexer e quando percebi que meus dedos responderam forcei meus olhos a abrirem novamente, e dessa vez obtive êxito. Não enxerguei muita coisa, minha vista bem embaçada e a garganta seca, então voltei a fechar os olhos e o sono me levou.

Não sei dizer quanto tempo apaguei, mas já não ouvia o ronco do Emerson e achei que ele nem deveria estar mais ali, mas então o ouvi.

— Você é muito esperta meu amor, vamos ter muito trabalho com você — pela voz mansa deduzi que estava falando com uma das bebês. — A mamãe logo vai acordar e você vai poder tomar direto da fonte Sara, mas agora você tem que tomar tudo.

Abri os olhos e a vista continuava embaçada, mas diferente da outra vez eu não deixei que o sono me levasse.

— Filha — forcei minha voz, mas não tenho certeza que ficou audível ou compreensível.

— Você é tão linda — continuava o ouvindo conversar com nossa filha e tudo o que eu queria era poder vê-la e tê-la nos meus braços pela primeira vez.

— Sara — forcei novamente já que não me ouviram na primeira vez.

— Acho que o seu tio tem razão e o papai está ficando louco — o ouvi e me preparei para gritar.

— Amor — forcei a voz, dei tudo de mim, meus olhos embaçados e a porra da luz só piorando minha visão.

— Angel? — ouvi sua voz surpresa e tive a certeza de que pelo menos dessa vez ele me ouviu.

Virei o rosto procurando pelo meu noivo, a visão melhorando aos poucos, então finalmente senti seus dedos entrelaçando-se aos meus e a sensação de estar em casa preencheu meu coração.

— Nossas filhas — tentei o mesmo tom de antes e percebi que meu noivo estava chorando quando os soluços dele ecoou pelo quarto.

— Amor, puta que pariu, você voltou pra mim — o senti passar os braços pelos meus ombros e seu rosto se esconder no meu pescoço, ele me cheirou e saiu distribuindo beijos, me fazendo sorrir mesmo sem conseguir associar direito. — Eu senti tanto a sua falta, fiquei com tanto medo, eu te amo tanto que daria minha vida por você.

Ele falava entre os soluços do seu choro, as lágrimas quentes pingando por onde passava, seus lábios vindo logo em seguida. Só consegui vê-lo de verdade quando suas mãos pousaram cada uma em um lado do meu rosto e seus olhos encontraram os meus.

— Água — pedi percebendo que seria inútil tentar conversar agora.

Emerson saiu de perto de mim e voltou pouco tempo depois colocando o canudo na minha boca.

— Devagar amor, na real eu nem sei se posso te dar água, melhor chamar o doutor — ele foi se afastando, mas consegui segurar no seu punho, impedindo-o de se afastar.

Ardentemente SuaDonde viven las historias. Descúbrelo ahora