Capítulo 6

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Parecia tudo normal, o despertador tocou como de costume as oito horas da manhã, meu primeiro atendimento seria só depois do almoço e meus planos antes disso era só ir até o mercado para comprar as coisas e fazer minhas marmitas.

Mas minha cabeça parecia pesar quinhentos quilos, a culpa colocando uma pedra a mais na balança da amizade, mostrando que há muito tempo está desequilibrada.

Pendendo pro meu lado.

A cada segundo mais perto de estourar.

Depois do meu banho estava disposta a conversar com Letícia, contar para ela que dormi – mais de uma vez – com o cara que ela ama e que se quisesse eu me afastaria tanto dele quanto dela.

Ciente de que perder sua amizade era uma possível consequência.

Enquanto passava meu café mandei uma mensagem para ela perguntando se já estava no trabalho, sabia que as oito e quarenta ela já estava longe, então teria até de noite para me preparar. Eu não estava preparada quando ela me respondeu.

"Estou em casa amiga, não sei o que fazer, preciso da sua ajuda!", suspirei fundo tomando um gole grande do café.

Vivi muitos anos longe dela, mas estávamos em estados diferentes, a muitos quilômetros de distância e mesmo assim conversávamos praticamente toda semana. Não sei como seria viver em São Paulo longe dela, sem essas mensagens de que precisa da minha ajuda pra saber se a roupa estava boa ou não.

Até suas futilidades me fazem feliz.

A coragem foi embora junto com os goles de café, minhas mãos tremiam quando abri a porta da minha casa e entrei no elevador, uma adrenalina percorria meu corpo e sabia que a qualquer momento minhas pernas falhariam.

Melhor esperar mais um pouco, ela não precisa saber agora né.

Meu subconsciente estava ali querendo me pregar uma peça, a covardia querendo crescer no meu corpo, mas isso não era de mim, precisava ser sincera com ela para poder ser sincera comigo.

Nunca foi minha intenção machucá-la ou magoá-la, então não tenho motivos para viver com essa mentira e deixar que a angustia e o medo falem mais alto. 

Bati na porta e chamei duas vezes por Letícia antes de girar a maçaneta e comprovar que estava aberto.

Já não me sentia preparada quando entrei, menos ainda quando encontrei minha amiga de pijama aos prantos, sentada com as pernas no sofá, encolhida com a cabeça apoiada nos joelhos e as mãos abraçando as pernas.

— Let — chamei fechando a porta com cuidado, sem saber ao certo como deveria agir.

Dei alguns passos ficando atrás do sofá de frente ao que ela estava e quando levantou a cabeça, com os olhos vermelhos, rosto completamente molhado, eu percebi que era algo muito mais sério do que se ela estava gorda ou não na calça mom.

Sem dizer nada, apontou para a mesa de centro e mais lágrimas saltaram dos seus olhos.

Desviei meu olhar dela para ver o que queria me mostrar, mas por Deus que está no céu, eu não estava preparada.

Toda a força que tive para fazer minhas pernas trêmulas chegar até aqui, se foi. Apoiei minhas mãos no sofá apertando o tecido o mais forte que pude e engoli em seco quando a saliva não veio.

Tinha dois testes de gravidez ali.

Não precisava ver de perto para saber o resultado deles.

Nem perguntar de quem era já que meu coração estraçalhado estava me contando.

— Angel, o que eu vou fazer — sua voz tremulou e obriguei meus pés a andarem até o sofá da minha amiga, sentando-me ao seu lado e deixando com que tombasse a cabeça nas minhas pernas.

Ardentemente SuaWhere stories live. Discover now