Capítulo 25

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Otávio e Emerson ajudaram Letícia e a tia a levarem as malas para o carro, Let chorou muito e parecia realmente triste em ter que deixar Clarinha. Se fosse ontem eu até acreditaria nesse teatro, mas depois do que aconteceu tenho a certeza de que ela está mais triste em deixar o amado sozinho do que qualquer sentimento que possa ter pela filha.

Acredito que nem ódio ela tem pela Clara, seus olhos não demonstravam nada, nem bom e nem ruim, na verdade a filha foi a vantagem que ela teve com o Gupper por meses e agora ela tinha perdido.

Quando Let foi embora com a mãe — depois de me fazer prometer mais cinquenta vezes que eu iria cuidar da Clarinha —, parecia que um peso enorme tinha ido junto.

Céus! Ela ia abandonar a filha, literalmente jogar fora como se fosse um sofá velho que não gostava mais. Ali ficou nítido o quanto ela sempre tratou toda a situação como algo cômodo e sem um pingo de amor.

Olhando para a bebezinha; frágil, pequena e serena, emitindo um som baixinho pelo sono profundo em que se encontrava, nos meus braços — eu nem precisei pensar para sentir todo esse amor que me envolvia.

Um amor diferente, nada comparado ao que sinto por Emerson ou já senti por alguém. Era algo natural, nada influenciado pelos sentimentos que eu sentia pelo pai dela, nada forçado como Letícia tentava demonstrar. Eu não precisava externar para ninguém o que estava sentindo, é algo meu e dela, como se ela se acalmasse comigo e passasse para mim toda a leveza da vida, a simplicidade do seu respirar, a fascinação em admirar o simples, tentando entender o que aquele novo mundo era.

Clara é um sopro de vida.

Um soprinho que trouxe uma paz inexplicável enquanto estava nos meus braços.

Longe de qualquer perigo, longe da instabilidade da sua mãe e pertinho do meu coração.

Emerson entrou com Otávio e trancou a porta do apartamento da Letícia, encostando a cabeça na mesma, respirando aliviado por toda aquela merda que aconteceu.

— Já acabou irmão — o moreno o tranquilizou batendo a palma da mão em suas costas.

O doutor apenas assentiu, o abraçou de lado tocando apenas um ombro no outro, como um toque intimo deles que eu já havia presenciado antes. Ele veio até nós e me deu um beijo na testa antes de pegar a filha e fazer o mesmo.

— Meu tesouro — sussurrou balançando-a lentamente, mesmo ela estando capotada.

— Eu não queria ficar aqui — assumi ponderando as opções. — Podemos levar as coisas para o meu apartamento? — pedi baixinho para não acordar a neném.

Emerson apenas me encarou e levou a Clara até o berço para deixá-la confortável no seu soninho de princesa.

— Sei que prometeu para a Letícia, mas eu cuido dela, tem um quartinho todo equipado na minha casa e Victor pode ir tocando a clínica enquanto isso — o doutor disse assim que voltou do quarto.

— Gostaria de cuidar dela também — afirmei encarando-o de pé a minha frente. — A sua casa vai ser um bom lugar para criar a Clara, mas ela ainda é muito pequena e lá é muito longe do hospital, aqui é apenas quinze minutos do pronto socorro.

— Ela tem razão — Otávio se intrometeu me apoiando.

— Mas você tem o seu trabalho e... — Emerson tentou contrapor, mas o cortei.

— Eu faço minha agenda, trabalhei muitos anos apenas home office, posso ajustar os pacientes, podemos revezar nossos atendimentos para conseguirmos cuidar da Clarinha do nosso jeito — afirmei colocando o cérebro para pensar. — Vai ser muito mais fácil se fizermos juntos.

Ardentemente SuaWhere stories live. Discover now