Capítulo 17

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Eu andava meio área ultimamente, me questionando constantemente sobre como podemos passar anos com alguém e não conhecer a pessoa de verdade.

Emerson dividia comigo o que se passava nas sessões de terapia, há algumas sessões Letícia vem conversando sobre mim, coisas pessoais, cotidianas, detalhes que se eu parasse para pensar como estou fazendo agora, eu quem iria enlouquecer.

A psicóloga pediu uma consulta separada com cada um deles e o doutor me confidenciou sobre o diagnóstico de um transtorno de personalidade borderline, a recomendação normal devido o grau de instabilidade seria entrar com alguns medicamentos, mas devido a situação dela a psicóloga gostaria de aguardar até o final da gestação para iniciar um tratamento.

Não vou mentir, eu estou muito chocada!

Emerson conversou com a doutora Ferreira e pediu para que ela fizesse uma sessão comigo para me inteirar do assunto, mas a mesma não achou prudente e pediu somente uma conversa com a mãe da Letícia.

Para mim isso já estava ótimo, mandei mensagem para a tia Su e marcamos de nos encontrar na casa dela para conversarmos sobre a filha.

— Não sei nem o que te falar Angel, ainda estou sem acreditar em tudo o que está acontecendo — a Su falou após o jantar, estávamos na sua sala de estar tomando uma taça de espumante. — Não reconheço minha filha, ela está instável e coloca meu neto em risco, é muito difícil — engoli o bolo que estava preso na minha garganta e evitei olhar nos seus olhos, não estava acostumada a ver alguém forte como ela tão fragilizada.

— Emerson me contou sobre a síndrome de borderline, procurei um pouco sobre isso na internet, mas não sei nem o que pensar — confessei respirando fundo.

A casa estava com um clima pesado, a tia Su tinha pequenas olheiras abaixo dos olhos e aparentava ter perdido um pouco de peso desde a última vez que a vi.

— A psicóloga me explicou que pode ser genético ou neurológico, que possivelmente ela sempre apresentou o quadro, mas acabou se agravando através de algum gatilho — explicou bebendo um gole do espumante. — A doutora disse que pelo quadro inicial ela se classifica com borderline invisível, onde a minha filha consegue manter uma vida normal em ambientes como o trabalho, mas fica instável se tratando de relacionamentos.

Fiquei sem reação por algum tempo, Letícia sempre foi a sociável entre nós duas, ela sempre foi rodeada de amigos dos mais diversos estilos, nunca teve preconceito ou qualquer tipo de antipatia por alguém.

Não faz sentido. Realmente o mundo está de cabeça para baixo.

— O gatilho dela seria o Emerson? — perguntei tentando encaixar as peças.

— Pelo o que entendi está ligado a você e consequentemente a ele. A senhora Ferreira acha que ela não sabe lidar com suas emoções afetivas e que possivelmente ela se via espelhada em você de algum modo, como um apoio de sustentação — se eu já estava de queixo caído, agora ele estava no chão. — Quando você conheceu o Emerson e mudou de alguma forma, ela se viu perdida novamente e agora fixou a ideia de que o Emerson pode ajudar ela também, Let o enxerga como esse apoio.

— Então eu devo ficar perto dela ou não?

— A doutora acha que se afastar agora é pior, ainda mais que ela comenta muito sobre você nas sessões.

— Você acha que ela pode me ferir, se ferir ou ferir o bebê? — angustiada era pouco para definir como estava me sentindo.

— Até agora não apresentou sintomas de automutilação ou suicidas, mas não é descartada a hipótese — quando terminou de falar as lágrimas já escorriam desgovernadas dos seus olhos.

Ardentemente SuaWhere stories live. Discover now