Capítulo 32

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Hoje é um dia especial.

Emerson está fazendo quarenta e dois anos e parece que está conservado em formol desde os trinta.

Há anos esse é o dia especial dele, mas dessa vez será nosso dia especial.

Estamos perto do natal, na semana passada ficamos o domingo todo enfeitando o apartamento junto com a Clara, que ajudava com a desordem das coisas enquanto tocava música natalina.

Ela já andava por tudo e por isso conversei com o doutor sobre uma babá, estamos postergando há um tempo, mas já está mais do que na hora. Aceitei isso e acabei cedendo meu escritório para outro nutricionista do programa do João, voltando a atender somente de forma online e com horário reduzido.

O Gupper tentou não demonstrar o quanto ficou feliz com a notícia, mas era evidente enquanto me fodia sussurrando que em breve deixaria a clínica e poderíamos nos mudar.

Minha ideia sobre o aniversário era comemorar somente nós três, mas Otávio quase me bateu quando falei que não teria comemoração e ainda ameaçou fazer a cabeça do Emerson caso eu tentasse "tirar o homem dele".

Então deixei que ele cuidasse da festa, convidando os amigos do doutor, já aproveitando e deixando que tomasse conta da parte do buffet e bebidas. Conhecendo bem o Otho tenho certeza que ele só pensaria na bebida, por isso frisei bem que novamente as bolas dele estariam em risco se a minha filha passasse fome.

Ficou combinado de a festa ser a tarde, lá na casa do doutor e eu deixaria a nossa comemoração em família para a noite, somente nós quatro.

E o presente, claro.

— Não deveria ter deixado tudo nas mãos do meu primo, capaz de ter até stripper na festa — o doutor comentou no carro, preocupado quando contei que tudo seria por conta do padrinho da Clara.

— Ele não seria louco, sabe que vai ter crianças lá — eu estava no banco de trás ao lado da nossa bebê, mas conseguia manter o contato visual com o doutor através do retrovisor.

Aproveitei e ajustei o bracinho da Clarinha para ficar confortável, ela estava na cadeirinha tirando um cochilo.

— Eu não boto minha mão no fogo — ele deu uma risada e levantou a sobrancelha para mim. — Caso aconteça, eu não tenho culpa.

— Continua aí tirando sarro que eu acabo com a sua graça — ameacei revirando os olhos.

Não demoramos para chegar na sua casa, a festa já tinha começado há uma hora e tinha somente uns trinta adultos e umas sete crianças.

— Eu disse que podia confiar no Otávio — sussurrei depois de cumprimentarmos todos os convidados.

— Ele está amadurecendo — concordou pegando a Clarinha que pedia colo, ela ainda fica intimidada com as crianças.

— Quando eu conheci seu primo ele estava com o irmão, vocês não conversam? — perguntei reparando que nenhum dos dois tocavam nesse assunto.

— Só quando ele está separado da esposa — comentou enchendo a mamadeira com suco para a Clara. — O Evandro só tem vida social quando ela termina com ele, aí ele se lembra que os amigos e o irmão existem, mas não demora uma semana e voltam, aí a Patrícia não deixa nem o coitado ir para a academia sozinho.

— Deus me livre.

— Pois é, acho que por isso o Otho foge de qualquer relacionamento, não teve bons exemplos e morre de medo de perder a sua liberdade.

Pelo o que conheço do Otávio não consigo imagina-lo em um relacionamento como o do irmão.

— Ninguém merece esse tipo de prisão, se algum dia eu fizer algo parecido... — como de costume o doutor interrompeu minha linha de raciocínio selando nossos lábios.

Ardentemente SuaWhere stories live. Discover now