'' Ou se morre como herói, ou vive-se o bastante para se tornar o vilão. ''
-Batman
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O grito de Edward ecoa por todo o local. Thomas e Kate se levantam subitamente e correm para a cabana escura e silenciosa. O rangido da madeira apodrecida irritava Katherine, mas o que mais a incomodava era o barulho das aranhas que vagavam pelas paredes com suas patas incessantes.
Mais um passo.
Mais um rangido.
Avistou uma escada e mesmo apreensiva, Kate olhou para Thomas em busca de sua orientação. Ele acenou com a cabeça e ambos seguiram caminho tortuoso.
- Andem logo! –Edward gritou do andar de cima da cabana. Sua voz estava trêmula, assustada.
Os dois apressaram o passo e encontraram uma cena que nunca iriam se esquecer.
Hemerty estava no chão com as costas ensanguentas e sem as suas asas de fada. Seu rosto estava sem cor e os olhos brancos.
- E- ela me ajudou... – Katherine gaguejou. Não conseguia formular alguma palavra diante do corpo morte de uma pessoa que lhe ajudara.
- Acalme-se. Suas mãos estão tremendo demais. – Edward disse cautelosamente.
- Como posso ficar calma vendo o estado da situação? – ela berra. Ambos perderam a cor e ficaram paralisados sem saber o que dizer.
De repente, o corpo de Hemerty se ilumina e começa a flutuar, até que é sugada completamente pelo céu acinzentado, atravessando o telhado.
- O que acabou de acontecer? – Kate perguntou confusa, atordoada e triste.
- Ela subiu para o céu. Seu corpo vai ser selecionado pelos anjos e logo se deteriorará. Toda a sua trajetória por Mariland, ficará guardada para que logo ela seja honrada pelas fadas. – Thomas disse.
Um silêncio se instalou no ambiente. Edward olhava fixamente para o chão, onde Hemerty estava segundos antes. Thomas olhou as duas luas pela janela e Katherine andava de um lado para o outro sem saber o que fazer.
- Vamos embora. – ela diz, por fim.
Eles concordam e seguem em frente.
- Como você está Thomas? – ela pergunta.
- Estou melhor. Já posso andar, porém meu corpo está em um cansaço imenso. Sinto que irei dormir por três dias.
- Os manipuladores sugaram a nossa energia. – Edward diz.
- Como vocês derrotaram os manipuladores? – Katherine pergunta.
- Foi algum absurdamente estressante. Mas minha cara, a nossa sorte era que estávamos em numero impar. Quando se derrota dois manipuladores, o terceiro, automaticamente morre. – ele responde.
- Não diga isso. – ela diz quase como um sussurro.
- Bom, Thomas estava fazendo piadinha sobre segurança e mais alguma coisa que eu não me lembro. Só que você caiu em uma espécie de névoa negra transparente e sumiu da nossa frente. Thomas e eu ficamos em alerta e tínhamos que esconder os nossos medos, pois essa é a nossa única esperança. Eles se alimentam dos nossos medos.
Katherine assente e faz sinal para que ele continue. Porem, ele parecia não estar mais ali.
- Thomas! Fique em alerta! Precisamos achar Kate, mas para isso, eu preciso que você esconda todos os seus medos. Os seus maiores medos!
- Tarde demais. – diz o manipulador.
Então, o seu maior medo, vem à tona.
Edward está agachado ao lado da veneziana amarelada. Lágrimas invadiram seu rosto ao lembra-se do estado de sua velha mãe. Um gosto amargo lhe invadiu a sua boca e ele quase vomitou sobre a roupa.
- Edward, venha cá. - sua velha mãe o chamou. Ele olha com incerteza e se aproxima dela.
- Estou aqui mãe. – ele se aproxima e logo em seguida segura a sua mão.
- Eu preciso ir.
Seu corpo estremece e um nó se forma em sua garganta.
- Sinto o céu me sugando, filho. Eu preciso ir.
- Eu não vou te deixar, mãe. – ele diz abraçando-a fortemente, como se a sua vida dependesse disso.
Sua mãe ergueu o olhar para ele. Seus olhos violetas brilhavam e em suas bochechas escorriam lágrimas quentes. Lágrimas que ficaram presas durante anos.
- Eu te amo. Perdoe-me se não fui uma boa mãe. – ela diz fracamente.
Ele a abraça mais forte e chora junto a ela.
Até que ele não ouve mais os soluços de sua mãe.
Ela o deixara.
O deixara para sempre.
Ele não podia suportar.
A cena muda. Ele está sozinho no meio de um deserto. A tempestade de areia o circundava. Lágrimas marcavam o seu rosto e seu corpo parecia de deplorar cada vez mais. Tudo tão real.
Tudo perfeitamente bem manipulado.
- Eu sei que é mentira! – Edward gritou.
- Ela morreu! Aceite o medo da morte! Ela não recusou o meu pedido. – diz o manipulador, através da máscara. Seus olhos frios, negros e cruéis eram intimidadores, assustadores, manipuladores.
Tudo o que ele via não era real.
Ele só deveria parar de sentir medo.
O maior medo que já sentira.
Seu coração parecia que iria pular do peito a qualquer hora.
Era real. Tudo tão real!
Mas era apenas uma mentira.
O manipulador, ao invés de usar o psicológico, usa o físico.
E atinge Edward na barriga, fazendo com ele caia no chão e urre de dor.
Ele abre os olhos e estava na floresta.
Só restava a Thoma, decidir o futuro de Katherine.
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Thomas não sabia onde estava, até que um corpo morto surge em sua frente. Não era apenas um corpo, e sim vários. Vários sendo sugados pelos céus e outros sendo esfaqueados pelas costas a sangue frio. Porém, ninguém sentia a sua presença. Ele vê anjos e demônios. Ele vê dia e noite.
Ele vê Katherine e Elizabeth.
Ele tenta correr até ela, mas suas pernas não funcionam.
Ele não saia do lugar.
Katherine lutava bravamente. Usava uma armadura de guerreira medieval e Elizabeth, usava um vestido de veludo vermelho sangue.
Dia contra noite.
Kate estava com sangue escorrendo pela testa e Elizabeth estava com um terrível corte na perna direita que ia da coxa até o seu joelho.
As espadas batiam uma com a outra causando uma terrível tempestade no céu. As nuvens raivosas explodiam em relâmpagos e trovões.
O caos reinava.
Corpos subiam aos céus.
Corpos contra corpo na Terra.
Sangue contra sangue.
A espada atinge o estomago não protegido de Katherine. Ela cai com tudo no chão.
Tudo em câmera lenta.
Suas malditas pernas voltam a funcionar.
Ele corre até ela.
Como se a sua vida dependesse disso.
Ele se aproxima segura sua mão e repousa um beijo em sua testa. A chuva caia sobre os seus rostos, tirando a sujeira dos mesmos.
- Eu devia ter dito que te amo. – ela sussurra fraca. Seus olhos ficam estáticos.
Ele sente não sente a sua pulsação.
Ela estava morta.
Seu corpo se ilumina e sobe aos céus como um anjo.
Ele grita aos céus pedindo-a de volta.
Mas tudo que lhe cai é chuva.
Gotas frias de água contra o seu rosto.
Seu maior medo.
Perder quem ele mais ama.
A noite havia vencido.
Mas os manipuladores não.
Ele nunca ia deixar que algo assim acontecesse.
- Thomas, está tudo bem?- Katherine pergunta. Thomas olha fixamente em seus olhos que queriam lhe dizer tantas e tantas coisas.
Eu te amo, por exemplo.
- Eu estou bem. – Thomas diz olhando para as folhas secas do chão.
- Qual era o seu maior medo?- Edward pergunta.
- Lutar com a minha irmã. – ela diz.
O coração de Thomas para por um segundo. Ele não queria aquilo. Ele iria fazer de tudo para salvá-la se um dia isso acontecesse.
- Terá de enfrentar isso um dia, Katherine. – Edward diz.
Kate torcia para ele estar errado.
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