Indigente [COMPLETA]

Door OkayAutora

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Em meio à olhares tortos de reprovação vindo dos clientes, apenas um olhar era de compaixão quando um andaril... Meer

Capítulo 1 - R$ 1,45.
Capítulo 2 - Arte.
Capítulo 3 - Retrato.
Capítulo 4 - Trajes.
Capítulo 5 - Frio.
Capítulo 6 - Grãos.
Capítulo 7 - 38.
Capítulo 8 - Tempo.
Capítulo 9 - Humano.
Capítulo 10 - (Res)sentimento.
Capítulo 11 - Decisão.
Capítulo 12 - Recado.
Capítulo 13 - Rumos.
Capítulo 14 - Acolhimento.
Capítulo 15 - Insegurança.
Capítulo 16 - Recomeçando.
Capítulo 17 - Habituando.
Capítulo 18 - Provocação.
Capítulo 19 - Compensação.
Capítulo 20 - Aliviar-se.
Capítulo 21 - Despertar.
Capítulo 22 - Proteger.
Capítulo 23 - Início.
Capítulo 24 - Infância.
Capítulo 25 - Presente.
Capítulo 26 - Dilacerado.
Capítulo 27 - Arrependimento.
Capítulo 28 - Irremediável.
Capítulo 29 - Escolha.
Capítulo 30 - Distância.
Capítulo 31 - Inacessível.
Capítulo 32 - Flashback.
Capítulo 33 - Inconsistente.
Capítulo 34 - Esperança.
Capítulo 35 - Esperar.
Capítulo 36 - Conquista.
Capítulo 37 - Saudosista.
Capítulo 38 - Diálogo.
Capítulo 39 - Queda.
Capítulo 40 - Romantismo.
Capítulo 41 - Necessidade.
Capítulo 42 - Transparente.
Capítulo 43 - Solucionando.
Capítulo 44 - Festejando.
Capítulo 45 - Reivindicando.
Capítulo 46 - Cuidando.
Capítulo 47 - Retorno.
Capítulo 49 - Elo.
Capítulo 50 - Calúnia.
Capítulo 51 - Testemunha.
Capítulo 52 - Convite.
Capítulo 53 - Negócios.
Capítulo 54 - Coragem.
Capítulo 55 - Namorando.
Capítulo 56 - Sociedade.
Capítulo 57 - Comoção.
Capítulo 58 - Ciclos.
Capítulo 59 - Prestígio.

Capítulo 48 - Vínculo.

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Door OkayAutora


Capítulo 48 — Vínculo.

Carlos se deparou com mais velas pela cozinha e a mesa montada à sua frente. E enquanto o instrutor admirava tudo e procurava de onde vinha aquele cheiro bom, Fernando servia duas taças de vinho.

— Aqui, pra você. — O artista estendeu a bebida em sua direção. — Pega leve.

— Ah, eu prometo. — Carlos segurou o riso, aceitando a taça e brindando com ele antes de colocar o buquê de lado.

— Tá quase tudo pronto, mas eu queria te mostrar uma coisa antes da gente jantar. — Fernando tomou um gole e deixou a taça de lado.

— O que é? — O instrutor também deu um pequeno gole no vinho antes de devolvê-lo à mesa.

— Vem comigo. — Tocou gentilmente o braço de Carlos.

Fernando via a curiosidade crescer na expressão de Carlos enquanto o levava pelo corredor da casa. Pararam de andar quando chegaram ao quarto de visitas e o artista deixou a mão sobre a maçaneta, dizendo:

— Olha, antes que você veja, quero que saiba que ainda não está pronto, falta, pelo menos, mais uma semana de trabalho. — Fernando avisou antes de finalmente abrir a porta. — Aqui está...

Carlos não precisou de muito tempo para ver o cavalete posicionado no meio do quarto, mas foi a imagem na tela que fez com que precisasse parar por alguns segundos. O instrutor segurou a respiração, analisando seu próprio rosto sorridente na pintura.

O artista andou com ele para o interior do cômodo e Carlos precisou de um segundo a mais para processar sua imagem pintada. O instrutor soltou o ar que prendia no peito, voltando a olhar para o namorado.

— Ainda preciso terminar o fundo da tela e fazer os últimos detalhes... Mas eu queria te mostrar isso, porque precisava te falar sobre o dia em que decidi pintar você e o que aconteceu depois disso. — Fernando continuou a dizer.

Carlos olhou para o quadro, seus olhos brilhavam e seu coração acelerava enquanto se via tão docemente retratado na tela, permanecendo em silêncio para o ouvir.

— Eu não sei se você se lembra daquele dia que decidimos fazer um passeio mais longo com o Kid... — O artista colocou as mãos nos bolsos da calça. — Nós fomos até a praça maior, aquela mais próxima do centro.

— Sim eu me lembro. — Carlos relembrou, sorrindo com ele.

— O céu estava se pondo, completamente lindo. Uma parte laranja e a outra meio arroxeada... E essas cores estavam refletindo na sua pele enquanto você andava e fiquei te admirando. Depois você virou para mim e sorriu... eu só me lembro de pensar que nunca vi uma coisa tão linda na minha vida. — Continuou, podendo ver o namorado olhar em sua direção mantendo o sorriso envergonhado. — E eu quis eternizar aquela visão e aí está.

— Isso tá simplesmente perfeito. — Carlos aproximou-se do namorado, esperando-o tirar as mãos do bolso da calça para poder abraçá-lo.

— Eu ainda vou finalizar o fundo e falta alguns detalhes... — Fernando dizia modestamente, também envolvendo-o com seus braços.

— Já tá tão lindo... — Carlos apoiou a cabeça no ombro do namorado, voltando a olhar para o quadro.

— Eu não ia mostrar agora, eu ia finalizar antes, mas é que eu não aguentei, porque... — O artista fez uma pausa, causando uma pequena ansiedade no outro. — Eu precisava te falar do quanto você fica na minha cabeça e me inspira. E que olhar pra você e estar com você é o que me dá força... todos os meus momentos de maior coragem foram com você.

— Você sempre foi corajoso... Tudo o que eu fiz foi ficar do seu lado. — Carlos disse, ainda em meio ao abraço.

— Exatamente, você ficou. — Fernando olhou para ele enquanto o segurava, sentindo seu coração querer pular para fora da boca. — Desde quando você me trouxe para sua casa, você abriu seus braços e me acolheu.

— Era o mínimo que eu poderia fazer... — Carlos desviou o olhar, não querendo que um choro viesse naquele momento.

— Não, não era. — Fernando tocou as laterais do rosto dele, finalmente se encontrando com os olhos azuis. — Foi muito além do que precisava... E você não me abandonou, mesmo eu não facilitando pra você.

— E como eu poderia? — O instrutor murmurou, não podendo impedir que seus olhos marejassem.

— Você esteve do meu lado desde o começo. — O artista o acariciou nos braços, tentando conter o nó que formava em sua garganta. — No dia que recebi meus exames médicos, você estava lá. Estava lá quando decidi voltar a trabalhar. Também me apoiou quando fomos para o galpão e eu tive medo de encarar as minhas tralhas do passado...

— Foram dias importantes. — Carlos suspirou, sentindo sua voz ficar ligeiramente trêmula.

— E sabe o que esses dias têm em comum? — O artista perguntou, vendo o outro negar antes de voltar a dizer. — É que bastava olhar pra você que... que tudo ficava bem. Eu tirava uma coragem que não era minha pra encarar tudo. E você faz isso comigo. Faz com que eu me sinta capaz de tudo.

Carlos piscou em uma tentativa de aliviar sua visão turva. Aquelas palavras de Fernando eram mais do que tudo que já havia sonhado ouvir de alguém e parecia um sonho. O instrutor precisou fungar, recuperando o fôlego.

— E você é. — Carlos soltou um suspiro pesado enquanto seu queixo tremia.

— E hoje eu olho pra você todos os dias e penso: como é possível amar alguém tanto assim? — Fernando afirmou, vendo-o comprimir os lábios com ainda mais força. — Carlos, eu sei que eu não tenho quase nada a te oferecer, mas eu espero apenas que você possa retribuir todo o amor que eu sinto por você... Porque eu te amo. Eu te amo muito.

O instrutor deu o primeiro soluço pelo choro e não conseguiu responder imediatamente. Fernando queria aproximá-lo mais, agora sentindo o namorado enterrar a cabeça em seu ombro. O artista o aconchegou com força, apertando as costas dele com todo o seu amor.

Carlos tentou iniciar uma ou duas frases em meio ao choro, mas sua voz era abafada pelo ombro de Fernando. Não queria se afastar dele, queria poder ficar para sempre com os braços dele ao redor de seu corpo.

O instrutor sentia os afagos em suas costas e nada conseguia dizer. Sempre que tentava, voltava a soluçar. Carlos sabia que Fernando não se incomodaria caso nada dissesse, mas não era isso que queria. Queria poder olhar para o seu artista nos olhos e conseguir dizer palavras tão lindas quanto as dele.

Carlos não sabia há quanto tempo planejou e imaginou aquela situação em sua cabeça, mas nada poderia o preparar para aquilo. O instrutor respirou fundo novamente, não tinha mais nada no mundo que poderia desejar do que aquelas palavras.

— Eu nem sei o que eu fiz pra merecer tanto carinho... — Carlos murmurou, conseguindo se afastar minimamente para olhar para Fernando.

— Eu preciso mesmo dizer? — Fernando inquiriu, vendo o beicinho que ele esboçava e o nariz dele completamente vermelho pelo choro.

Carlos tentou rir, mas soluçou outra vez, em um misto completo de sentimentos. O artista também não pôde deixar de rir enquanto seus olhos inundavam simplesmente ao olhar para ele.

— Eu tô tão feliz... — O instrutor soltou outro suspiro, ainda tentando normalizar sua respiração. — Isso me deixa mais tranquilo, porque eu não sabia se você se sentiria mal caso eu fosse falar e você não.

— Eu sei... Eu sei. — O artista suspirou, acariciando-o no ombro enquanto abria um sorriso tomado de sentimento. — Me desculpe por não ter te dito antes.

— Não... Não é pra se desculpar. — Agora era a vez de Carlos de segurar as laterais do rosto de Fernando.

Fernando fechou os olhos enquanto o instrutor aproximava suas testas, sentiam suas respirações se cruzarem pela proximidade. Carlos mantinha as mãos sobre as bochechas do artista e sentia o calor dele, queria se certificar de que não estava apenas sonhando.

O artista abriu os olhos, com seus rostos ainda unidos e pôde ver os olhos azuis ainda mais de perto. A expressão de serenidade estampada pelo rosto de Carlos fez seu coração se encher do que faltava. Olhar para ele era sempre assim.

— Eu também te amo. — Carlos sussurrou próximo aos lábios dele, se mantendo próximo. — Eu te amo desde quando eu não entendia que te amava... Eu te amo desde que eu entendi que te amava e não podia dizer. Eu te amo desde que você olhou pra mim desse mesmo jeito e me conquistou. Eu te amo mais do que a mim mesmo e... eu sei que dizem aquela baboseira de que a gente deve primeiro pensar em nós mesmos antes de alguém, mas não dá. Você é toda a minha vida agora e eu vou te amar até o fim dela.

Fernando tentou sorrir, mas seus lábios se estremeceram no caminho. E quando faltaram palavras para os dois, eles deixaram com que o beijo que surgiu selasse as declarações e promessas trocadas.

Carlos sentia que mal podia respirar direito e mesmo quase sem fôlego, não queria se desgrudar dele. Seu amor estava bem ali dizendo o quanto seus sentimentos eram recíprocos e seu peito poderia explodir de tanta alegria.

— Tá... Agora eu acho que eu devia lavar essa minha cara. — Carlos livrou-o de seus braços e riu baixinho enquanto enxugava seu rosto.

Fernando riu com ele e lhe deu um último beijo.

— E eu preciso voltar para a cozinha. — O artista informou-o, ainda sem deixar de sorrir.

— Quanto falta pra ficar pronto? Você acha que dá tempo de eu ir tomar um banho rápido? — Carlos secou o canto dos olhos com a manga de sua camiseta.

— Dá tempo sim, pode ir.

— Tá bom, então. Eu já volto, tá? — O instrutor puxou-o para mais um beijo. — Te amo.

Fernando estava bobo demais para responder, então viu-o deixar o cômodo. Cada um foi para um lado e, enquanto o artista cuidava da comida, Carlos abria o guarda-roupa para escolher algo elegante para usar.

O instrutor queria ficar à altura do namorado, então escolheu uma camisa que sabia que ele iria gostar e deixou-a pronta sobre a cama junto à uma calça social. Torcia mentalmente para que o artista não tivesse reparado que seus cabelos já estavam molhados por ter tomado banho na academia.

A verdade era que, embora já estivesse acabado de sair do chuveiro, Fernando merecia cada minuto que gastou se depilando durante aquele segundo banho. E mesmo que não pudesse prever que aconteceria alguma coisa naquela noite, queria estar o mais preparado possível e cheiroso como nunca.

♢♦♢

Carlos ficou pronto e se olhou no espelho uma última vez antes de borrifar seu perfume e sair do quarto. Não demorou para ir até a cozinha e finalmente se encontrar com quem tanto queria ver.

— Uau. — Fernando retirou uma tábua de corte do armário, deixando-a sobre o balcão. — Aonde você vai, moço bonito?

— Eu vou ter um encontro com meu namorado. — Carlos sorriu, indo em sua direção.

Carlos não deixava de sorrir, enquanto o envolvia em um abraço gostoso e olhava atentamente para ele. O artista recebeu um beijo e aproveitou do perfume gostoso que ele usava.

— O que foi? — Fernando indagou, ao ver que ele nada dizia.

— Você fez tudo isso pra mim... Ninguém nunca fez nada assim por mim. — Carlos disse baixinho, sem deixar de sorrir.

— Você merece. — Acariciou as costas dele, enquanto sentia os braços dele o soltarem de mansinho.

— Quando você pensou nisso tudo? Como você teve tempo? Aquele quadro parece ter levado um tempão... E eu nem vi você pintando ele.

— Foram umas duas semanas de trabalho. — O artista revelou, desviando o olhar envergonhado, voltando-se para o fogão.

— Como assim?! Eu nem vi você pintar! — Carlos exclamou, completamente surpreso.

— Acho que eu fiz uma boa tarefa em te manter afastado do quarto... — Fernando respondeu, destampando uma das panelas. — Você se lembra de me ouvir dizendo para deixar a porta fechada por causa do desumidificador? Não era de todo verdade... eu também não queria que você entrasse de surpresa.

— Não acredito! — O instrutor riu baixinho. — Eu caí que nem um patinho! Eu realmente acreditava que você estava pintando outra coisa, você até me mostrou um dos quadros em progresso. Me enganou direitinho.

— Mas eu estava, não foi mentira. Enquanto o seu secava, eu trabalhava em outro. — Fernando riu orgulhoso e logo pegou uma colher e com ela trouxe um pouco do conteúdo da panela. — Vem cá, experimenta e me diz o que você acha.

Carlos ganhou a colher e provou do caldo escuro. E enquanto saboreava, encarava o olhar curioso do namorado.

— Falta sal?

— Nando, isso aqui tá perfeito. O que é?

Coq au vin. É sobrecoxa de frango ao vinho tinto. Eu fiz caso você não gostasse de magret de pato, que tá só descansando, também já vou cortar. — Tem legumes e purê de batata também. E a sobremesa já está na geladeira.

O instrutor apenas olhou para a mesa posta com velas e as taças, enxergando seu buquê já em uma jarra de água. Era simplesmente surpreendente e ainda não conseguia acreditar em todo o esforço do namorado apenas para agradá-lo.

— Até sobremesa? — Voltou a olhar para ele. — Você não precisava ter se preocupado tanto...

— Tem certeza? Não quer nem ouvir o nome do doce? É francês que nem os outros pratos. — Fernando disse com um sorriso brincalhão no rosto.

— Qual é?

Bavarois à l'orange. — O artista comentou, querendo ver a reação do outro.

— Como? — Carlos quis ouvir novamente, sabendo que o outro entendia qual palavra em francês era seu ponto fraco.

Bavarois à l'orange. — Fernando disse outra vez, com seus lábios quase formando um biquinho com a última palavra. — E então, não precisava mesmo ter feito?

— Já tô convencido. E eu nem sei o que é. — O instrutor riu com ele.

— É tipo uma mousse, vai gelatina, creme de leite, redução de suco de laranja... Eu particularmente gosto muito. — O artista respondeu, enquanto fatiava o magret.

— E eu nem comi e já sei que vou adorar. — Carlos beijou a bochecha do namorado.

— Vou montar os nossos pratos. Me diz, o que você vai querer comer: pato ou frango?

— Vai ser contra a etiqueta se eu pegar um pouco de cada porque parece tudo muito bom? — Carlos respondeu, sorridente.

— Na nossa casa não tem etiquetas. — Fernando respondeu, começando a montar os pratos, mal reparando na expressão apaixonada de Carlos com sua afirmação. — Também vou pegar um pouco de cada pra mim.

— Nossa... Eu tô tão distraído com tanto mimo que mal notei que até agora não vi o Kid. Cadê ele? — O instrutor voltou para perto da mesa e pegou uma das taças de vinho.

— Ele tá no quintal... Tá até que bem quietinho, acho que a corrida que fiz com ele mais cedo pode ter incentivado nisso, ou o brinquedo novo que eu dei. — O artista riu, levando os pratos prontos e decorados para a mesa. — Mas... eu não quis que ele ficasse aqui dentro, pelo menos não até você chegar, porque ele estava comendo as pétalas do chão.

— Eu não acredito! — Carlos não conseguiu segurar o riso, voltando a taça para a mesa.

— E eu não sabia se podia fazer mal pra ele, então tive que ficar observando se ele ia passar mal... Por fim, ficou tudo bem, ele tá ótimo. Só me deu trabalho, mesmo. — O artista não deixou de rir, agora posicionando os talheres ao lado dos pratos.

— Isso é a cara dele. — Carlos gargalhou. — Deve ter dado trabalho fazer essas coisas todas com ele aqui.

— Só precisei dividir um pouco do que estava cozinhando com ele. — Riu com o outro, sentando-se. — Ah, se você quiser abrir a porta pra ver o Kid um pouquinho, tudo bem.

— Não, daqui a pouco a gente vai lá fazer companhia pra ele. — O instrutor continuou, também puxando sua cadeira.

— E então, o prato ficou bonito? — Fernando quis saber, enquanto o outro analisava seu empratamento.

— Não podia esperar menos, ficou uma obra de arte. Dá até dó de comer. — Olhou mais um pouco, sentindo o aroma gostoso que subia do prato. — Já passou, quero comer.

Fernando riu e não tirou os olhos do namorado enquanto ele começava a experimentar. Carlos exibiu uma expressão repleta de contentamento ao dar a primeira garfada e não precisou dizer o quanto tinha gostado.

— Eu não sei como eu passei minha vida toda sem comer isso antes. — O instrutor comentou, antes de voltar a comer.

— Eu gosto de muitos pratos franceses, eu posso cozinhar mais pra você. — O artista também começou a comer, parando para dar um gole no vinho.

— Por favor, faça isso. — Carlos riu baixinho, também tomando de seu vinho. — Você deve ter comido muita coisa boa quando esteve na França.

— Comi mesmo, aproveitei muito, principalmente fora de Paris. Porque na capital era um pouco mais difícil. Na região em que eu morava tinha muito turista, então os restaurantes não eram nada baratos.

— Você já falou comigo que passou momentos difíceis quando estudou lá, mas como era a gastronomia? Você saía bastante? Me conta um pouco...

— Sempre que eu reunia um pouco mais de dinheiro, tirava uma parte pra ir em um bom restaurante. Valia a pena os sacrifícios. — Fernando respondeu, saudosista. — E eu gostava muito de comer em pâtisseries. Os doces franceses são os melhores, são lindos de ver e muito equilibrados. Quando o pessoal do meu curso se reunia na casa de alguém, eu tentava cozinhar alguma coisa e sempre levava a sobremesa.

— Eu já percebi que você gosta de cozinhar. E tudo o que você faz, você faz de uma forma muito bonita. Pensando agora, a cozinha não deixa de ser uma arte. — O instrutor dizia, vendo-o sorrir envergonhado. — E como era a sua rotina por lá?

— Eu morava em um apartamento pequeno, bem pequeno mesmo. — Fernando contava enquanto fazia pausas para levar pequenas garfadas à boca. — Mas a localização era boa para chegar nos lugares importantes a pé ou de transporte público.

— Tem alguma coisa de que tem muita saudade de lá? — Carlos indagou, ainda curioso com as histórias que o namorado teria para contar.

— Tem tantas... — O artista olhou para o próprio prato por alguns segundos antes de voltar a encará-lo. — Mas a arte por lá é... eu não sei explicar. É constante, aonde quer que você olhe, tem muita história, tem uma beleza oculta. É fascinante, me inspirou demais e é, sem dúvida, o que mais me marcou.

— Eu imagino. — Carlos não deixou de abrir um sorriso ao vê-lo esboçar aquela nostalgia.

— Se você me deixar, eu quero te levar para conhecer todos os lugares por onde passei. — Fernando agora encarava os olhos azuis tão intensos.

— Nem precisa pedir.

♢♦♢

— Não, não é pra tirar a mesa. — Fernando retrucou com o namorado que havia acabado de se levantar. — Hoje você não trabalha, só aprecia.

— Então tá. — Carlos deu a volta na mesa, indo até ele, o abraçando de lado por não querer atrapalhá-lo a pegar as louças. — Isso se você prometer que vai me deixar retribuir.

Fernando não conseguiu responder àquele sussurro tão malicioso que ouvia. Sua mão livre subiu para as costas de Carlos e apertou levemente o tecido da camisa que ele usava, voltando a receber outro beijo dele.

O instrutor exibia um sorriso atrevido enquanto se afastava dele para pegar sua taça. Carlos não havia bebido mais do que metade do conteúdo do vinho e já pararia por ali, não gostaria que o vexame do outro dia se repetisse.

— Vai querer a sobremesa agora? — Fernando indagou, após levar os pratos para a pia.

— Com certeza! — Carlos respondeu, vendo-o rir baixinho com sua empolgação. — Eu só vou dar um oi pro Kid rapidinho.

— Pode ir, eu levo lá fora.

Carlos concordou e abriu a porta da cozinha que dava aos fundos para sair. Fernando terminou de ajeitar a mesa e guardou a comida que sobrou no fogão antes de pegar as sobremesas.

Foi chegar ao quintal que Fernando pôde ver o namorado falando com o cachorro com voz meiga, enquanto o acariciava na barriga. O artista não conseguia deixar de rir toda vez que o via tratando o animal como um bebê, mas não podia deixar de pensar que o cãozinho era realmente a criança da casa.

— Aqui está. — Fernando se aproximou, esticando uma taça da sobremesa para ele.

— Quer comer aqui no quintal mesmo? — Carlos indagou, pegando o doce.

— Pode ser, tá fresquinho aqui fora. — O artista aceitou e caminhou com ele para as cadeiras da área.

Sentaram-se quase deitados sobre os assentos reclináveis. Carlos pensou que sentiria falta de mais momentos como aquele em suas tardes, pois tinham o costume de passarem alguns minutos por dia lá fora para tomarem um pouco de sol. Agora isso seria menos frequente por Carlos já ter voltado a trabalhar, mas admirar as estrelas a noite também não parecia uma má ideia.

— Nossa, isso é muito gostoso. — Carlos foi o primeiro a dizer, assim que começou a tomar a sobremesa da taça.

— É refrescante, né? Vai raspas de limão também.

— Muito, eu adorei. — O instrutor continuou a saborear a sobremesa. — E o Kid tá doido pra receber um pouquinho.

— Quando ele não quer? — Fernando brincou, olhando para a expressão pidona do cão.

— Nossa, eu ainda não acredito que você fez tudo isso por mim... Você deve estar exausto. — Carlos afirmou, ainda completamente admirado por todo o jantar e a decoração romântica.

— Não, ainda tenho um pouco de energia. — O artista brincou, exibindo um sorriso discreto.

— É muito bom ouvir isso... — Voltou a comer, apenas tentando não pensar em todas as imoralidades que queria aprontar com ele.

— E então... Você não me falou muito de como foi no trabalho hoje. — Fernando quis saber.

— Ah, eu assumo que eu estava um pouco preocupado em voltar a trabalhar...

— Por quê? — O artista deixou a colher pousar sobre a boca após outra colherada.

— Porque eu sabia que agora minha sexualidade não é mais segredo. Não que isso seja ruim, mas... — Confessou, diminuindo o tom de voz antes de voltar a dizer. — Eu sei que eu não falo muito sobre isso, mas eu já passei por vários momentos de discriminação dentro da academia. Não eram exatamente coisas direcionadas a mim, mas eu ouvia as fofocas, risadas quando eu passava e os olhares tortos.

— Eu sei como isso pode doer. — Fernando olhou para o namorado, exibindo seu apoio.

— Mas não pense que eu me arrependo de ter assumido o nosso relacionamento, de jeito nenhum. — Carlos sorriu docemente, deixando a taça vazia de sobremesa ao lado. — Pelo contrário, eu nem sabia porque eu tinha tanto medo. As coisas parecem muito melhores agora. Eu fui muito bem recebido.

— Eu fico feliz, de verdade. — Também se livrou do que segurava, podendo dar toda a atenção para o outro.

— Eu estava alterado de tanto ter bebido no dia em que conversamos no banheiro no meio da confraternização, mas eu fui sincero em tudo. — Carlos ressaltou, conseguindo alcançar a mão do namorado. — Eu tô muito feliz com a minha decisão. Posso dizer com certeza absoluta que eu nunca fui tão eu mesmo em um relacionamento do que eu sou com você.

— Eu também. — Fernando aproveitou que seus dedos estavam unidos para beijar as costas da mão dele. — Não conhecemos só as coisas boas, mas também, vimos o pior um do outro.

— Eu tô disposto a te mostrar o meu melhor. — O instrutor soltou uma risada maliciosa, com o namorado entendendo o que queria dizer.

— Ah, é? Como o quê? — O artista perguntou, interessado.

— Será que a sua cadeira aguenta mais um? — Carlos perguntou, olhando para o assento do namorado.

— Só tem uma forma de descobrir. — Fernando esticou seu braço em um gesto convidativo.

O instrutor riu, descendo de onde estava para subir sobre o corpo do outro. Fernando sentiu o quadril dele pressionar o seu ao recebê-lo sentado sobre si e viu-o subir os braços para seus ombros antes de ganhar um beijo.

Era incrível a velocidade com que Carlos fazia seu corpo se animar e nem precisava perguntar se o outro notava o volume em sua calça. O instrutor esfregava seu próprio corpo nele enquanto suas bocas estavam coladas.

Carlos roubou os lábios dele em um movimento contínuo e calmo enquanto suas mãos desciam. Levou seus dedos desde os ombros do artista até o primeiro botão da camisa de Fernando.

O instrutor precisou interromper o beijo por alguns segundos, quis olhar a expressão de seu artista, para saber se ele concordava com o que queria fazer. Fernando tinha certeza de que não havia nada naquele mundo que pudesse fazê-lo perder o controle como aquele homem. E quando tinha aqueles olhos azuis o provocando tão cruelmente, não podia fazer mais nada a não ser se render.

Os olhos de Carlos se espremiam em um sorriso envolvente antes de voltar a aproximar seus rostos e o artista sentia sua camisa ser completamente aberta. As mãos do instrutor não quiseram esperar, puxando o tecido e tocando agora a pele exposta de seu abdômen, o arranhando de leve.

Fernando não tentava controlar os suspiros a cada vez que Carlos dava um golpe baixo como aquele. Mas também, não queria ser o único a ser provocado. O instrutor estava irresistível demais para deixá-lo ileso a qualquer vontade pessoal de tocá-lo.

O artista continha os grunhidos, enquanto a boca do namorado estava livre para percorrer um caminho sem volta até seu pescoço. E enquanto Carlos queria matá-lo com os beijos pela região sensível, Fernando procurava os botões da camisa do namorado para despi-lo. O artista fechou os olhos por alguns segundos quando teve sua pele mordida e sugada, mas logo conseguiu retomar sua consciência.

Carlos não parecia querer dar um tempo para se acostumar com seus beijos, com um truque ardiloso atrás do outro. Fernando precisou morder seu lábio inferior para conter um palavrão pelos arrepios que sentia, ao mesmo tempo que terminava de abrir a camisa dele.

O artista conseguiu respirar um pouco melhor ao ver Carlos se afastar minimamente dos beijos e o encarar diretamente. Os olhos azuis podiam falar e Fernando quis se desculpar naquele momento, porque teve que desviar o olhar para baixo, se deparando com toda a beleza daquele corpo completamente trabalhado nos treinos.

Carlos via que o namorado tinha os olhos tão absortos por todo o seu abdômen, que precisou acordá-lo, roçando seu quadril um pouco mais sobre a excitação presa na calça dele. Fernando suspirou, quase clamando por misericórdia.

As mãos do artista subiram pelas coxas que ainda se moviam enquanto Carlos roçava seu colo e Fernando não conteve a vontade de subir mais. Pousou ambas as mãos sobre o traseiro dele, apertando pela primeira vez os glúteos tão firmes que sabia que poderiam aguentar horas de exercício. E ao imaginar qual exercício pela pose que estavam, sua ereção apenas incomodou mais dentro da roupa.

Carlos precisou voltar a beijá-lo, estava tão entregue quanto ele e sentia falta de mais contato e o espaço se tornava pequeno. E com esse pensamento, um estalo aparentemente vindo da cadeira em que estavam, foi o suficiente para interromperem o beijo. Carlos riu baixinho e aproveitou que estava próximo do artista para sussurrar:

— Acho melhor a gente ir para o quarto...

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