Como disse, eu sei que é algo "chocante", principalmente na fase em que estamos. Mas, será mesmo que... E se ele resolver seguir o que seu pai diz e...
Sacudo a cabeça em negação. Não quero nem pensar!
– Não podemos deixá-lo no chão. – digo assim que recupero um pouco meu juízo.
– Bailey é muito pesado para o colocarmos na cama. – Any olha ao redor, como se buscasse uma solução, e se levanta rapidamente.
Observo-a ir até a cama e voltar com um dos travesseiros.
– O que vai fazer? – pergunto.
– Já que não podemos erguê-lo, vamos tentar aconchegá-lo aqui no chão mesmo.
Consinto. Movo cuidadosamente a cabeça dele para que possa ajeitar o travesseiro por debaixo e, assim que notamos estar bem confortável, o arrumamos em uma posição melhor. Já que caiu e assim ficou, de um jeito nada bonito.
Vislumbro o meu pobre menino desmaiado e sou incapaz de segurar um suspiro. Ainda estou com medo de qual vai ser a sua verdadeira reação quando acordar, mas também não posso deixar de me sentir aflita por sua atual condição: esparramado no tapete do meu quarto.
Nesse momento, estou entre ficar preocupada com o rumo da nossa "futura" conversa e o seu desmaio. Francamente, eu não sei o que é pior.
Nós duas tentamos de tudo para acordá-lo, mas como nem um dos métodos parece surtir efeito, decidimos esperar - ainda que a minha agonia esteja aumentando segundo a segundo. Sentadas, uma de cada lado, nós esperamos.
Minutos se passam e finalmente ouvimos um murmúrio sofrido, que chama a nossa atenção de volta para Bailey. Aos poucos, seus olhos vão se abrindo e nós o ajudamos a sentar devagar. Ele leva a mão a cabeça e pisca, um tanto desnorteado.
Nenhuma das duas fala, até que ele aparente estar um pouco melhor.
– Você está bem? – pergunto enfim, quando a minha preocupação atinge o limite.
– Sim, eu estou. – respira fundo, apertando os olhos rapidamente. Talvez para se recompor.
– Tem certeza?
– Sim, sim. Eu só... Tive um sonho estranho.
– Sonho estranho? – é a vez da Any perguntar.
– É, algo do tipo.
– E com o que sonhou?
– Sonhei que a Sofya dizia estar grávida, que teríamos um bebê.
Ele solta uma risada baixa e sacode a cabeça, como se fosse uma besteira. O sorriso desaparece na mesma velocidade que apareceu. Minha amiga e eu trocamos olhares nervosos. Ele acha mesmo que foi tudo um sonho?
Quando souber que é verdade, provavelmente o sonho se tornará um pesadelo, tanto para ele quanto para mim.
O silêncio é inevitável, assim como o clima estranho que se forma ao nosso redor.
O que eu vou fazer?
– Eu vou... Ahn... Deixar vocês à sós. – Any levanta e me lança uma olhada complacente, com um pingo de compaixão – Se precisar de mim...
– Eu sei, amiga. Obrigada.
Uma vez que Any sai do quarto, procuro apoiar Bay do jeito que posso e o ajudo a caminhar para próximo da cama, onde senta outra vez na beirada do colchão. Eu permaneço de pé, nervosa demais para manter a bunda parada em algum lugar.
– O que aconteceu comigo? – ouço-o perguntar.
– Você desmaiou.
– Desmaiei? Mas, por que?
Troco o peso de uma perna para a outra, e teria roído o restante das minhas unhas se tivesse sobrado algum pedacinho para contar história. Mais que tensão!
– Sofya?!
Meus olhos recaem sobre ele, que aparentar estar mais lúcido do que antes, e já não posso mais adiar o inadiável.
– Bay, fique calmo e me escute com atenção, tudo bem?
Meneia a cabeça, nitidamente intrigado. Seguro as suas mãos de maneira hesitante e engulo uma boa dose de ar. Então, digo:
– Não foi um sonho.
– O que?
– Não foi um sonho. Eu... Eu realmente estou esperando um bebê.
Instantaneamente, o seu rosto perde a cor (de novo). Me preparo para acudir mais um eminente desmaio, mas, ao invés disso, tenho os dedos apertados com certa força.
– Está falando sério? – sua voz soa tão rouca, que me arrepia até a alma.
– Sim, e-eu... Eu... Sim!
– Quando?
– Algumas semanas atrás. Na verdade, descobri um pouco depois que brigamos aquele dia e, desde então, venho mantendo esse segredo. A minha anemia foi causada pela gravidez também. É normal que a mulher precise de uma quantidade extra de ferro durante a gravidez nos primeiros meses e.... E... Ah droga! Eu sei que a última coisa que precisávamos era de uma gravidez, mas... Mas... Aconteceu!
Me afasto, sem dar tempo para que a sua rejeição o faça. Agora sou eu quem anda de um lado para o outro no centro do quarto, parecendo uma barata tonta e sem a mais vaga ideia do que fazer além disso.
Bailey continua calado. Seus olhos castanhos escuros acompanhando cada passo que dou e toda a sua quietude me desesperando. Acho que daqui a pouco sou eu que caio esparramada e desacordada nesse chão.
No instante em que os nervos culminam em mim, grito:
– Eu sei que a culpa foi minha! Eu deveria ter prestado atenção, me precavido mais. Só que... Só que aconteceu e...
Ponho a mão sobre o ventre e, inevitavelmente, começo a chorar. Encaro-o, porém, ele se mantém quieto e todas as minhas forças desabam.
É isso, afinal. Ele irá nos abandonar.
Bom, eu não posso culpá-lo. É muita responsabilidade para um garoto de apenas dezenove anos e que ainda vive na sombra de um relacionamento conturbado com o pai controlador. Sem contar que é algo que vai impactar todos os seus planos para o futuro, tudo o que sonhou.
No fundo, eu entendo. Por mais que me doa, eu entendo.
Diante sua falta de resposta e atormentada por todas as emoções que contorcem dentro de mim, reúno o que resta da minha dignidade e, mesmo que as próximas palavras me partam em duas, digo:
– Eu vou entender se não quiser assumir. Não estou lhe obrigando a nada, só achei que... Que gostaria de saber. É um direito seu, afinal, e...
Minha voz simplesmente desaparece e é tomada por soluços altos e um choro mais alto ainda, quando sou acolhida por seus braços tão fortes e amáveis.
Choro, choro e choro. Me permito chorar o quanto preciso, encostada em seu peito e encharcando a sua camiseta, depois me preocupo em culpar os hormônios por isso.
– Me desculpe, me desculpe, me desculpe.
– Por que está pedindo desculpas?
– Porque...
– Se você acaba de me fazer o cara mais feliz do mundo?!
Olho-o por trás das lágrimas, sem poder acreditar. Meu coração se revira no peito.
– O que disse? – indago, quase num sussurro.
– Que eu estou feliz. Infinitamente feliz.
– Então, por que você não... Não falou nada? Eu achei que iria nos abando...
– Jamais diga isso! – me corta, nervoso – Eu nunca faria isso, especialmente agora.
Bailey suspira longa e profundamente, e segura o meu rosto entre as suas mãos quentes e carinhosas. Eu continuo agarrada a si e sem pretensão alguma de soltá-lo.
Seus olhos encontram os meus, suaves e cheios de um brilho que nunca vi antes. Minha pulsação acelera quando sinto a maciez dos seus lábios, num beijo repleto de significado e amor, e não há nada nesse mundo que me faça pensar o contrário.
– Me perdoe. Não foi a minha intenção fazer com que imaginasse essas coisas desagradáveis. Eu só estava assustado, chocado e... Bem, nem preciso comentar sobre o episódio vergonhoso que foi o meu desmaio, pois acho que ele explica o bastante do que eu estava sentindo com a notícia.
– Não está chateado?
– Eu, chateado? Mas é claro que não! – sorri, deixando a mostra suas covinhas – Com medo? Talvez. Afinal de contas, tanto você como eu sabemos o que teremos que enfrentar daqui para a frente, mas estou igualmente feliz.
– Sério?
– Com certeza.
– Eu já amo tanto esse bebê, assim como eu amo você. Ainda que tenha sido um acidente, eu estou feliz porque... Porque foi feito com amor. – levo sua mão até a minha barriga e sinto os seus dedos tremerem de leve. Sorrio – Apesar de tudo, é uma parte nossa. Um pedacinho seu e meu, crescendo bem aqui.
– Antes de mais nada, não diga que a culpa foi sua e muito menos que foi um acidente. Acho que sou grande o suficiente para assumir as minhas responsabilidades e, veja bem, todo aquele sexo sem camisinha não foi lá a coisa mais sensata que já fizemos.
– Você sabe que eu estava tomando a pílula, por isso não me preocupei.
– Bom, nada é cem por cento, não é?! Nosso bebê aqui dentro é a prova viva disso.
Sou incapaz de segurar uma risada. Não há prova maior do que essa, sem dúvida.
– Está realmente feliz?
– Muito, muito, muito feliz!
Permanecemos agarradinhos, trocando carinhos e palavras doces, o verdadeiro sonho de qualquer mulher grávida e carente (e o meu sonho como a boa manhosa que sou).
De repente, Bay me pega no colo e sorrio ao sentir como me embala suavemente, como se dessa forma também estivesse embalando o nosso bebê que ainda está na minha barriga.
Apoio o queixo em seu ombro e desfruto do seu calor e do cheiro gostoso do perfume que usa, isso até uma cabeleira escura no canto da porta chamar a minha atenção. Deixo um risinho escapar quando a cabeça da Any aparece "sorrateiramente" e ela toma um susto ao notar que eu a observo.
Dou-lhe uma piscadela para dizer que está tudo bem e recebo um sorriso como resposta, e também um sinal de que vai sair para que fiquemos à vontade e que volta mais tarde.
– Quer ir para a cama? – ele sugere.
– Embora eu adore estar nos seus braços assim, vou aceitar sua proposta. Sei que estou mais pesada do que o normal e logo você vai ficar cansado.
– Você continua tão leve quanto uma pena, querida. Não vou me cansar.
– Eu espero que você continue mentindo bem desse jeito nos próximos meses. Vou precisar.
Nós dois rimos e deitamos lado a lado na cama. Recebendo todas as carícias que posso querer, admiro o meu lindo garoto por alguns minutos e passo dedos entre os fios castanhos do seu cabelo, tão feliz que o sentimento mal cabe em mim.
– No começo da próxima semana, eu tenho uma consulta para ver o bebê. Eu quis contar a você antes, porque gostaria que fosse comigo. O que acha?
– Vou adorar!
Sorri, mostrando as covinhas que tanto amo. Instantaneamente, a imagem de um serzinho rechonchudo e com esse mesmo sorriso com covinhas surge na minha mente.
– Nós já podemos saber se é menino ou menina? – pergunta esperançoso.
– Ainda não. Ele é muito pequeno para isso, mas podemos ver a forma dele.
– Tomara que eu não desmaie ou última coisa que farei é vê-lo.
Rimos, envoltos em nossa bolha de amor. Esta que se rompe como sabão no momento em que o outro lado da nossa nova realidade bate à porta.
– Como faremos com o seu pai? – indago, um tanto apreensiva. Seu semblante contente some de imediato, dando lugar a tensão – Não acredito que ele vai aceitar de bom grado a notícia de que vai ser avô e que os planos dele não sairão exatamente como pensou.
– Não se preocupe com isso, tudo bem? Como o meu pai, me resolvo eu. Já estou para dizer umas verdades a aquele homem faz tempo e agora é o momento ideal. Além disso, os "planos" dele não sairiam como pensou mesmo que você não estivesse grávida.
Ajeita uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e continua, num tom de voz decidido:
– Se antes eu queria o controle da minha vida, agora o quero mais ainda. Daqui a alguns meses, eu serei pai e não há nada nesse mundo que me fará ficar longe do meu filho e da minha mulher.
Meus olhos se enchem d'água. Meu filho e minha mulher?
Aí caramba! Alguém me abana, alguém me abana.
– O que foi? – questiona, surpreso com as lágrimas que não consegui segurar.
– Meu filho e minha mulher?
Ele dá risada e me encobre com toda a sua corpulência.
– Isso mesmo. Meu filho e a minha mulher.
Enche o meu rosto de beijos e só o que eu faço é soltar um muxoxo - falso, é claro. Por que eu poderia facilmente passar o resto da noite ganhando mimo atrás de mimo.
– Você tem alguma ideia de quando pretende abordá-lo?
– O mais rápido possível. Se ele voltar rápido da viagem que fez a negócios, ainda essa semana.
– Mas já? – arregalo os olhos, empurrando-o de leve para que eu possa olhar em seu rosto – Você não acha que... Sei lá... Deveria preparar o terreno antes?
– Preparar o quê? – franze as sobrancelhas – Por que eu deveria preparar um terreno?
Solto uma gargalhada histérica. Não sei porque teimo em usar essas expressões com ele, sabendo que não entende absolutamente nada. Acho que é por causa de reações hilárias como esta.
– Eu quero dizer, querido, que deveria ir com cuidado. Talvez esperar um pouco.
– Aaaahhh... Pois bem. Não, não vou preparar o terreno como disse. Esse assunto não é algo que posso me dar ao luxo de ficar adiando. Como falei antes, essa conversa com o meu pai já demorou mais do que deveria.
Apesar de a sensação de medo me fazer tremer inteira, balanço a cabeça perante a sua determinação e me agarro aos seus braços, procurando sua proteção.
Independentemente do que aconteça, estarei ao seu lado e é o que importa.
Depois de fazermos planos e planos para o nosso futuro e eu derreter com a conversa que Bailey tem com a minha barriga, ele decide ir embora perto das onze.
Mesmo eu querendo a sua companhia, sei que ainda está na mira do seu pai e vai precisar de toda a cautela possível para lidar com ele daqui para a frente, principalmente se resolver mesmo ter a tal conversa.
Acompanho-o até a porta, onde nos beijamos apaixonadamente e demoramos loooongooos minutos para enfim nos despedirmos. Contenho a vontade de agarrá-lo e não permitir que dê sequer um passo, mas a ajuizada em mim fala mais alto e o deixa ir - sobre altos protestos interiores, como não poderia ser diferente.
Cinco dias!
Cinco dias se passaram desde a mensagem que Bailey enviou dizendo que teria aquela conversa de uma vez por todas e, até então, não tenho mais notícias suas.
Eu deveria tê-lo impedido de seguir com a ideia idiota de enfrentar o seu pai antes de pensa em como abordá-lo de uma maneira que não causasse a Terceira Guerra Mundial. Mas quem disse que aquele teimoso escutou algo do que eu disse? Não, claro que não. E aqui estou eu, esperando pelo menor sinal de vida que não vem.
Acho que vou surtar!
Acho não, eu vou. Tenho certeza que vou!
– Sofya, se acalma! – Any esbraveja, me empurrando para sentar no sofá – Lembre-se que o estresse pode fazer mal ao bebê.
– E como você quer que eu não fique estressada, porra?! Você mesma disse que o Bailey não apareceu todos esses dias no colégio e também não tenho uma notícia sequer dele. Algo deve ter acontecido, Any. Eu sinto! Eu sinto!
– Pelo amor de Deus, mulher, se acalma. Você só está nervosa. Tenho certeza que nada de ruim aconteceu. Sou a responsável pela classe dele, esqueceu? Com certeza, alguma coisa teria chegado aos meus ouvidos. Você sabe como aquele pessoal adora uma fofoca.
– Não sei, não. – respiro o mais fundo que consigo – Talvez você tenha razão, mas...
De repente, a campainha soa. Automaticamente, como se a minha intuição brilhasse igual a neon, levanto de supetão e corro em direção a porta. Com a mão suando, giro a maçaneta e um suspiro aliviado escapa assim que os meus olhos caem sobre ele.
– Bailey...
– Oi, querida.
Nós nos encaramos por um instante, porém, da mesma forma que um suspiro aliviado escapou quando o vi, outro exasperado escapa quando noto as malas ao redor dos seus pés e a mochila grande que carrega nas costas.
– O que...?
– Talvez possa ser um pouco repentino, mas... – coça os cabelos da nuca, constrangido – Eu poderia ficar aqui durante alguns dias?
Any aparece ao meu lado e o observa, espantando-se com as malas também. Fitamos uma a outra de canto de olho e não precisamos de muito para entender o que aconteceu; nossos olhares se voltam para ele, que dá de ombros e diz:
– Fui expulso de casa.
As coisas já começaram "melhores" do que eu imaginava.
Não revisado!!