Gratidão

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Yuugi não sabia se era pela arrogância desmedida do homem ou por não perceber que estava sendo testado ou eram ambas as hipóteses, que o fez endireita-se orgulhosamente, exibindo uma pose altiva, enquanto falava inconsciente do que acontecia no seu entorno e da evidente fúria do Faraó, com o ex-sacerdote não compreendendo como alguém podia ser tão cego:

- Esse homem não passa de um ladrão ordinário, além de um valentão e cruel que deu o bote se aproveitando da pobre mulher e dos pais dela! Ele não pode ganhar o seu próprio sustento e por isso, decidiu tirar dos outros que eram mais fracos, provocando danos e dor ao se aproveitar da debilidade dessas pessoas! Esse ladrão usurpador, bastardo, covarde e ordinário não merece o que tem. Portanto, tudo o que ele tem e possui, assim como a sua riqueza, sua terra e eventuais títulos que detém, tem que ser tomados, para depois, serem entregues as suas vítimas, enquanto é convertido em escravo com uma dívida eterna, passando a trabalhar nas minas pelo resto dos seus dias!

Atemu sorriu como um lobo, enquanto demonstrava deleite em suas feições ao poder aplicar a justiça, com o próprio homem dando a sua condenação, sendo que as sombras pareciam estar em júbilo tal como o seu mestre, enquanto a luminosidade parecia retornar parcamente, embora permanecesse levemente sombreado, com o jovem sentindo que a magia que impregnava o local parecia recolher-se levemente frente a felicidade do mestre deles, que fala:

- De fato, uma excelente punição. – com um sorriso perverso, ele observou o homem arrogante estufar o peito, como se recebesse um enorme elogio.

O rei acenou com a mão e um soldado do Medjay que exibia destemor, assim como os demais soldados, mesmo com aquela magia sombria envolvendo o local, caminha até o velho e o força a cair de joelhos no chão ao acertar atrás dos seus joelhos, fazendo com que toda a confiança, bravura e arrogância abandonassem o seu semblante, cujo rosto encontrava-se chocado pela mudança abrupta da situação e igualmente inesperada ao ver dele.

Inutilmente, ele tentou protestar, sendo que o guarda bateu na nuca dele com a parte de baixo da sua lança, o silenciando eficazmente, enquanto o fazia curvar a cabeça com a força do golpe.

Debilmente, o homem olhou para o rei em busca de uma explicação e apenas encontrou um rosto furioso, sem qualquer indício de uma amizade que o homem julgou erroneamente ter visto no semblante do imperador, desde que foi permitido se aproximar do trono.

- Não ouse olhar para Heru (Hórus)! – o guarda acertou-o novamente na cabeça, forçando-o a abaixá-la em submissão.

- Você se atreveu a interromper o Qenbet semanal e consequentemente, a minha corte, como se estivesse acima das leis estabelecidas por Ma'at (Maat), enquanto acusa uma mulher inocente e igualmente desesperada para proteger o seu amado filho de você, após roubar tudo o que era dela por direito, desde a casa que construiu com o seu esposo no casamento deles e os objetos que adquiriram na constância da união, jogando-a nas ruas em seguida, com ela tendo apenas as roupas do corpo, juntamente com o roubo descarado do benefício financeiro para ajudá-la nos tempos difíceis que vivenciava, antes que pudesse terminar de sofrer a morte do marido. Não obstante, roubou um presente dado pelo falecido marido aos avós dela, enquanto ele estava vivo. Você zombou de mim, o filho dos Deuses, ao julgar que eu fosse um tolo que não enxergaria os seus jogos hipócritas regados a distorções alimentadas pela sua arrogância, ganância e crueldade, sendo que ao zombar de mim, você insultou os Deuses, também! – a voz barítono trovejante do rei se tornou mais profunda, ecoando como um trovão nas paredes de arenito, enquanto o seu semblante exibia uma fúria que podia rivalizar com a dos Deuses, fazendo o homem prostrado aos pés do Faraó exibir um olhar horrorizado para o seu monarca ao ousar erguer a cabeça, novamente.

Yuugi acreditava que aquela era a primeira vez que o homem tremia de medo na presença de outra pessoa, sendo que soava como uma justiça poética, por assim dizer, pois, após atemorizar tantas pessoas, enchendo-as de terror ao ponto de temerem, apenas, a sua presença, agora ele se encontrava na mesma situação que impôs aos outros por vários anos.

Dois corações e um destinoWhere stories live. Discover now