O passado de Seto e de Kisara

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Seto fala, se virando para a dragoa que o olhava atentamente, sendo que o sacerdote tinha a impressão de ver os orbes de Kisara por trás dos olhos do dragão:

– Tire a sua cauda que está em volta de mim.

O ser olha para ele e consente a retirando obedientemente, com todos ficando estupefatos ao ver o domínio que ele possuía sobre o dragão.

– Eu disse que ela não era uma ameaça. – Yukiko fala, enquanto sorria.

- Ela? – Karim aponta para o dragão.

- Claro, é a alma da Kisara-chan. Portanto, é a Kisara-chan. Por algum motivo, mesmo após tudo o que sofreu, ela o defende e eu não compreendo o motivo de defender alguém como você. Ademais, eu percebi que você não ficou tão surpreso quanto os outros, pelo menos, não da mesma forma, ao ver essa dragoa e mesmo agora, vejo em seus olhos que parece conhecê-la.

Todos ficam surpresos com o conhecimento e a observação da albina, que erguia a cabeça orgulhosamente, ficando feliz ao ver que o tio de Atemu trincava os dentes, enquanto olhava furiosamente para ela, que balançava, indolentemente, a cauda ao seu lado.

Nisso, ele suspira e começa a falar, conforme as lembranças dolorosas surgiam em sua mente:

- Quando eu era criança, eu vivia com a minha mãe em uma das vilas na parte baixa do Rio Nilo. Uma noite, eu salvei uma jovem de mercadores de escravos ao libertá-la da espécie de gaiola em que se encontrava, sendo que eu forneci um cavalo para que ela fugisse, enquanto eu corria em direção a minha vila para encontrar a minha mãe. Porém, quando consegui chegar na minha vila, ela havia sido atacada, sendo que os mercadores estavam me procurando, pois queriam saber o paradeiro da jovem que eu libertei. Ao olhar em volta, todas as moradias estavam em chamas. Eu corri desesperado em direção a minha casa por estar preocupado com a minha okaa-san. Porém, eles me encontraram e me seguraram, para depois, incendiarem a minha casa com a minha mãe dentro dela e enquanto eu gritava desesperado pela minha genitora, esse dragão surgiu no céu, acima das chamas, rugindo e ao avistar os mercadores que tentaram fugir tomados pelo terror de verem o dragão, o ser concentrou o seu poder e liberou de suas mandíbulas possantes uma rajada poderosa de luz contra eles, os obliterando com esse ataque. Depois, o dragão rugiu novamente, antes de desaparecer. Eu encontrei o corpo da minha mãe, após alguns minutos, sendo que fui um dos poucos sobreviventes do massacre.

Todos ficam surpresos com o relato, sendo que o sumo sacerdote olha na direção da prateada que ainda estava inconsciente e se aproxima dela, se agachando para ficar o seu lado, falando:

- Eu não tinha percebido o quanto ela era parecida com aquela jovem. Acho que o evento foi tão traumático que ficou em uma parte inconsciente do meu cérebro. Ao ver esse dragão, as memórias ressurgiram. Agora, eu me lembro de tudo. – ele ergue o rosto e percebe que a dragoa a olhava, com ele conseguindo ver os olhos da prateada por trás daqueles orbes azuis.

Então, eles notam que Kisara começa a acordar e conforme as suas pálpebras tremiam, indicando que em breve, a jovem acordaria, o dragão começava a desaparecer ao ficar gradativamente transparente até desaparecer por completo, quando ela desperta, inicialmente confusa, para depois, se recordar do julgamento, ficando surpresa ao ver a mão de seu mestre na sua frente, que a auxiliava a ficar de pé.

Após alguns minutos, Atemu fala ao dar o seu veredito, com todos prestando atenção nas palavras do seu Deus vivo:

- Como a dragoa é o Ka e o Ba dela, não podemos extrai-lo. Se fizermos isso, mataremos uma inocente. Afinal, o julgamento dos itens mostrou o quanto a alma e o seu coração são puros. Inclusive, o seu coração era um pouco mais leve do que a pena de Maʽat. Ademais, é um fato inegável de que o Hem-netjr Seto detém controle sobre esse dragão. Portanto, eu deixarei essa jovem e a dragoa aos cuidados dele, sendo a sua obrigação manter esse Ka e Ba sobre controle. - ele fala o final, olhando para o seu primo.

Dois corações e um destinoWhere stories live. Discover now