Capítulo 29

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Gabriela Pv'

Uma semana depois...

Nem acreditava que havia passado uma semana. E melhor ainda, uma semana tranquila, sem ninguém  me arrastando pra seja la o que for.

Hoje pela manhã, fui até o postinho pra retirar os pontos. Não sentia mais dor. Me disseram pra eu voltar pras minhas atividades ao poucos.

Agora estou aqui de frente pro espelho, analisando meu rosto. O nariz quebrado estava finalmente no lugar, talvez uns milímetros torto, ou talvez fosse coisa da minha imaginação.

- Filha?- Bateu na porta.- Ta viva ai?

Quando disse que foi uma semana tranquila, esqueci apenas de mencionar que estava evitando minha mãe. Ela quer forçar uma relação entre mim e minha vó, que não  existe e eu não faço questão.

Minha mãe não fazia ideia das coisas que ouvi sobre meu pai naquele dia.

- To saindo.- Ajeitei a tolha enrolada no meu corpo e sai do banheiro, segui direto pro meu quarto.

- Sério que vai continuar agindo como criança?- Me seguiu.

- Da um tempo mãe.- Bati a porta e tranquei a mesma.

Procurei meu uniforme no meio daquela bagunça de roupas, ainda não tive coragem de arrumar.

Peguei uma lingerie preta, uma calça jeans escura e a blusa de uniforme.

Hoje era dia de voltar a realidade, não queria de forma nenhuma perder esse ano, justo o último.

Me vesti. Arrumei meu cabelo deixando ele solto mesmo, gostava de exibir meus cachos. Passei uma maquiagem leve, apenas para esconder o meu cansaço. Por fim calcei uma rasteirinha.

Peguei a mochila jogada no canto, verifiquei se tinha tudo o que precisava e sai do quarto.

- To indo mãe.- Ela estava sentada no sofá assistindo a alguma novela que eu não sabia o nome.

- Vai com Deus.- Me puxou e me deu um beijo na bochecha.- Juízo.

- Pode deixar Dona Cristiane.- Sai de casa procurando por Mayra.

Imaginei que ela havia me esquecido, ja que não mandou nenhuma mensagem.

Comecei a descer o morro, e levei um baita susto quando alguém tocou em meu braço.

- Nossa amiga, eu to tão  feia assim?- Colocou a mão sobre o peito se fazendo de ofendida.

- A sua piranha.- Bati em seu ombro.- Pensei que tinha me esquecido.

- Ta de brincadeira que oa esquecer minha parceira de crime?- Deu risada.- Aquela turma é um saco sem tu por la.

- Sou o sol daquele lugar amore.- Fiz charme e ela caiu na risada.

Continuamos nosso caminho com uma conversa animada. Era noite de lua cheia.

Passamos pelo portão e as mesmas piranhas de sempre ficaram nos olhando e fazendo careta.

Fiz de conta que ela nem existiam. Continuamos e mais a frente avistei a diretora, ela me olhou assustada.

- Gabriela?- Perguntou desacreditada, parecia que eu era um fantasma.

- Oi?- Perguntei confusa.

- O que faz aqui? Sua matrícula foi cancelada.

- Como é que é?- Alterei o tom e geral me olhou, fiquei super sem graça.

- Você sumiu por um mês, procuramos por sua mãe mas ela não soube nos informar o porque parou de vir.

- E não tem como reabrir essa matrícula de novo não?- Coloquei as mãos na cintura.

- Precisaria de ter um motivo muito bom, e como comprovar isso.- Só podia ser brincadeira, quando eu achava que estava tudo bem me vem essa.- Bom, preciso ir.- Deu as costas e fui embora por um corredor.

Mayra me puxou pra um canto mais reservado.

- Que droga, tudo culpa daquele filho da puta.- Disse morrendo de ódio.

- Calma, por que você não  conversa com ele? Talvez ele te ajude.

- E como eu vou achar ele?- Ela fez uma careta engraçada.

- Simples.- Pegou o celular e digitou um número.

Em seguida se afastou de mim, conversava com alguém. Minutos depois voltou pra perto de mim.

- Pronto, Vitinho vai falar com ele.

- Ai droga.- Não  sabia se queria ter contato com aquele canalha, ainda mais depois de toda essa confusão.

...

Mayra voltou comigo pra casa  mesmo depois de eu insistir pra ela assistir a aula.

- Ele é  muito mais legal do que eu pensava, sabe?- Ela Contava sobre sua relação com Vitinho, mas eu nem prestava tanta atenção. Estava atordoada.

Escutei um ronco de moto, um que era quase irreconhecível nessa favela. Parei de andar na mesma hora.

- Que foi menina?- Mayra olhou pra minha cara.

Logo Chucky estava parado ao nosso lado. Como sempre sem o capacete.

- Manda o papo.- Não disse nada, nem sabia o que falar.- E pra hoje ou não? - Cruzou os braços.

- Oi? O que?- Não esperava ver ele tão cedo. Tudo bem que uma hora ou outra esbarraria com ele.

- Tu não precisa falar comigo, to aqui po.- Comecei a rir, não dava pra acreditar que ele aceito meu pedido assim tão rápido.- Sem paciência  pra você.- Girou a chave na moto a ligando.

- Espera!- Parei de rir e fiquei séria, pelo menos eu tentei.- E que tu só ferra com minha vida, até quando não está mais nela.- Não era o que devia dizer, mas foi o que senti vontade.

- Do que tu ta falando?- Se mantinha calmo.

- Perdi minha matricula na escola por sua causa.- Apontei o dedo na cara dele.

- Po.- Coçou a cabeça.- Era só isso?- Assenti.- Sobe ai.- Apontei pra mim com uma interrogação no meio da cara.- Tu mesmo.

Olhei pra Mayra e ela confirmou com a cabeça.

Ele pilotou em alta velocidade até a escola, o que não demorou nem cinco minutos.

Entramos e fomos até a sala da diretora, uma moça tentou nos impedir, mas Chucky levantou a blusa revelando um revólver prata.

- Ta ficando maluca.- A diretora o olhou assustada.

- Com que permissão você  entrou aqui.

- Com mesma que tu tem pra continuar com essa palhaçada aqui.- Abriu os braços.

- O que é isso? O que ta acontecendo aqui?

- Me diz você.- Se sentou em uma cadeira de frente pra ela.- Por que tirou a matrícula dela?- A diretora me olhou e depois pra ele.

- Pois bem...- Ele a interrompeu.

- Pois bem é o caralho- Levantou.- Tu resolve essa parada ai o quanto antes.- Ficou em silêncio.- Ta entendido?- Bateu forte na mesma e ela se assustou.

- Sim... sim.- Olhou pra mim.- Venha amanhã  e estara matriculada novamente senhorita.

Sorri contente. Chucky lhe deu uma última olhada e saiu da sala, eu fui junto.

- Obrigada.- Ele não disse nada continuou andando até sua moto.

Apenas me esperou subir na garupa e me deixou em casa. Em completo silêncio.

...

In My BloodWhere stories live. Discover now