Capítulo 23

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Gabriela Pv'

 Acordei atordoada. Levou alguns segundos até conseguir abrir meus olhos pro completo.

Olhei para os lados, as paredes em tons pastéis e os aparelhos ligados a mim, me diziam claramente que estava em um hospital. Mas nem um pouco parecido com o postinho la do morro. Era algo muito mais elaborado, e mais bonito também.

 Passei a mão no meu rosto sentindo meu nariz enfaixado, aquele desgraçado conseguiu quebrar meu lindo nariz. Tentei me sentar na cama mas a dor na minha costela ardeu mais que fogo.

 - Opa, calma ai mocinha.- Um cara alto vestido de branco entrou na sala rapidamente.

- Que susto.- Elevei a mão sobre o peito, me recuperando.- Ta me vigiando porra?- Precisava sair dali o meu rápido possível. Estar em território desconhecido para mim não era nada bom. Com muito esforço consegui sentar na cama.

- Relaxa ai.- Me fez deitar novamente.

- Quem é você?- Perguntei sem paciência. Ele apontou para o crachá dependurado em seu jaleco.

- Doutor Matias Borges.- Sorriu simpático.- Você precisa de repouso, ainda mais depois de um cirurgia.- Arregalei os olhos.

- Que cirurgia Doutor?- Passei a mão aonde senti a dor a poucos minutos atrás. Assim como o meu nariz, minha costela estava enfaixada.- Porra, eu não lembro de nada.- Elevei a mão na cabeça.

- Com o tempo você vai recordar.- Deu a volta indo até a beirada da cama e pegou uma folha la.- Chegou aqui desacordada, fizemos algumas radiografias do seu cranio, está tudo certo por ai mocinha.

- Onde é aqui? Quem me trouxe até aqui? Quando vou poder ir pra casa?- Soltei uma pergunta atrás da outra, ele deu risada.

- Fica tranquila.- Anotou algo em um prancheta.- Você foi transferida do posto de saúde do morro da Paz. E para te liberar preciso que alguém assine sua alta e te leve pra casa, já que no seu registro conta que você tem 17 anos.

- Minha mãe não sabe que estou aqui?

- Não foi informado nada sobre sua mãe.- Meu coração faltou saltar pela boca, será que tava tudo bem com ela? Será cadê aquele desgraçado?- Mas já que falou sobre vou verificar.

- Ela trabalha nesse postinho doutor.- Ele assentiu e foi em direção a porta.- Doutor?- O chamei, notei que em momento algum ele tocou no assunto do bebê que crescia dentro de mim.- Ele ta bem?- Alisei a barriga com os olhos já cheio de lagrimas.

- Infelizmente não, devido as pancadas você sofreu um aborto.- Abaixou a cabeça e saiu do quarto.

 Fiquei sem rumo. Sabia que essa criança sofreria se viesse a esse mundo, mas não esperava que ela fosse tirada de mim dessa forma.

 As lagrimas desciam pelo meu rosto sem minha permissão. Mas as sequei na hora que escutei a porta ser aberta novamente.

- Gabi?- Mayra entrou correndo e me abraçou.- Desculpa Gabi, eu não sabia onde tava com a cabeça de te deixar no meio dessa confusão. Me perdoa?- Segurou me rosto olhando dentro dos meus olhos. 

- Calma!- Ela assustou.- O que ta acontecendo? Como você veio parar aqui?

- Vitinho me contou tudo, me falou o que ele te fez.- Ela começou a chorar.- Me desculpa, eu não sabia.

- Tudo bem Mayra, depois a gente resolve isso.- Ela me olhou sem entender.

- Você ta bem?- Limpou um lagrima solitário que desceu pelo meu rosto.

- Não muito, mas vou ficar quando sair daqui.- Ela assentiu.

- Vitinho ta resolvendo isso pra você.- Por essa eu não esperava.

- Foi a mando dele?- Perguntei já com raiva, depois de tudo isso ele ainda iria querer me forçar a algo?

- Chucky não sabe que você ta viva.- Respirei aliviada.

- Então você precisa me ajudar, avisar a minha mãe para ir pra outro canto.- Disparei a falar.- E  garantir que ele nunca saiba que ainda to viva.

- Não adianta Gabi, ele vai até o inferno só pra te trazer de volta, se ele quiser.- Disse com o olhar triste.- Mas fica tranquila, Vitinho disse que o eles estavam fazendo deu certo. Seja la o que for.

- Vamos bora daqui, antes que os cana aparece.- Vitinho adentrou no quarto com a respiração descontrolada.

- O que foi que tu fez?- Mayra falou brava. Dei risada da cena.

- Não acredito que vocês tão juntos.- Vitinho me ajudou a levantar.

- Deu não irmão, feiticeira do caralho ela.- Mayra deu um leve tapa nele- Ooh! Vamos parar?- Me apoiei no ombro do Vitinho e começamos a caminhar.

 Seguimos até um elevador, escutei a voz do doutor no final do corredor. Vitinho na mesma da hora fechou as portas do elevador, ao acionar o botão do térreo. 

- Porra caralho.- Passou a mão na cabeça.- Essas praga deve ta tudo la em baixo.

- Vocês vieram sozinhos?- Os dois assentiram.- Mas que porra de traficante sai por ai sozinho?- Exaltei.

- Foi ideia dela ai, vem de caô pro meu lado não.- Mayra deu risada.

 Quando as portas se abriram podemos escutar uma sirene cada vez mais perto.

- Porra!- Vitinho me pegou no colo com dificuldade.- Caralho tu pesa.

- Vai se foder.- Xinguei.

- Oh preta.- Chamou Mayra.- Pega a chave do carro no meu bolso.- As sirene estavam cada vez mais perto. 

 Assim que ele me colocou no banco de trás do carro, a viatura parou atrás dele.

- Mãos pra cima, não dê mais nenhum passo.- Um policial desceu mirando em Vitinho.

- Leva ela pra casa Mayra.- Vitinho se virou, mas não manteve as mãos pro alto, ele sacou uma pistola.

Mas não deu tempo de ver mais nada. Mayra arrancou com o carro saindo em alta velocidade. Escutei vários disparos, e alguns dele atingiram o nosso carro.

- Que porra.- Mayra bateu forte no volante ao parar poucos metros de distancia do estacionamento.- Eu vou voltar la.- Ela engatou a ré.

- Ta maluca? Ta querendo morrer desgraça.- Vitinho abriu a porta com tudo.- Mandei tu vazar porra. 

- Como? Como saiu de la?- Ela o abraçou.

- Toca pro morro, depois te explico.- Sua mão estava machucada e sangrava muito.

- Desde quando tu sabe dirigir piranha?- Foi o que me deixou mais perdida nessa história.

- Vitinho me ensinou.- Sorriu.- Agora dá pra nos ir pro role.- Disse empolga.

- Rolê o caramba mandada.- Vitinho disse bravo e ela deu risada.

...

 Levou meia hora pra enfim subirmos o morro da Paz, me senti aliviada em estar ali.

- Vou te levar pra minha casa, depois aviso tua mãe.

- Quero ir pra minha casa, quero ver minha mãe!- Os dois se entreolharam.

- Vai ser o primeiro lugar que ele vai te procurar, e acredito que você não quer o ver.- Mayra continuou dirigindo até sua casa.

Eles me ajudaram a descer do carro, quando coloquei os pés no chão um carro branco parou atrás de nós.

- Sério mesmo isso?- Chucky disse ao descer do carro.- Sei de tudo que acontece aqui dentro.

....



In My BloodWhere stories live. Discover now