Capítulo 2

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Gabriela Pv'

Mayra não parava quieta, andava de um lado para o outro, de hora em hora inventava de ir atrás do Vitinho.

- Dá pra ficar quieta, to cansada já.- Ela me deu dedo e se sentou.

Voltei a atenção ao meu celular, entrei no grupo da escola e as aulas de hoje e de segunda foram suspensas, dois alunos haviam morrido na invasão de mais cedo.

As notícias por aqui sempre corriam na velocidade da luz. A invasão foi causada pelos inimigos do morro da Paz. A famosa richa por território, com isso o temido dono do morro, Apolo, acabou sendo morto, e agora ninguém sabia que estava no comando, o que me deixava aflita.

- Gabi?- Me chamou.- A gente podia ir la no posto, a gente faz de conta que foi ver sua mãe.- Revirei os olhos.

- Sossega o facho.- Ela emburrou a cara.

Meu celular tocou, era minha mãe.

Call On

- Filha, não vou conseguir volta pra casa hoje, tem como você me trazer uma jantar aqui?

- Ih mãe, nem fiz comida.

- Pode pegar dinheiro la na gaveta, passa no bar do Chico.-

- Ta bom, to descendo.

- Cuidado!

Call Off

- Era sua mãe?- Assenti.- Ela disse algo sobre ele?

- Claro que não.- Fui até o quarto da minha mãe, peguei o dinheiro, e dei uma ajeitada no cabelo em frente ao pequeno espelho na parede.

- Aonde você vai?

- Levae comida pra ela.- Os olhos de Mayra chegaram a brilhar.

- Posso ir com você?- Juntou as mãos como se fosse rezar.

- Ta bom, mas não é pra fazer escandalo, se não finjo que nem te conheço.- Ela pulou do sofá ee abraçou.- Vamos logo.

Já habia anoitecido, era por volta das sete da noite, normalmente esse horário eu estaria na escola, mas hoje não era um dia normal.

Descemos o morro até o bar do Chico, o mesmo nunca fechava, a não ser quando era obrigado pelos toque de recolher.

- Boa noite Chico.- Cumprimentei o homem de meia idade atrás do balcão.

- Boa menina.- Sorriu.- Cadê sua mãe?

- Ta trabalhando, vim buscar comida pra ela.

- O é pra já, Carol monta um marmitex no capricho ai.- Carol era sua filha mais velha, ela tem 15 anos, se acha a última coca cola do deserto.- Fica a vontade ai, ja ela traz.- Seu Chico foi atender uma mesa.

- Essa menina se acha né.- Mayra disse com cara de deboche.

- Claro, ninguém ta procurando, então ele tem que se achar né.- Brinquei e ela caiu na risada.

Demorou alguna minutos até Carol aparecer com a comida.

- São doze reais.- Disse seca.

- Obrigada.- Disse depois de pagar e pegar a sacola.- Tchau Chico.- Acenou para mim.

Agora era coragem para descer esse morro, o posto era quase no início, bem perto da pista la em baixo.

- Será que essa comida é confiável?- Mayra falou séria.

- Deixa de besteira.

- Tu já viu a forma com aquela piranha te olha, ela pode ter colocado algo ai.- Mayra sempre com suas paranóias.

- Ela não é louca, eu arranco aquele cabelo de mentira dela.- Caiu na risada.

- E por isso que te adoro.

Levamos cerca de vinte minutos até chegar no posto, isso porquê a gente acabou correndo depois de levar um puta susto com um cara super estranho que saiu de um beco.

Entrei na posto com a respiração descontrolada, fui até o balcão da recepção.

- Boa noite, Cristiane está?- A atendente tirou a atenção do computador.

- Ta sim. Você é filha dela, não é?- Assenti.- Vou chama-la, só um instante. A moça entrou em um corredor e sumiu de vista.

- Amiga eu vou atrás dele.- Nem deu tempo nem de eu falar algo, Mayra seguiu pelo mesmo corredor que a moça. Você foi atrás? Nem eu, só espero que ela não demore.

Até me sentei, pelo visto minha mãe vai demorar aparecer por aqui. Em vista de dias comuns isto aqui estava um caos, tinha pessoas reclamando do atendido a toda instante. Mas o que me chamou atenção foi um cara apontando uma arma pra uma enfermeira, firmei as vistas e a coitada estava quase chorando, quando olhei pro cara levei um susto, era o moreno que vi de manhã.

Ele se afastou da mulher, passou a mão na cabeça, e foi nessa hora que nossos olhares se encontraram. Uma mistura de medo e empolgação passou meu corpo, me arrepiando por completo.

  Minha mãe  chegou logo em seguida, veio até  mim e me abraçou.

- Como é  bom te ver.- Sorri. Ele ainda me encarava

- Só  não sei se está quente.- Lhe entreguei a sacola.

- Obrigada filha.- Passou a mão  no meu rosto.

- Caralho, ficam ai fazendo cena, enquanto meu mano ta morrendo la dentro, que porra!- O cara gritou ao se aproximar de nos duas.

- Senhor, eu já pedi para se acalmar, está  tudo bem com seu amigo.- Minha mãe disse com tranquilidade.

- Mas que porra. Não dá  pra senhora agilizar esses bagulho ai não?- Apertou o braço dela.

- Ou tira a mão dela.- Empurrei ele, não ia deixar ele fazer com ela o mesmo que fez com a outra enfermeira.

  - Tu tem ideia de com quem ta mexendo?- Apontou o dedo na minha cara.

- Não, não sei, nem quero saber.- Gritei.- Ta todo mundo cansado, a maioria sentindo dor, e a porra do teu amigo ja ta la dentro, aquieta a porra do cu ai.- Eu não  sabia me controlar quando ficava com raiva.

Os olhos dele estavam vermelhos, e ele bufava como um touro bravo.

- Vai embora daqui Gabriela, e melhor.- Minha mãe me puxou antes que fosse tarde.

  No instante que voltei para realidade, e me dei conta que havia acabado de xingar um traficante, eu sai correndo, como se não houvesse amanhã.

  Quando alcancei um certa distância, parei para respirar. E fui ai que lembrei que a Mayra ficou la.

Peguei meu celular no bolso e liguei pra ela.

Call On

- Cadê você piranha?- Disse ao atender.

- Depois te conto mano, agora sai daí, vou te esperar no bar do chico.

- Mas que droga em.- Desligou.

Call Off

  Segui para o bar, ainda com medo, e pensando na merda que eu havia feito.


In My BloodWhere stories live. Discover now