Novos membros ♡ Capítulo 37

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Remexendo-me na cama, sentia meu corpo doer de uma forma estranha; minhas mãos ardiam e minha costela incomodava a cada respiração que conseguia soltar. Entre minhas poucas lembranças da noite anterior, recordo-me de estar no bar pela décima vez em poucos dias. Com certeza, meu maior defeito é não saber desabafar de outra forma a não ser com a bebida mais forte do local.

As cortinas fechadas, o quarto gelado e um cheiro doce em meu corpo me fazem lembrar da menina que amo.

É bobagem pensar nela mais uma vez, embora eu não consiga ficar um momento sem ela em minha mente conturbada. Levantei-me com dificuldade, encarei minhas mãos com pequenos cortes e o famoso remédio laranja da Mary, que parece curar qualquer machucado. Franzi o cenho, apoiando a mão em minha cabeça ao senti-la doer, e respirei fundo sem conseguir lembrar da noite passada. Condeno-me por qualquer coisa; o sentimento de culpa é um dos piores.

S2

Em silêncio, sento-me à mesa da cozinha, enquanto Mary, sem trocar uma palavra comigo, faz um suco vermelho em seu espremedor potente e barulhento. Meu pai, ao meu lado, toma café enquanto lê seu jornal.

— Pode me dizer como cheguei ontem? — Encaro a senhora à minha frente e a ouço suspirar, o que me parte o coração. — Mary?

Totalmente ignorado, baixo a cabeça, encostando-a na mesa, e escuto o copo ser pousado ao meu lado junto a duas torradas.

— Você voltou a ser o menino inconsequente que era? — A voz seca do meu pai ecoa pela cozinha, fazendo-me engolir o suco de morango com dificuldade.

Antes fosse, talvez não soubesse como voltar a ser quem eu era antes dela.

-Não, apenas não sei como supera-la. –Disse. –Você é a única pessoa que não pode me julgar. –Completei.

Balancei a cabeça temendo ter sito duro demais.

-Estamos com você, não aceitarei sua demissão. Veja isso como férias, e reflita um pouco. -Ele pegou no meu ombro, assustando-me com sua gentileza. –Superar alguém é um inferno.

Palavras sinceras saíram por sua voz rouca e não toquei em minhas torradas mesmo com muita fome. Nenhum pouco orgulhoso do meu estado atual levantei-me da mesa a fim de sair do clima pesado em que me encontrava.

-Sente-se. -Mary me encarou, e seu olhar abatido me fez sentar na cadeira novamente.

Vê-la daquela forma me partia o coração, e não saber como melhorar me fazia sentir ainda pior. Me sentia como uma granada que explodiu e machucou muitas pessoas de uma vez só.

— Ontem, você foi encontrado na rua, espancado, bêbado, sujo, cheio de sangue. — Senti meus olhos se encherem de lágrimas e peguei as mãos geladas de Mary.

Meu pai apoiou sua xícara na mesa, sem conseguir encontrar palavras. Seu silêncio parecia mais pesado do que qualquer reprovação.

— Me perdoe, eu... só nunca passei por isso antes. Estou... — Respirei fundo, deixando as lágrimas caírem. — Não sei como continuar.

Mary levantou-se da cadeira sem pressa e caminhou até mim. A senhora séria sentou-se ao meu lado e encostou minha cabeça em seu ombro. Há semanas, tento organizar meus pensamentos de forma sensata, mas tudo o que consigo é desespero. Sempre soube que carregar um segredo desse porte era difícil; eu sempre soube que não envolvia apenas minha vida.

Ao me apaixonar por Joanne, assumi o risco de amá-la e de tentar guardar um segredo que jamais poderia contar a ela, para meu próprio bem, falhei. Eu a amei de uma forma que não conseguiria esconder nem o que comi no café da manhã, então a contei e, consequentemente, a perdi.

Acasos Do CoraçãoWhere stories live. Discover now