Um rosto na moldura ♡ Capítulo 32

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Que a vida do meu namorado era tumultuada já havia percebido; que seu âmbito familiar era praticamente inexistente, e muito diferente do meu, também. Mesmo me esforçando para ignorar os fatos, estava impossível não notar que ele estava distante e, para dizer o mínimo, estranho. Sentados no carro, sob uma árvore, a rua parecia ainda mais silenciosa. O vento derrubava pequenas folhas, e um fino barulho entrava pela janela entreaberta. Engoli em seco e, mesmo sem saber o que dizer, falei:

— Você sofre mudanças de humor repentinas? —Sua risada interrompeu minha fala. — Falei bobagem? — Resmunguei baixinho.

Sua mão passou rapidamente pelos meus cabelos, desarrumando-os.

— Você não fala bobagens, só pensa mais do que deveria. — Gustavo ajeitou-se no banco do carro, virando-se para mim. — Existem coisas que não sei explicar, mas não sou bipolar, ou pelo menos nunca fui diagnosticado.

Respirei fundo e soltei o ar pelas narinas um pouco congestionadas. Percebi que Gustavo ainda tinha receio de falar sobre sua vida, apesar de já saber muito sobre a minha. Nessas horas, preciso ser cem por cento racional e evitar discussões, mas não consigo.

— Ainda sente receio de conversar sobre assuntos pessoais comigo? — Cruzei os braços, tentando manter a paciência. — Apenas saiba que não há nada que precise guardar só para você, isso pode nos prejudicar, e eu me preocupo.

Gustavo suspirou e apoiou as mãos no volante preto. Seu relógio e as veias aparentes em seu braço o faziam parecer ainda mais bonito. Mas não paquera, Joanne — pensei comigo mesma.

— Não, Anne, claro que não. É só que minha vida é uma bagunça, e infelizmente há coisas que talvez eu não consiga te proporcionar. Isso me deixa pensativo e preocupado, tudo ao meu redor parece um caos...— Suas palavras secas ecoaram dentro do carro fechado, ainda sem me encarar, Gustavo passou a mão no rosto.

Meu coração quase saltou pela boca, não queria ouvir mais sobre isso.

— Não quero ouvir essas coisas, isso me lembra quando estava na estufa! Preciso entrar agora, amanhã é a exposição, às sete da noite. — Gustavo segurou minha mão e acenou com a cabeça, confirmando. — Descanse um pouco e ligue se precisar.

Deixando-o no carro, meu corpo transpirava angústia, suas palavras carregadas estavam me assustando. O que ele quis dizer com coisas que talvez não pode me proporcionar? Fugir do meu próprio namorado foi a coisa mais inesperada que já me aconteceu desde que comecei a namorar. — Joguei meu casaco e minha bolsa sobre a cama e me joguei nela também.

— Joanne, você se apavorou e fugiu. — Falei alto para mim mesma.

Nossa primeira foto em um porta-retratos ao lado da cama me fez pensar. — Peguei-a e passei o dedo pelo seu rosto atrás do vidro. Pensei que fosse impossível uma pessoa ser tão bonita em foto e pessoalmente na mesma proporção, mas esse era o caso dele.

Deitados na grama do jardim, meu melhor amigo e eu aproveitávamos os últimos raios de sol. Alex falava sobre a necessidade de paciência em seus momentos com Alice, mencionando que ela estava passando por uma pequena crise.

— Por que um namoro pode ser tão complicado? — Sussurrei. — Faz dias que o Baker está fechado, e definitivamente não sei o que fazer.

Alex suspirou e ficou pensativo.

— Você precisa considerar que a família dele é quase inexistente e que o pai não facilita. — Alex defendeu Gustavo com firmeza. — Procure ter paciência, mesmo em um namoro, tem coisas que não temos facilidade em desabafar.

Acasos Do CoraçãoWhere stories live. Discover now