Explicações inúteis ♡ Capítulo 29

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 A vida passa depressa por entre os dias iguais e cansativos. A rotina nos faz parar e pensar: já estamos aqui? Eu que o diga; estamos quase na metade do ano, e com isso, está chegando a hora de tomar algumas decisões importantes. Minha vida, por mais entediante que possa parecer aos olhos dos outros, já não é a mesma há vários meses, e eu agradeço por isso. Contando os dias para as inscrições da faculdade, a volta de Michael tem deixado minha cabeça a mil por hora. Semanas se passaram desde sua reaparição repentina e suas afrontas sem noção. — Sinto meu celular vibrar no bolso do meu avental florido.

Limpo as mãos rapidamente e logo o atendo.

— Oi, baby. — Atendo, após o toque insistente.

Sorri ao ouvir Gustavo bufar.

— Nossa, sua voz me cura... Sei que está trabalhando, mas a saudade é ruim. — A voz estranha de Gustavo me faz franzir o cenho, preocupada.

Ele nunca me liga no horário de trabalho, pois prometeu ao meu pai não me atrapalhar, mas felizmente, ele não atrapalha.

— Está tudo bem? Também estou com muita saudade! — Sussurro, afastando-me da cozinha barulhenta. 

Com uma voz abafada e trêmula, Gustavo parecia estar chorando. Embora minha preocupação fosse evidente, me recusei a comentar, ele negaria. Ainda não entendo por que alguns homens têm dificuldade em admitir suas fraquezas — isso é humano.

— Queria te ver hoje, mas... — Sua voz pausa, e uma longa respiração ecoa no meu ouvido. — Meu pai me chamou pra uma conversa nada boa como sempre, ainda estou na fábrica e...

Interrompi sua explicação, tentando confortá-lo.

— Está tudo bem, converse com seu pai e não perca a cabeça. Me ligue se precisar de mim e correrei em sua direção!— Do outro lado da linha, Gustavo resmunga algo que, mesmo me esforçando, não consigo entender. — Agora preciso terminar aqui, meu pai está me chamando... — Bufo ao escutar meu pai gritar meu nome.

Gustavo solta a primeira risada fina, em poucos minutos de ligação.

— Ok, prometo não perder pelo menos a cabeça de baixo. Amo-te, Anne. — Sua risada ao fundo aquece meu coração junto com sua pequena declaração. 

Mesmo com suas brincadeiras e seu jeito de não levar quase nada a sério, eu o prefiro assim.

— Também te amo, Baker. — Sussurro.

A ligação desligou e pude sentir sua angústia por não poder me ver na frequência em que gostaríamos, e para completar seu drama familiar tornou ao Nicholas tentar conhecê-lo a não persistir no sonho de ser médico. Seus dias trabalhando na fábrica têm sido quase que de sol á sol há semanas, visto que o pai acha que isso seria um castigo por seu único filho não seguir suas ordens de cursar administração e seguir com o legado da família.

O dia na padaria passou voando, mesmo sentindo todo o cansaço físico por passar horas em pé, sei que sentirei falta da minha rotina em meio aos doces. Observo meus pais arrumando a vitrine com cookies e sinto-me grata por ter pessoas tão incríveis como pais, mesmo não sendo uma família de comercial de margarina, meus sonhos sempre foram muito nossos. Por mais que nossos corações estejam faltando vários pedaços e os últimos anos terem sidos de muita tristeza, tenho muita sorte em ter nascido aqui.

— Anne, vamos fechar mais cedo hoje. Previsão de temporal intenso, pode nos ajudar aqui fora? — meu pai fala, se aproximando repentinamente.

De um lindo sol a um temporal em questão de minutos.

— Eu te ajudo, irei tirar as cadeiras. — respondo, enquanto meu pai me lança seu melhor sorriso.

Corro para fora pelas portas de vidro, sentindo a brisa quente que rapidamente começa a mudar, prenunciando a tempestade. O céu, que antes estava limpo e ensolarado, agora está tomado por nuvens escuras e pesadas. Começo a recolher as cadeiras, uma a uma, apressada junto aos meus pais, em poucos segundos a ventania já ameaça derrubar alguns objetos mais leves, e as primeiras gotas grossas de chuva começam a cair, batendo no chão de pedra com força.

Acasos Do CoraçãoTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon