Nós dois ♡ Capítulo 22

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Dizem que os melhores momentos da vida não podemos planejar, e, se eu parar para pensar, comigo sempre foi assim. Minha vida sempre foi totalmente diferente das demais, em poucos meses, encontrei pessoas incríveis que me acolheram tão bem e me fizeram feliz. Era como se o mundo tivesse me abraçado novamente. Só que nem sempre a vida nos permite manter essa felicidade, e não podemos fazer nada além de aceitar isso. No corredor frio de um hospital grande, pessoas vão e vêm a todo momento, lutando por suas vidas ou sofrendo por pessoas que amam, assim como eu.

Na sala de espera vazia, tentava me acomodar em uma cadeira desconfortável e fria, com uma impaciência descomunal. Em plena madrugada, sinto meu coração no chão mais uma vez, não sabia o que fazer ou pensar. Enfermeiras ocupadas e médicos conversando com familiares, todo o bagulho me deixava atordoado. A tela do meu celular marcava quatro horas da manhã, e nosso papel de parede mostrava dias felizes que vivemos em meio a poucos meses. 

Minha impaciência persistente não me deixava esperar, então mesmo sem poder, seguir por entre corredores. O barulho de sirenes bagunça minha cabeça, e o cheiro forte de álcool gela minhas narinas ainda ásperas por conta do frio, olhava atentamente para as placas em cima das portas que explicam onde fica cada ala, mas não consigo achava a sala vermelha. 

Droga, lembro-me com clareza do médico gritando sobre esse local. Onde fica? Como eu acho isso?

Por entre o longo corredor de paredes brancas e foscas, apresso os passos ao avistar uma porta branca, com uma janelinha pequena, e sem poder, entrei ali.

— Te achei amor...— sussurrei, quando a vi.

A vi deitada em uma cama com muitos fios ao peito, mas antes que eu pudesse chegar ao leito em que ela estava, uma equipe de profissionais correu passando por mim e puxando um carrinho de emergência.

—Precisa sair aqui! — Um rapaz de branco pediu e me neguei. — Não pode entrar aqui!

Ele me puxou pelo braço e mesmo sem querer fui literalmente arrastado da sala, a vontade de chorar me invadiu e da porta pude vê-la. Meu coração estava a mil, ao redor dela estava lotado por profissionais da saúde apressados, e eu estava observando pelo lado de fora a pessoa que mais amei sofrendo.

— Não, por favor. — Bato minhas mãos no vidro em completo desespero, minha respiração faz o vidro embaçar, e sinto meu coração sendo arrancado do peito.

— Ela está parando! Preciso do desfibrilador! — A voz do médico abafada dentro do quarto me fez socar o vidro com toda minha força. — Carrega em cem, por favor, rápido. — O medico parecia nervoso. — Sem batimentos, carrega de novo! — Ele gritou, usando o desfibrilador, fazendo o corpo de Joanne ser puxado pela carga elétrica no peito.

— ME DEIXEM ENTRAR, ALGUÉM ME DEIXA ENTRAR! — Gritei com a voz falha, sentindo meu pulmão contrair e doer. Apenas uma enfermeira me olhou, e seu olhar caiu. Nada estava adiantando, não funcionava. O médico gesticulava com expressão apavorada, e já não ouvia mais nada. — Alguém me deixa entr... — Naquele momento, meu coração parou também.

Minhas lágrimas caíam sem controle, eu as sentia escorrer pelo rosto até o pescoço e meu corpo desabou no chão, me fazendo sentar na porta da sala vermelha. Nunca senti tamanha dor, meu leito parecia partir-se ao meio, minha respiração falhava. Em alguns minutos, um médico saiu pela pequena porta com a expressão cabisbaixa. 

Levantei-me com dificuldade, e ele se aproximou ainda com a cabeça baixa. Era um senhor grisalho que parecia ter muita experiência, mas seus olhos mostravam uma enorme tristeza.

— Você... você pode me falar o que houve? O coração dela está batendo, certo? — Apontei para os enfermeiros retirando os fios que antes estavam grudados no peito da minha namorada. — Me deixa entrar, isso não é real. — Tapei minha boca com as mãos e chorei o mais alto que pude.

Acasos Do CoraçãoWhere stories live. Discover now