Somos um ponto final. ♡ Capítulo 28

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Sentada a beira do lago Pontchatrain o vento pairava sob meus cabelos soltos, sozinha como há muito tempo não ficava, talvez precisasse de um tempo sem amigos e sem namorado. Ao cair da tarde meus pensamentos passeavam por entre as águas frias do enorme lago a minha frente, dias após o bem dito karaokê tentei esfriar minha cabeça ao máximo procurando uma maneira de contar aos meus amigos e namorado um fato agora importante sobre meu pacato passado. Esses dias após a cantoria foram os mais normais possíveis, trabalhei e vi Gustavo algumas noites por seu trabalho também muito corrido durante a semana. Infelizmente procurei evitar meu casal de amigos por também ter que ver Michael.

Anos atrás no começo do meu primeiro ano do ensino médio, mesmo muito reclusa eu consegui fazer amizades por entre as aulas que fazia longe do Alex. Foi ali que conheci Michael, em um pequeno grupo de amigos ele parecia não querer se destacar, era um menino inteligente e fazia parte do clube de desenhos. Seus amigos pareciam legais e receptivos me chamaram para participar do tal clube de desenho, logo recusei visto que não gostava de desenhar, porém mesmo assim permaneci sentada perto deles. Mas, foi o Michael que me chamou atenção por seu jeito calmo e formal de falar, com o passar as aulas ele me contava sua vida e seus sonhos de se tornar um design de jogos. De inicio pensei que ele era mesmo um nerd original, mas me enganei.

Meses passavam e toda aula sentava-me perto deles, talvez por nunca escutar nada desrespeitoso e nem olhares intencionais consegui me enturmar fácil. Mas fácil ainda com Michael um menino normal, simples e com seus óculos estilo John Lennon ele conseguiu minha atenção. Talvez fosse a primeira vez que pensei em alguém fora da bolha de amizade.

Sem espalhar para ninguém, nossa amizade foi crescendo dentre as aulas e a biblioteca, lembro-me com clareza seu jeito calmo me explicando traços de um desenho perfeito. Seu jeito manso me encantava, e sim, eu me apaixonei por o menino desenhista com covinhas simpáticas. Minha primeira e traumática paixão. -O vento gelado me faz encolher os braços abraçando meu casaco, minha mente lembra como se fosse hoje.

Vezes ou outras ele brincava que meu sorriso era tão bonito que seu coração doía ao palpitar, e nesses detalhes foi onde imaginei que ele também gostasse de mim. Ainda hoje depois de anos penso como não percebi que ele era falso ao dizer que gostava de mim mais que a lua gostava do céu. A primeira vez que Michael me chamou para sair foi exatamente onde estou agora, sentados aqui com dois picolés de morango e livros na mochila, ele disse que gostava de mim. Aqui também foi onde dei meu primeiro beijo, desajeitado e gelado os lábios dele tocou aos meus com sua calma.

A menina tola seguiu acreditando em frases fofas e mãos dadas em segredo. Em um belo dia Michael não apareceu pra aula, depois semanas e meses. Ninguém em sua casa e uma transferência de escola repentina sem despedida e celular na caixa postal, eu fui abandonada. E após muitos dias entre lágrimas e a espera de um telefonema que nunca vinha, por entre os livros da biblioteca seu antigo grupo de amigos que antes não sabiam de nada, falavam que pelo menos antes de ir ele conseguiu me tirar um beijinho. Eu fui uma brincadeira entre nerds do colegial, e não tive com quem desabafar por pura vergonha.

A noite aparecia lentamente, as nuvens alaranjadas se despediam e sem pressa de ir embora da beira do lago eu apreciava as gaivotas tomarem seu rumo céu adentro. Mensagens não respondidas na caixa de entrada me incomodavam, afinal somente meus pais sabiam do meu tempo a sós comigo mesma, pois esse problema devia ser somente meu. Com um pacote de donuts, matava minha fome e minha impaciência.

Sempre costumo dizer que a vida arruma jeitos de me por contra a parede, talvez para testar minha força ou minha paciência, mas me recuso a enlouquecer ou se quer chorar dessa vez. -Com o celular em mãos, disco o número do Baker que atende de imediato.

-O...oi Anne onde você está e porque não me respondeu? Está tudo bem? Ou está em apuros? Queria ter ligado antes, mas achei que você estava ocupada. -Sua voz impaciente em um lugar abafado me fez suspirar.

Acasos Do CoraçãoWhere stories live. Discover now