Deixar fluir ♡ Capítulo 11

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Sentadas à beira do lago Pontchartrain, Alice e eu conversávamos, longe de todos e mais perto de nós mesmas. Chamei-a aqui em uma tarde tediosa para falarmos sobre assuntos de mulher e os acontecimentos recentes com Gustavo. Pensei muito a respeito e, por um momento, não quis contar a ninguém sobre o que aconteceu na padaria alguns dias atrás. Mas sempre desejei ter uma amiga em quem pudesse confiar para dividir meus caos e casos. Finalmente, tenho essa amiga, e confio plenamente nela.

Joguei uma pequena pedra no lago com o máximo de força que meus braços permitiam. Alice permanecia em silêncio, provavelmente processando tudo o que eu havia contado sobre aquela manhã e o que aconteceu uns dias atrás na padaria.  

— Amiga, como foi o trabalho hoje? — Alice perguntou, fazendo-me pensar por um segundo que ela mencionaria o Gustavo.

— Foi normal, muitas receitas, e fiz um bolo de aniversário enorme, olha — mostrei a ela a foto da obra de arte que havia tirado com meu celular.

Levei um dia inteiro para fazer o bolo, todo branco, com borboletas douradas e um jardim de elfos no topo.

— Que lindo! — ela gritou, fazendo ecoar, e olhares se voltaram para nós de imediato. — Você deve ser ruim em algo, não é possível — completou, amarrando seus cabelos cacheados em um rabo de cavalo.

— Pessoas, não sou boa com pessoas — suspirei, fazendo-a me encarar seriamente. — O que foi?

— Agora escuta, vou falar sobre aquele cara!— virou-se para meu lado e pegou o celular da minha mão. — Sua atenção é minha, larga isso. — ela falou, arqueando uma sobrancelha e colocando meu celular no bolso. 

Bufei, revirando os olhos.

— Está bem, manda ver, Moore — ela parecia empolgada com nossa conversa.

Alice me encarou por alguns segundos e logo consentiu.

— Fiquei feliz por você ter me chamado pra uma conversa de garotas, mesmo a gente se conhecendo há alguns meses apenas. O que percebo desde o ensino médio e diante de tudo que seu irmão me contava... — minha garganta seca, mas ela continua. — Você é uma das pessoas mais incríveis do mundo. Seu irmão te colocava num altar e agora sei por quê. Você é uma pessoa doce e gentil, seu coração é do tamanho desse lago aqui e com a mesma profundidade.

Neguei, tímida.

— Vai me fazer chorar, Moore — sussurrei, mas ela continuou.

— Sempre achei que você fosse chata. E, às vezes, é mesmo, mas dane-se, você é incrível. — sua risada foi inevitável, o que me fez rir também. — Mas também sei de tudo que você passou, sei da sua timidez e da forma como você tem dificuldade em multidões, mesmo se destacando nelas.

— Nossa, nem sei o que... — ela me interrompe, apontando o dedo indicador na minha direção.

Tagarela, ela gesticula ao me explicar tudo que achava sobre mim. Acho que ninguém nunca foi tão sincera sobre a minha personalidade.

— Vejo em você tudo pra ser feliz, onde e com quem quiser. Você tem pais ótimos, tinha um irmão incrível, um amigo de ouro, e tem a mim, que sou fantástica — ela falou com graça, fazendo-me sorrir. — Joanne, eu sou a pessoa que nunca vai deixar você se arriscar em algo sabendo do perigo. Acho que o que posso te dizer é que conheço o Gustavo desde criança, e quero que ele te conte a história dele, não eu. Só quero que saiba, ele foi um idiota na escola e, nossa, eu sentia ódio quando ele fingia não me conhecer.

Senti meu coração acelerar com suas declarações. Ela realmente parecia magoada com o que Gustavo havia feito no passado, mesmo sem nunca tocar completamente no assunto. Sem a interromper, permaneci em silêncio, observando suas expressões, seu modo de falar, e guardando seus conselhos.

Acasos Do CoraçãoWhere stories live. Discover now