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Tomando fôlego e erguendo-se, Alfonso deparou com Christian Chavez. O pai de Diego fora seu amigo de infância. Ape­sar de estar com mais de trinta anos, mantinha o ar jovial e o sorriso de garoto travesso que exibia naquele momento.

- Não o ouvi chegar, Christian.

- E eu o chamei várias vezes. Estava fora deste mun­do, homem!

Assim dizendo, Christian pôs as mãos na cintura e olhou em volta, fazendo Alfonso pensar que um sujeito de terno e gra­vata em uma obra era uma visão muito engraçada.

- Precisa de emprego? Tenho um martelo extra.

Era uma velha brincadeira entre os dois. Christian era um gênio da matemática, muito hábil com relacionamentos humanos, porém não conseguia desatarraxar uma lâmpada sem instruções por escrito, passo a passo. Alfonso continuou:

- Já colocou as prateleiras na lavanderia?

- Não, mas num belo dia apareceram pregadas na pa­rede. Você teve alguma coisa a ver com isso ou foram os duendes que fizeram o trabalho?

- Não contrato duendes, Christian. O sindicato deles é muito desorganizado.

- Que pena! Mas sou muito grato aos duendes por te­rem resolvido esse problema para mim.

Aquele diálogo de duplo sentido era um código entre os dois amigos, onde um agradecia ao outro pela gentileza. Christian mudou de assunto:

- O primeiro andar está maravilhoso. Catarina e Maite estão me deixando loucos com essa história de aulas de bale. Creio que começam no mês que vem.

- Sem dúvida. Pelo menos o térreo ficará pronto. - Alfonso começou a arrumar o armário que ia pregar. - E o que faz aqui a esta hora do dia? Horário de almoço mais longo?

- O serviço bancário é mais duro do que pensa, amigão.

- Que mãos macias - provocou Alfonso, fungando. - E está usando perfume também?


- Será que não reconhece cheiro de loção pós-barba? Bem, o fato é que tinha uma reunião fora e consegui sair mais cedo, e resolvi vir visitá-lo para ver o que está apron­tando neste velho prédio. O dinheiro do banco está metido nisto, você sabe.

Alfonso sorriu, olhando por cima do ombro.

- A cliente escolheu o melhor empreiteiro.

Christian resmungou algo sarcástico por entre os dentes cer­rados, mas que simbolizava o afeto entre os dois amigos, e disse em voz alta:

- Então, pelo que ouvi falar, você e a bailarina estão dançando juntos.

- Cidade pequena, mexericos demais - murmurou Alfonso.

- Ela é linda. - Christian aproximou-se, examinando de perto o trabalho de Alfonso. - Já assistiu a um espetáculo de bale?

- Não.

- Eu já. Minha irmã caçula... lembra-se de Sol? Teve aulas de bale alguns anos, quando éramos crianças. Dançou o Quebra-nozes. Até que foi interessante... Ratos gigan­tes, lutas com espadas, árvores de Natal enormes... O resto eram apenas pessoas pulando e rodopiando. Agradou a todos os gostos.

- Ótimo.

- Mas, como ia dizendo, Sol acabou de voltar para casa. Morou em Kentucky nos últimos anos e, por fim, di­vorciou-se do idiota com quem se casou. Vai ficar com nos­sos pais até arrumar a vida.

Alfonso apenas acenou, demonstrando prestar atenção.

- Então, pensei que já que voltou à circulação, poderia levá-la para dar uma volta. Animá-la um pouco. Um cine­ma... um jantar.

Alfonso continuou seu trabalho, sem nada dizer. Christian pigarreou.

- Pensei em você. Sol passou por maus bocados. Seria formidável se pudesse se relacionar com um sujeito decente para variar. Ela tinha uma queda por você quando éramos crianças. Então... vai telefonar para minha irmã?

Alfonso encarou-o, parecendo voltar de outro mundo.

- O quê? Sair com quem?

- Ora, Alfonso! Sol! Minha irmã! Vai telefonar para ela e convidá-la para sair?

- Eu?!


- Herrera, acabou de dizer...

- Espere um minuto. - Alfonso largou a trena e tentou compreender. - Olhe, acho que não posso fazer isso. Es­tou saindo com Anny.

I really like youWhere stories live. Discover now