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- Ele está bem - disse uma mulher como se lesse seus pensamentos, sentando-se no sofá ao seu lado. Tinha a marca registrada dos Portillo: loura, bonita e desinibida.

- Meu nome é Rachel. Sou tia de Anny. Somos uma família bastante indisciplinada, não?

- Vocês são muitos - disse Alfonso, tentando traçar mentalmente uma árvore genealógica.

Rachel. Irmã da mãe de Anny. Casada com o dono do bar que era meio-irmão de Jack. Ufa! Era difícil armar o quebra-cabeça, pensou.

- Logo vai se acostumar - disse Rachel sorrindo. - Aquele ali é meu marido, está fingindo enforcar nosso filho Diego que estava conversando com Marta, a ruiva bonita, mulher de meu irmão Pascual, e Laura, a caçula de Pascual e Marta. Pascual está ali, discutindo com meu outro irmão, Alex. E Ariane, a esposa de Alex, aquela ruiva maravilhosa, parece estar dizendo algo muito importante para sua filha Carmen e a pequena Vivi, filha de Jack e de Angel. O jovem alto e bonito que está saindo da cozinha é o primogênito de Pascual, Fred, que parece ter ido convencer minha mãe, Nádia, a dar-lhe um pedaço de bolo. Entendeu?

- Bem...

- Vai absorver com o tempo. - Rachel soltou uma risada divertida e deu-lhe um tapinha no joelho. - E ainda existem muitos outros que não estão aqui. E pode ficar descansado que seu filho está bem, e... Você não está bebendo. O que vai querer? Vinho?

- Claro, obrigado.

- Pode deixar que vou buscar - disse Rachel, levantando-se com a mesma velocidade com que se sentara.

Imediatamente Fred tomou-lhe o lugar e começou a conversar sobre carpintaria.
Esse, pelo menos, era um assunto que podia levar avante, pensou Alfonso.

Anny atravessou a sala, abrindo caminho entre adultos e crianças, e sentou-se no braço do sofá, oferecendo-lhe um copo de vinho.

- Tudo bem por aqui?

- Sim. Estou agindo conforme o manual dos escoteiros que diz: quando estiver perdido, apenas sente em um lugar, que os outros o acharão. As pessoas sentam perto de mim, conversam um pouco e seguem adiante. Em breve conhecerei todos os detalhes de sua família, se continuar neste sofá e usando este sistema.

Quando virou a cabeça para o lado, viu que Fred já seguira adiante, e Alex sentava-se, colocando os pés na mesinha de centro.

- Então, Ariane e eu estamos pensando em acrescentar um ou dois cômodos na nossa casa de campo.

Alfonso sorriu e voltou-se de novo para Anny, sussurrando:

- Percebe o que digo?

Mas ela levantou-se e foi para a cozinha onde Marichelo dava os retoques finais em uma salada enorme. Nádia estava no fogão supervisionando o trabalho de Laura, que mexia uma panela.

- Precisam de ajuda? - perguntou Anny.

- Sempre há gente demais na minha cozinha - replicou Nádia.

Os cabelos da senhora eram brancos como neve e o rosto marcado pelos anos. Mas o olhar era cheio de vivacidade. Disse a Laura:

- Muito bem. Pode ir agora.

- Mas quero comer, vovó. Estamos todos famintos!

- Logo. Diga a seus irmãos e irmãs, primos e primas, para colocarem pratos e talheres na mesa.

- Certo! - respondeu a menina, saindo da cozinha e já gritando ordens.
- Essa gosta de mandar - comentou Nádia.

- Mãe! Todos na nossa família gostam - disse Marichelo rindo. - E como vai Alfonso, Anny?

- Está conversando com o tio Alex - Anny examinava o que fervia nas panelas. - Não é maravilhoso?

- Tem um olhar bondoso mas decidido - comentou Nádia. - E cuida bem do filho. Você tem bom gosto, Anny.

- Tive bons exemplos. - Anny inclinou-se e beijou a avó. - Obrigada por recebê-lo.

Nádia escondeu a emoção.

- Vá ajudar a pôr a mesa. Seu jovem amigo e o filho vão pensar que não se come nesta casa.

- Em breve verão que é bem o contrário - replicou Anny, pegando uma torrada e beijando a mãe ao sair da cozinha.

- Bem - disse Nádia, mexendo em outra panela. - Logo teremos um casamento para dançar. Você está contente com a escolha de Anny, filha?

- Claro. Ele é um bom homem e a faz feliz. Para ser sincera, eu não teria escolhido melhor se tivesse que arrumar-lhe um marido. - Olhou para a mãe, emocionada. - Oh! A minha garotinha vai se casar!

- Sei disso, filha - disse Nádia correndo a abraçar Marichelo e oferecendo a ponta do avental para que a filha enxugasse os olhos úmidos.

No meio da semana seguinte, Anny já estava ansiosa para abrir as portas da escola e receber as primeiras alunas. O salão de dança estava pronto, e tudo brilhava, do chão aos espelhos. O escritório estava arrumado e os vestiários e banheiros prontos.

Escola de Dança Portillo.

Ela parou na calçada, leu e releu a placa, tapando a boca com as mãos. Os sonhos, concluiu, às vezes se tornavam realidade. Tudo que se tinha a fazer era acreditar com força e trabalhar bastante.

- Senhorita?

Perdida em seus próprios devaneios, Anny estremeceu e voltou-se, piscando várias vezes para a mulher que atravessara a rua. Com um aperto no estômago, lembrou-se de que era a mesma que vira Alfonso carregá-la nos ombros.

- Oh! Como vai?

- Bem, obrigada. Na verdade, ainda não nos conhecemos - disse a outra, retorcendo a alça da bolsa, como senão estivesse muito à vontade. - Sou Irla Rowan.

- Anahí Portillo.

- Sei disso. Aliás, também conheço de vista o seu namorado. O síndico o contratou algumas vezes para fazer reparos no prédio onde moro. De qualquer modo, peguei uma brochura na loja de sua mãe sobre sua escola. Minha filha de oito anos vive pedindo para fazer aulas de bale.

Anny sentiu uma onda de alívio. Não se tratava de um sermão sobre não causar escândalos no meio da rua. Logo alegrou-se de fato, ao perceber a possibilidade de ter uma nova aluna.

- Estou às ordens para conversar com a senhora e sua filha. As primeiras aulas começarão na próxima semana. Gostaria de entrar e visitar a escola?

- Bem, para ser sincera, já andamos espiando pelas janelas, se não se importa.

- Claro que não!

- Eu disse a Leticia, minha filha, que vou pensar a respeito, mas já decidi. Quero que freqüente suas aulas para ver se tem aptidão.

- Então por que não entramos e a senhora me conta mais sobre Leticia?

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