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Mas Pedro Portillo não estava pondo balas em um revólver. Depois que Alfonso saiu, Anny foi encontrá-lo no escritório, estudando o plano de aulas para o semestre. O que Anny não sabia era que fazia dez minutos que ele não saía da mesma página.

Ela atravessou o aposento em silêncio e parou junto à janela. Depois pegou uma xícara de café e colocou-a ao lado do pai, abraçando-o por trás e pousando o queixo em seu ombro.

- Tudo bem, papai?
- Tudo bem, obrigado.

Anny esfregou o rosto no dele e contemplou pela janela o jardim bonito e bem-cuidado. Por um instante, refletiu que pediria à mãe que a ajudasse a arrumar o jardim da escola.

- Alfonso ficou com medo que você atirasse nele.
- Não tenho armas.
- Foi isso que eu disse. Também disse que você sabe que já beijei homens antes. Sabe disso, não é, paizinho?

Anny só o chamava pelo diminutivo quando queria convencê-lo de algo. Ambos sabiam disso.

- O que sei é que quando entrei na cozinha, ele estava com as mãos na sua... estava agarrando minha filhinha.
- E sua filhinha estava com as mãos nele também - replicou Anny, rindo de leve, dando a volta e sentando-se no colo do pai.
- Não acho que a cozinha seja o lugar adequado para... - Pedro calou-se, sem saber como continuar.
- Tem razão, é claro - concordou Anny com um tom de voz comportado. - A cozinha foi feita para se cozinhar. Por certo nunca vi você e mamãe se beijando lá. Teria ficado horrorizada.

Pedro fez força para não rir.

- Cale-se.
- Sempre pensei que, se entrasse na sala e me parecesse que vocês estavam se beijando, na realidade estariam praticando respiração boca-a-boca. É preciso ser previdente.

- É você quem vai necessitar de socorros médicos já, se não parar com isso.
- Antes que isso aconteça, deixe-me perguntar-lhe: gosta de Alfonso como pessoa?
- Sim, é claro, mas isso não significa que darei gritos de júbilo cada vez que entrar na cozinha e deparar com... o que vi há pouco.
- Bem, não acontecerá mais.

Pedro apoiou a testa na da filha.

- Anny...
- Fui ensinada a não esconder nada de você e mamãe. O que sinto e o que faço. Eu gosto de Alfonso. Ainda não sei bem quanto, mas gosto.
- Seus atos sempre foram reflexo de seu íntimo, mas com uma boa dose de bom senso.
- E neste caso também não será diferente.
- E ele, o que sente por você?
- Também não sabe. Vamos ter que descobrir juntos.
- Não sabe? - repetiu Pedro Portillo, semicerrando os olhos. - Bem, então é melhor que se decida logo, ou...
- Papai! - Anny piscou os olhos diversas vezes, fazendo o papel da menina inocente e preocupada. - Vai bater nele por minha causa? Posso ficar olhando?
- Menina, é você quem vai precisar de respiração boca-a-boca logo, logo, porque estou perdendo a paciência...
- Adoro você. - Anny beijou o pai na testa. - Durante anos criou sozinho uma filha, antes de conhecer mamãe. Sabe o que é isso?
Pedro pensou em sua Angel, que fora um bebê e que já tinha seus próprios filhos.

Suspirou, murmurando:

- Sei, sim.
- Como não me sentir atraída por essa faceta de Alfonso Herrera se me orgulho tanto de você por isso?

A expressão de Pedro foi cômica.

- Não dá para discutir com você! - Apertou Anny de encontro ao peito. - Diga a Alfonso que não pretendo comprar um revólver... ainda.

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