03

1.5K 81 5
                                    

A visão geral era de uma alegre e divertida confusão, pensou Anny. Havia o propósito deliberado de dar a impressão de que os brinquedos tinham sido jogados ali ao acaso. Mas ela sabia que tudo fora feito com muito cuidado e um profundo e amoroso conhecimento das crianças, para criar aquele efeito maravilhoso.

Ao entrar na loja com o irmão, sinetas tocaram na porta.

Os clientes perambulavam de um lado para o outro. Um menino brincava nas teclas de um piano a um canto. Atrás do balcão, Anita colocava em uma caixa de presentes um bicho de pelúcia com orelhas enormes.

- É um de meus favoritos - dizia para o comprador. - Sua sobrinha vai adorar.

Os óculos deslizaram para a ponta do nariz, enquanto amarrava uma fita vermelha ao redor da caixa. Então, ergueu a cabeça, piscou várias vezes e exclamou em tom estridente:

- Christopher... Marichelo, venha ver quem está aqui! Oh! Dê-me um beijo, belezoca!

O rapaz obedeceu e deu a volta no balcão, enquanto Anita se derretia na frente dele.

- Estou casada há vinte e cinco anos - comentou com o cliente - mas esse menino me faz sentir jovem de novo. Feliz Natal! Vou chamar sua mãe.

- Não. Pode deixar que vou atrás dela - disse Anny, sorrindo. - Christopher fica aqui para flertar com você.

- Então, pode demorar à vontade - disse Anita, piscando o olho.

O irmão, pensou Anny com benevolência, encantava as mulheres desde pequeno porque era muito bonito. Não, corrigiu para si mesma, enquanto andava pela loja que conhecia desde criança, era mais do que simples aparência física, tratava-se de um charme que ele sabia esbanjar com generosidade, sempre que queria. Há muito descobrira que o irmão possuía uma certa magia.

Alguns homens não precisavam fazer nada para deixar as mulheres estáticas.

Pensando nisso, Anny deu a volta na seção de carros de brinquedo e abriu caminho entre uma pequena multidão de compradores.

Foi então que avistou o homem desconhecido. Era lindo, pensou. Não. O termo era muito feminino, corrigiu para si mesma. "Viril" era um adjetivo melhor. Ele era... um homem e tanto!

Mais de um metro e oitenta de altura, usava jeans desbotado, camisa de flanela e uma jaqueta muito leve para o inverno.

As botas de trabalho pareciam velhas, mas resistentes. Quem diria que um tipo tão displicente podia ser tão sexy?

E havia o detalhe dos cabelos também, observou Anny. Escuros, baixos e ondulados, emoldurando um rosto de traços fortes. Anny não soube como descrever suas feições, pois não eram vulgares nem clássicas. A boca era cheia e parecia ser a única coisa macia no corpo rijo. O nariz era reto, as maçãs do rosto salientes, e os olhos...

Anny não podia ver bem esse detalhe, pois os cílios eram muito longos e estavam abaixados. Mas pareciam ser claros.

Desviou a atenção para as mãos, quando o homem foi pegar um brinquedo. Eram grandes, com dedos longos e fortes.

E enquanto deixava-se levar por um momento do mais completo deleite visual, Anny tropeçou em uma série de carrinhos no chão.

O barulho a fez acordar para a realidade e chamou a atenção do desconhecido que cravou nela os olhos espantados, muito esverdeados e brilhantes.

I really like youOnde histórias criam vida. Descubra agora