No dia seguinte Anny foi até o prédio em reforma na hora do almoço, e depois disso as visitas diárias tornaram-se um hábito. Levava sanduíches, refrigerantes e café para Alfonso e os operários.
Isso podia ser considerado uma espécie de suborno, e era assim que Alfonso pensava. Essas gentilezas tendiam a deixar seus homens mais pacientes e cooperativos quando Anny os bombardeava com perguntas, ou pedia mudanças no que já fora combinado.Mas isso não o impedia de aguardar com ansiedade suas visitas, ou planejar o trabalho de modo a gastar vinte minutos ou meia hora passeando com ela pela cidade, ou tomando um café ao ar livre no restaurante ali perto.
Sabia que seus operários trocavam olhares maliciosos e cutucavam-se sempre que saía com Anny. Porém, como cursara o ginásio com quase todos eles, entendia que os comentários faziam parte da camaradagem.
E quando flagrava um deles olhando para as pernas ou os seios de Anny, bastava um olhar gelado para que o culpado baixasse a cabeça e voltasse ao trabalho.
Mas Alfonso não conseguia entendê-la. Fazia as visitas à obra vestida como se tivesse saído das páginas de uma revista de modas. Perfeita e feminina. Entretanto, caminhava pela poeira e o cimento como se fizesse parte da equipe de operários, fazendo perguntas até sobre a fiação elétrica.
Certa vez Alfonso a surpreendeu em um acalorado debate sobre beisebol com um dos homens. Uma hora depois, ouviu-a falar no celular em francês fluente e sem sotaque. Era uma mulher fora do comum, pensou. Depois de duas semanas naquela rotina, ainda não conseguia decifrá-la, nem conseguia tirá-la do pensamento.
Alfonso voltou à realidade e ficou observando-a perambular pelo salão. Anny usava um suéter azul-marinho sobre uma calça branca. Os cabelos estavam presos no alto da cabeça de maneira displicente e sexy.
O cômodo estava aquecido, graças ao novo sistema de calefação, e Alfonso trouxera amostras de madeira para as vigas do teto.
- O pedreiro está fazendo um trabalho perfeito - comentou Anny, depois de inspecionar as paredes. - Sinto-me culpada por pretender cobrir quase tudo com espelhos.
- E os vidros chegarão em meados de fevereiro.
Anny pegou a amostra de madeira.
- É linda, Poncho. E nem vai se notar quando misturar-se à antiga.
- E essa a idéia.
- Sim. - Anny deixou a peça de lado e encarou-o. - Está indo bem rápido, no tempo previsto, mas... - Aproximou-se dele. - Gostaria de vê-lo em particular.
- Leva tempo para se colocar as estruturas.
- Depende do que planeja construir. - Colocou as mãos nos ombros fortes. - Quero um encontro.
-Já almoçamos
— Outro tipo de encontro. Do tipo que gente grande tem de vez em quando. Jantar, talvez um cinema. Para sua informação, muitos restaurantes ficam abertos de noite também.— Já ouvi dizer. Escute, Anny... — Alfonso deu um passo atrás, mas ela o seguiu. — Eu tenho Arthur, preciso ajudá-lo nos deveres de casa e... outros problemas domésticos.
— Sim. Arthur. Adoro ficar com ele, mas desejo ficar um pouco a sós com o pai também. Não acredito que seu filho vá ficar chorando se sair uma vez à noite. Aliás, é isso mesmo que vamos fazer. Sexta-feira à noite. Vamos jantar. Deixe que eu faço a reserva no restaurante. Vá me buscar às sete horas. Depois, no sábado à tarde, iremos ao cinema e levaremos Arthur. As entradas são por minha conta, e dessa vez eu irei buscá-los. Combinado?
Alfonso deixou que ela fizesse toda a programação, antes de falar:
— Não é assim tão simples, Anny. Terei de providenciar uma baby-sitter, e não sei se...
Alfonso voltou-se ao ver a porta se abrir, com uma expressão de profundo alívio pela interrupção.
— Papai! — Como um raio, Arthur atirou-se em seus braços. — Vimos a picape, e a sra. Chavez disse que podíamos parar. Oi, Anny! — Pôs no chão a mochila com os desenhos de Guerra nas Estrelas e exclamou, encantado: — Nossa! Faz eco aqui! — Gritou de novo: — Oi, Anny!
Ela teve de rir, e levantou o menino nos braços.
— Oi, bonitão! Pronto para me dar um beijo?
— Não... — respondeu ele sorrindo e baixando a cabeça loura, mas era óbvio que desejava receber o carinho.
— Esse é um grave problema dos homens de sua família. — Colocou-o de volta no chão, enquanto uma mulher, um menino e uma menina entravam.
— Alfonso, vi sua picape e pensei em deixar Arthur aqui. A não ser que deseje que fique com ele mais um pouco.
— Não, foi ótimo, obrigado. — Alfonso voltou-se para Anny. — Maite Chaves... Anahí Portillo...
— De certo modo já nos conhecemos — disse a mulher mais velha —, mas talvez não se lembre de mim. Minha irmã, Zoraia, era amiga de sua irmã Angel.
— Claro que me lembro! — exclamou Anny. — Como vai ela?
— Ótima. Vive com a família em Michigan. É enfermeira. — Mai voltou-se para Alfonso. — Espero que não se importe ter passado por aqui, mas estava curiosa para ver o que está fazendo neste prédio velho.
— Mãe... — disse a menina loura, puxando a manga de Mai.
— Só um minuto, Catarina.
— Darei uma volta pela casa com você — ofereceu-se Anny. — Só tome cuidado onde pisa.
— Eu adoraria, mas temos que correr. As crianças me transformaram em motorista particular. Já sabe quando vai inaugurar sua escola de bale?
— Espero começar com aulas vespertinas e noturnas em abril. — Anny relanceou o olhar para Catarina, percebendo o brilho nos olhos da menina. — Você gosta de bale, meu bem?
— Quero ser bailarina clássica.
— Toda emplumada — resmungou o irmão.
— Olhe só, mamãe! — reclamou Catarina.
— Diego, fique quieto! Desculpe esse meu filho mal-educado, Anny.
— Não é preciso. Emplumada? — perguntou Anny, virando-se para Diego.
— Sim — disse ele —, porque usam roupas apertadas, às vezes com penas, e andam assim.
O garoto ergueu-se na ponta dos pés e deu uma volta desengonçada.
Antes que Mai pudesse repreendê-lo, e Catarina reclamar, Anny sorriu, balançando a cabeça com compreensão.
— Interessante — disse. — Quantas pessoas conhece que sabem fazer isso?
Assim falando, ergueu uma perna, abraçou a coxa com um dos braços, encostando-a no ombro, o pé apontando para o teto.
Alfonso ficou embasbacado.
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I really like you
FanfictionEla faria com que tudo fosse perfeito. Cada centímetro, cada recanto, cada detalhe seria elaborado do modo como desejava e visualizava, até que seu sonho se tornasse realidade. Afinal, contentar-se com menos do que a perfeição era perda de tempo. E...