16

1.1K 67 2
                                    

Depois que levou Arthur para a cama, voltou para o andar térreo e preparou um bule de café. Talvez não devesse fazer aquilo, pensou, já tomando a primeira xícara. O café provavelmente lhe tiraria o sono.

Postou-se à janela, bebericando, e olhando para a noite escura. A casa ficava no alto de uma colina, e muito silenciosa quando Arthur dormia. Havia horas, durante o dia, que ele fazia tanto barulho e bagunça que o pai chegava a pensar que nunca teria um momento de paz e tranqüilidade. Mas quando isso acontecia, como naquele momento, pensou, com um sorriso, ficava ansioso pela algazarra do filho. Mais um paradoxo na vida dos pais.

Entretanto, o que sentia no momento era inquietação, um sentimento que não experimentava havia muito tempo. Sendo pai, profissional e cuidando da casa não lhe sobrava tempo para experiências pessoais. E continuaria assim, pensou, caminhando pela cozinha enquanto tomava o café.

Havia trabalho suficiente na casa para mantê-lo ocupado pelo resto da vida. Deveria ter comprado uma menor, pensou, e mais prática. O pai o alertara sobre isso quando fizera o primeiro pagamento do casarão.

O problema era que se apaixonara pelo lugar, e Arthur também. E estava dando certo, concluiu, olhando em torno da cozinha moderna, com os armários com portas de vidro e o balcão de granito.

Entretanto, seu trabalho continuava sendo a grande prioridade, e continuava precisando conciliar os preparativos para o Natal e a incumbência que assumira na nova residência-escola de Anahí Portillo.

Precisava apresentar a planta na tarde seguinte e contratar uma babá para Arthur, durante o período das férias. Mas nunca aprovava nenhuma, e sentia muito remorso por deixar o filho entregue a uma pessoa estranha.

Sabia que Maite Chavez não se importaria de ficar com o menino pelo menos parte do dia, mas depois de tantos favores, Alfonso receava incomodar os vizinhos. Em uma emergência podia chamar a mãe, mas sempre que fazia isso sentia-se um fracasso em relação a Arthur.

Procurava ocupar o tempo do filho, levando-o consigo ao trabalho de vez em quando e à casa do amigo Diego. Nos intervalos, Arthur visitava a avó.

Mas naquele momento, Alfonso admitiu, não era esse o grande problema que atormentava sua mente cansada.

O problema era Anahí Portillo.
Sentia-se muito atraído por ela.
Passou a mão pelos cabelos escuros e tentou ignorar a frustração sexual que o corroía.
Será que já sentira tanto desejo por uma mulher? Claro que sim. Só que não se lembrava. Não conseguia recordar uma única vez na vida em que tivesse experimentado as sensações que Anny lhe despertava.

E aquilo o estava perturbando muito. Por certo, porque fazia muito tempo que não tinha companhia feminina, e por Anahí ser tão provocante e... linda.

Mas não devia entrar em um relacionamento sem pensar nas conseqüências. Não era mais um homem livre para fazer o que bem entendesse, e estava muito feliz assim.

É claro que poderia ter um romance com Anny, se desejasse, sem temer as conseqüências, a curto e médio prazo, pensou. Eram adultos e conheciam seus limites.

- Esse tipo de pensamento pode causar-lhe problemas, Hererra - falou por entre os dentes cerrados.

"Faça seu trabalho, receba o dinheiro, e mantenha distância", concluiu em pensamento.

- E pare de pensar naquele corpo maravilhoso - resmungou no silêncio da cozinha.
Serviu-se de mais uma xícara de café, sabendo que estava se condenando a uma noite insone, da qual sairia exausto. Então, voltou a sentar-se e mergulhou no trabalho.

I really like youWhere stories live. Discover now