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- Desculpe. Fui grosseiro. Quando me irrito com meu pai, não consigo parar.

- Tudo bem. Não me importo de ser chamada de elegante. - Anny mordiscou um pedaço de bife. Não pretendia aborrecer-se. Alfonso não merecia. - Talvez seu pai esteja tão triste e frustrado quanto você. Um não sabe lidar com o outro, e ninguém tem culpa. Espero que façam as pazes.

- Meu pai nunca me enxerga como sou.

Anny sentiu muita pena.

- Querido, não é culpa sua. Sempre desejei que meus pais se orgulhassem de mim, de modo exagerado. Então trabalhei, às vezes demais, para me assegurar de que isso aconteceria. E não foi culpa deles se às vezes me aborreci ou fiz bobagens no trabalho.

- Minha família não é como a sua.

- Está enganado. Você e Arthur se parecem muito com os Portilla's. Talvez seu pai perceba isso e fique imaginando por que não conseguiu ser seu amigo.

- Só dava trabalho para ele.

- Não acredito. Você era apenas uma criança, como Arthur é hoje.

- Não via a hora de terminar o colégio e fazer dezoito anos para partir. E foi isso que aconteceu. Fiz a mala e fui para Washington, com quinhentos dólares no bolso, sem emprego, sem nada. Mas fui embora.

- E deu certo.

- Vivi quase sem dinheiro por três anos, trabalhando em construções, gastando o que ganhava com cerveja e... mulheres bonitas - disse com um sorriso triste. - Então cheguei aos vinte e um anos pobre, relaxado e tolo. E conheci Livia. Eu fazia parte da equipe de operários que trabalhava em uma reforma na casa dos pais dela. Esbarramos um no outro e, para minha surpresa, começamos a sair juntos.

- Por que ficou surpreso?

- Era uma garota que cursava a faculdade, de família rica e conservadora. Tinha educação, dinheiro e muita classe. E eu estava a um passo de ser vagabundo.

Anny observou o rosto, as mãos e o olhar forte de Alfonso. E falou:

- É claro que ela não pensava assim.

- Não. Foi a primeira pessoa a me dizer que eu tinha potencial. A primeira a acreditar em mim. Fez com que adquirisse autoconfiança e determinação. Então parei de gastar dinheiro com bobagens e comecei a amadurecer. Mas você não deve querer ouvir essas coisas.

- Quero sim. - Para mantê-lo falando, Anny encheu os copos de novo. - Livia ajudou-o a começar seu negócio?

- Isso foi depois. - Jamais conversara sobre essas coisas com ninguém, pensou Alfonso. Nem com os pais, amigos ou Arthur. - Era habilidoso com as mãos e tinha uma boa visão de construções. O problema é que nunca tinha pensado muito a respeito. Então percebi que quando planejava ter meu próprio negócio, sentia mais orgulho de mim mesmo.

- Claro, porque respeitava a si mesmo.

- Sim - respondeu Alfonso, ao mesmo tempo que pensava que Anny sempre tinha a palavra certa. - Entretanto, continuava sendo um operário. Não tinha um diploma superior. Os pais de Livia fizeram severas objeções ao casamento.

Anny brincou com a batata no prato, mais interessada na conversa do que na comida.

- Eram limitados, e Livia não.

- Não foi fácil para ela convencê-los, mas conseguiu ir estudar Direito em Georgetown. Nessa época eu trabalhava o dia inteiro e freqüentava a escola de comércio à noite. Começamos a fazer planos. Mais uns dois anos e nos casaríamos. Ela ficaria na universidade até se formar, e eu começaria meu próprio negócio. Então Livia engravidou. - Alfonso fez uma pausa, virando o copo entre as mãos. - Queríamos o bebê, a princípio mais ela do que eu, porque fiquei em estado de choque. Casamos. Livia continuou a estudar, consegui mais uns trabalhos extras. Os pais dela ficaram furiosos. Romperam relações, o que a deixou muito triste.

Anny podia imaginar. Agradeceu aos céus por ter uma família bem diferente.

- Não a mereciam - falou.

Alfonso ergueu o olhar e fitou-a.












I really like youWhere stories live. Discover now