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- Ótimo. - Alfonso causava pena, com seu ir de cão rejeitado e deixando transparecer uma culpa absurda. - Obrigado. Pode ir.

Com um gesto exausto, sentou-se em um balde virado, enquanto ouvia os dois se afastarem e Arthur dizer:

- Papai gritou comigo...

- Sim, eu sei - replicou Anny, beijando o rosto do menino, que estava molhado pelas lágrimas, enquanto desciam as escadas. - E você gritou com ele também. Aposto que seu pai também está triste.

- Acho que não. - Arthur encostou o rosto nas pernas de Anny. - Ele não quer me levar para a Disney.

- Também sei disso. E acho que a culpa é minha.

- O quê?! - exclamou o garotinho, erguendo o olhar espantado.

- Bem... seu pai prometeu fazer essa obra para mim, e entregar em um prazo determinado. Então, por causa dessa promessa, também me comprometi com outras pessoas que agora dependem de mim. - Sorriu para a criança que acompanhava o raciocínio com olhar inteligente. - Se o seu pai quebrar a promessa terei de quebrar a minha, e isso não seria certo com muitas pessoas. Seria, Arthur?

- Não, mas só uma vez...

- Seu pai quebra as promessas que faz para você?

- Não - admitiu a criança, baixando a cabeça

- Não fique triste, meu querido. Quando chegarmos à minha casa vamos ler uma história sobre um outro Arthur. O que tinha um pé de feijão.

- Posso comer biscoitos?

- Sim - replicou Anny, sorrindo e apertando-o contra si.

O menino adormeceu antes de o Arthur do conto de fadas trocar sua vaca pelos feijões mágicos.

Pobre criança, pensou Anny, ajeitando uma manta sobre o pequeno corpo. E pobre Alfonso.
Começava a pensar que não dera crédito suficiente ao homem. Ser pai não era apenas brincar de luta no chão da sala e jogar bola no quintal. As lágrimas, os desapontamentos e a disciplina eram a parte ruim. O problema era precisar dizer não quando o coração desejava concordar.

- É tão amado, meu querido - murmurou, inclinando-se para beijar Arthur na testa. - Seu pai quer que saiba disso.

Quando o telefone tocou, apressou-se a atender, para não acordar o garoto.

- Alô? - Sorriu, e saiu da sala carregando o aparelho. - Davidov! O que fiz para merecer um telefonema do mestre?

Mais tarde, embora se sentisse tola por fazê-lo, Anny retocou a maquiagem e penteou os cabelos. Seria a primeira vez, embora por casualidade, que iria encontrar-se com o pais de Alfonso. Entretanto, se pretendia que fossem seus sogros no futuro, precisava causar uma boa impressão.

Arthur acordara revigorado. Então fora correr no quintal, lutar com uma espada de brinquedo e fazer um forte com paus e pedras que encontrou. Isso resultou em uma enorme bagunça.

Os divertimentos encerraram-se com um lanche na cozinha.

- Meu pai está furioso comigo - confidenciou Arthur, entre dentadas em uma maçã com queijo.

- Não acho. Creio que está um pouco aborrecido porque não pode dar o que você quer. No fundo, os pais querem fazer todas as vontades dos filhos e deixá-los felizes, mas às vezes não é possível.

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