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- Quando fomos a Nova York e ficamos na casa de sua irmã, percebi que era inútil continuar resistindo, e deixei-me levar pelos sentimentos. Até hoje, quando me lembro de vê-la dançando no palco, meu coração dispara. Foi a cena mais linda que já presenciei. Aliás, você é muitas mulheres em uma. Quando dança em um teatro é forte e poderosa. E quando a vi dançar para as crianças na sua futura escola, era delicada como uma fada em um sonho. - Alfonso tomou fôlego e disse com franqueza: - Isso sempre foi algo que me deixou confuso e inseguro.

Agachou-se ao lado de Anny, junto ao tronco caído da árvore onde ela estava sentada.

- Há alguns minutos estava aqui desenhando uma cena em minha mente. Costumo fazer isso. Eu e você, sentados em um balanço que ainda vou comprar.

As lágrimas ameaçavam rolar de novo, mas Anny fez força para não chorar e murmurou:

- Gostei dessa cena.

- Eu também. Sabe, imaginava que estávamos construindo uma morada. Não como a casa que tenho no alto da colina, de cimento e cal, mas uma morada feita de afeto, compreensão e carinho. Tenho tempo e muita paciência para construir porque é importante que as paredes sejam sólidas para durar para sempre.

- E eu o apressei - interrompeu Anny, em tom de remorso.

- Sim, é verdade. Mas também já imaginei outra coisa. Duas pessoas não precisam caminhar no mesmo ritmo para chegar no mesmo lugar. Uma vai correndo, a outra mais devagar...

Uma lágrima conseguiu furar o bloqueio mental, deslizando pelo rosto de Anny.

- Este é o lugar feito para mim. - Acariciou-lhe o rosto com meiguice. - Eu o amo, Alfonso, quero...

- Não quer nada! Quem toma a dianteira aqui sou eu! - Ele a fez levantar do tronco de árvore. - Vê a casa na colina?

- Sim.

- Precisa de reparos, mas tem potencial. Esse cachorrinho que está aí, perseguindo o próprio rabo, foi quase domesticado. Tenho um filho que está voltando da escola em um ônibus atrasado. E quero ir até a sua escola de bale de vez em quando, só para vê-la dançar e ensinar suas alunas. Quero ter filhos com você. Acho que sei lidar bem com crianças pequenas.

- Oh! Alfonso...

- Quieta! Ainda não terminei. Quando chegar o verão, quero sentar com você no jardim que vamos plantar juntos. E é só com você que desejo fazer todas essas coisas.

- Por favor, peça-me logo em casamento, antes que eu desmaie e não consiga dizer que sim.

- E você é apressada e mandona - concluiu Alfonso com expressão de fingido aborrecimento, mas sorrindo em seguida. - Mas eu gosto disso. Case-se comigo, Anny.

Um nó na garganta a impedia de responder, mas abraçou-o com força. O beijo que lhe deu pareceu entregar-lhe seu coração e valeu mais que mil palavras. Pancho começou a latir e a dar voltas desesperadas ao redor dos dois, agarrando-se em suas pernas e fazendo Anny rir.

- Estou tão feliz, querido...

- Mesmo assim não me importaria de ouvi-la dizer que sim.

Ela inclinou a cabeça para trás e abriu a boca para falar, quando o ruído do ônibus e crianças tagarelando e rindo abafaram sua voz.

Anny voltou-se, segurando Alfonso pela cintura, e viu Arthur descer correndo do veículo escolar. O cão saltou ao seu encontro, abanando o rabo.

- Deixe que eu falo - murmurou Anny para Alfonso. - Olá, Arthur bonitão.

O menino viu as lágrimas em seu rosto e lançou um olhar preocupado para o pai.

- Você está machucada, Anny?

- Não. Às vezes gente grande chora porque está tão feliz que parece que vai explodir. Assim é que me sinto neste instante. Lembra-se do que me disse ontem, Arthur?

O menino mordeu o lábio, relanceando um olhar de viés para Alfonso.

- Sim...

- Bem, eis minha resposta para vocês dois... - Abraçou pai e filho ao mesmo tempo. - Sim!

Os olhos de Arthur arregalaram-se como se não conseguisse acreditar.

- Verdade?!

- Sem dúvida!

- Papai, adivinhe!

- O quê?

- Anny vai casar com nós dois! Isso é bom, não é?

- É maravilhoso! Vamos para casa.

Deixaram o carro de Anny e a picape estacionados onde estavam e começaram a subir a colina a pé, em direção à casa. Junto ao gramado, Alfonso parou e beijou-a, fazendo-a refletir que não era tudo maravilhoso, mas sim, perfeito.
















1.....:(

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