38

1K 67 9
                                    

Alfonso Herrera vai ouvir poucas e boas, pensou Anny, furiosa. Se ele aparecer, é claro. Precisava aprender que um encontro marcado para as sete horas não era às sete e meia.

Arrependia-se de ter convencido os pais a sair, concluiu, amuada. Agora não tinha ninguém com quem se queixar. Caminhou pela sala e olhou para o telefone.

Não, recusava-se a ligar para ele de novo. Telefonara às sete e vinte e só a secretária eletrônica respondera. Sim, tinha uma mensagem para Alfonso, mas iria dá-la pessoalmente, pensou com raiva.

E quando pensava no trabalho que tivera para se preparar para o encontro, o sangue fervia em suas veias! Escolher o restaurante ideal e a roupa perfeita... Àquela hora, pensou, teriam sorte de ainda encontrar a mesa reservada. Aliás, decidiu, cancelaria a reserva imediatamente. Se Alfonso pensava que sairia com um homem que não tinha a delicadeza de chegar no horário, estava muito enganado!

Pegou o telefone no momento em que a campainha da porta soou. Aprumou os ombros, ergueu o queixo e dirigiu-se à entrada com toda a calma.

- Estou atrasado, sei disso. Tive um contratempo e não consegui telefonar. Lamento.

As palavras frias que planejara dizer ficaram presas na garganta de Anny. Encarando a expressão do rosto de Alfonso, percebeu que não se tratara de pouco-caso.

- Aconteceu alguma coisa com Arthur?

- Não, ele está bem. Desculpe, Anny. Talvez possamos sair outra noite.

- O que houve com sua mão?

Ela segurou-o pelo pulso. Parte da mão estava coberta com gaze e esparadrapo.

- Falta de cuidado minha. Não é nada, não se preocupe. Levei dois pontos. O pessoal do pronto-socorro trabalha devagar.

- Está sentindo dor?

- Não é nada - insistiu Alfonso.

Mas Anny sabia que era alguma coisa, e mais forte que dor física.

- Vá para casa - disse, por fim. - Estarei lá em meia hora.

- Como?


- Eu levarei o jantar. O restaurante fica para outro dia.

- Não precisa dar-se ao trabalho...

- Alfonso. - Anny segurou-lhe o rosto com ambas as mãos, sentindo muito carinho e pena. - Vá para casa, e irei em seguida. Fora daqui! - finalizou com brandura, fechando a porta.

Como sempre, Anny foi pontual. Quando Alfonso abriu a porta, passou por ele como uma brisa de primavera.

- Vai comer bife - anunciou. - Por sorte tinha carne na geladeira.

Assim falando, voltou da cozinha e tirou o casaco, começando a desembrulhar outras coisas.

- Pode abrir o vinho ou sua mão está incomodando?

- Darei um jeito - respondeu Alfonso, pegando o casaco e sentindo o perfume delicioso, antes de pendurá-lo no gancho atrás da porta. Ficava esquisito ali, uma peça tão feminina e macia ao lado de sua jaqueta de trabalho.

Anny não pertencia àquele ambiente, pensou, olhando para ela.

- Olhe, Anny...

Mas ela entregou-lhe a garrafa de vinho, e enquanto a abria, Alfonso quis saber:

- Por que está fazendo isso?

- Porque gosto de você - respondeu ela, começando a descascar duas batatas. - E porque está com a aparência de quem precisa de uma boa refeição.

- Quantos homens costumam apaixonar-se por você a cada ano?

Anny lançou-lhe um sorriso por sobre o ombro.

- Abra a garrafa, Herrera.

- Está bem.

Alfonso girou o botão do rádio até encontrar uma música clássica que deveria agradá-la. Pegou a louça dos dias de festa que não usava há anos, e pôs a mesa na sala de jantar, de maneira formal. Só usava aquele cômodo em dias especiais.

I really like youWhere stories live. Discover now