Alfonso Herrera vai ouvir poucas e boas, pensou Anny, furiosa. Se ele aparecer, é claro. Precisava aprender que um encontro marcado para as sete horas não era às sete e meia.
Arrependia-se de ter convencido os pais a sair, concluiu, amuada. Agora não tinha ninguém com quem se queixar. Caminhou pela sala e olhou para o telefone.
Não, recusava-se a ligar para ele de novo. Telefonara às sete e vinte e só a secretária eletrônica respondera. Sim, tinha uma mensagem para Alfonso, mas iria dá-la pessoalmente, pensou com raiva.
E quando pensava no trabalho que tivera para se preparar para o encontro, o sangue fervia em suas veias! Escolher o restaurante ideal e a roupa perfeita... Àquela hora, pensou, teriam sorte de ainda encontrar a mesa reservada. Aliás, decidiu, cancelaria a reserva imediatamente. Se Alfonso pensava que sairia com um homem que não tinha a delicadeza de chegar no horário, estava muito enganado!
Pegou o telefone no momento em que a campainha da porta soou. Aprumou os ombros, ergueu o queixo e dirigiu-se à entrada com toda a calma.
- Estou atrasado, sei disso. Tive um contratempo e não consegui telefonar. Lamento.
As palavras frias que planejara dizer ficaram presas na garganta de Anny. Encarando a expressão do rosto de Alfonso, percebeu que não se tratara de pouco-caso.
- Aconteceu alguma coisa com Arthur?
- Não, ele está bem. Desculpe, Anny. Talvez possamos sair outra noite.
- O que houve com sua mão?
Ela segurou-o pelo pulso. Parte da mão estava coberta com gaze e esparadrapo.
- Falta de cuidado minha. Não é nada, não se preocupe. Levei dois pontos. O pessoal do pronto-socorro trabalha devagar.
- Está sentindo dor?
- Não é nada - insistiu Alfonso.
Mas Anny sabia que era alguma coisa, e mais forte que dor física.
- Vá para casa - disse, por fim. - Estarei lá em meia hora.
- Como?
- Eu levarei o jantar. O restaurante fica para outro dia.
- Não precisa dar-se ao trabalho...
- Alfonso. - Anny segurou-lhe o rosto com ambas as mãos, sentindo muito carinho e pena. - Vá para casa, e irei em seguida. Fora daqui! - finalizou com brandura, fechando a porta.
Como sempre, Anny foi pontual. Quando Alfonso abriu a porta, passou por ele como uma brisa de primavera.
- Vai comer bife - anunciou. - Por sorte tinha carne na geladeira.
Assim falando, voltou da cozinha e tirou o casaco, começando a desembrulhar outras coisas.
- Pode abrir o vinho ou sua mão está incomodando?
- Darei um jeito - respondeu Alfonso, pegando o casaco e sentindo o perfume delicioso, antes de pendurá-lo no gancho atrás da porta. Ficava esquisito ali, uma peça tão feminina e macia ao lado de sua jaqueta de trabalho.
Anny não pertencia àquele ambiente, pensou, olhando para ela.
- Olhe, Anny...
Mas ela entregou-lhe a garrafa de vinho, e enquanto a abria, Alfonso quis saber:
- Por que está fazendo isso?
- Porque gosto de você - respondeu ela, começando a descascar duas batatas. - E porque está com a aparência de quem precisa de uma boa refeição.
- Quantos homens costumam apaixonar-se por você a cada ano?
Anny lançou-lhe um sorriso por sobre o ombro.
- Abra a garrafa, Herrera.
- Está bem.
Alfonso girou o botão do rádio até encontrar uma música clássica que deveria agradá-la. Pegou a louça dos dias de festa que não usava há anos, e pôs a mesa na sala de jantar, de maneira formal. Só usava aquele cômodo em dias especiais.
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I really like you
FanfictionEla faria com que tudo fosse perfeito. Cada centímetro, cada recanto, cada detalhe seria elaborado do modo como desejava e visualizava, até que seu sonho se tornasse realidade. Afinal, contentar-se com menos do que a perfeição era perda de tempo. E...