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Certas partes da madeira estavam danificadas e ele gostou da perspectiva de restaurá-las sozinho, fazendo-as ficar novas como as demais. Anny desejava conservar as enormes tábuas do assoalho, e Alfonso faria o mesmo, se a casa fosse sua. A medida que fazia a vistoria, viu-se invadido pela mesma excitação da proprietária em ressaltar de novo todo o grande potencial do velho prédio. Deixar sua marca em um imóvel que lá estava, firme, passando de uma geração para a outra.

Houvera um tempo, pensou Alfonso, em que só trabalhara com as mãos e o cérebro, deixando o coração de lado. Fazia um serviço bem feito e recebia o pagamento. Mas o amor-próprio e o orgulho tinham surgido depois, e isso o fizera aprimorar-se e tornar-se um verdadeiro artesão. Fazer algo bonito para durar era seu objetivo. Construir uma vida.

Voltando o pensamento para o trabalho atual, concluiu que tinha nas mãos uma grande oportunidade e não via a hora de começar a trabalhar. Mesmo que isso significasse lidar com Anahí Portillo e ficar irritado...

Esperava, caso fechassem o negócio, que ela não fosse uma dessas clientes que ficavam aparecendo e rondando toda hora, fazendo perguntas e bisbilhotando. Em especial, concluiu de má vontade, se estivesse usando aquele maldito perfume tão sexy...

Lembrou-se do item "banheiros". As antigas banheiras iriam permanecer, e novas pias, brancas, seriam colocadas. Os ladrilhos ficariam para depois, quando ele trouxesse as amostras para serem escolhidas.

Porém, quando chegaram na parte da cozinha e Anny começou a dar as ordens, Alfonso foi firme:

- Pretende cozinhar de verdade aqui, ou apenas usar o microondas?

- Cozinhar. Sei fazer isso muito bem.

- Então será preciso um trabalho sólido - retrucou ele com brusquidão. - Vai precisar de um ambiente eficiente. A pia deverá ficar sob a janela, e não nessa parede. - Apontou para o local. - A geladeira e o fogão ficarão ali para não precisar correr de um lado para o outro.

- Sim, mas... - ela tentou interrompê-lo.

- Ali ficará a copa - continuou Alfonso, como se não estivesse ouvindo -Com um belo balcão ligado à cozinha. Vamos colocá-lo ali... - Pegou uma trena no bolso. - Sim! E terá espaço para alguns tamboretes, de modo a ter lugar para trabalhar, sentar e circular sem desperdiçar espaço.

- Estava pensando em pôr uma mesa...

- Então vai ficar sempre dando voltas nela, sem necessidade.

- Talvez.

Anny lembrou-se da mesa na copa dos pais, onde sempre conversavam pela manhã. Estava sendo sentimental, concluiu, precisava ser mais prática.

- Deixe-me tomar todas as medidas e da próxima vez trarei desenhos. Poderá estudá-los e tomar sua decisão depois.

- Certo, Herrera! Temos tempo. O andar principal é meu maior interesse.

- Vou levar algum tempo para fazer o projeto e trazer um orçamento. Mas já vou avisando que vai ser caro, e um trabalho de quatro meses.

Anny já chegara a essa conclusão, mas ouvir aquilo do empreiteiro foi um choque. Pensou um instante e acabou suspirando.

- Está bem. Faça o que for necessário e, caso decida contratá-lo, quando estará disponível?


- Em pouco tempo. Conseguirei a licença na prefeitura para a reforma e comprarei uma parte do material. E provável que comece a reforma na primeira semana do ano.

- Que beleza! Apresente o orçamento, Sr. Herrera, e verei se fecharemos negócio.

Ela o deixou tomando medidas e fazendo cálculos, e desceu para ficar no alpendre. Podia ouvir o rumor do tráfego na rua principal, a menos de um quarteirão da casa. E sentia também o odor agradável da fumaça que saía de alguma lareira ou fogão a lenha na vizinhança. O gramado na frente da casa estava um desastre, com ervas daninhas por todos os lados e uma árvore quase morta.

Do outro lado da rua estreita erguia-se um outro edifício de tijolos que fora transformado em prédio de apartamentos. Era antigo, bem cuidado e muito quieto, àquela hora da tarde.


I really like youWhere stories live. Discover now