Capítulo 61

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Meu deus, que angústia

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Meu deus, que angústia. A noite se passou e eu não consegui pregar os olhos nem por um segundo. Os médicos insistem eu não me falar nada mas eu não entendo o porquê. É minha mãe, porra!

Eles nem se quer me deixaram passar a noite com ela. Então eu fiquei sentada no meio do corredor aguardando o dia amanhecer, enquanto abraçava meus pés e pedia que não estivesse se passando nada de grave com ela.

Logo que o sol raiou procurei o médico da Marcela, por mais que ele não queira me dizer nada eu tenho que saber o que está se passando. Está no meu direito.

— Senhorita, falei para ir descansar...

— Olha, doutor. Eu entendo que o senhor está apenas fazendo o seu trabalho e respeitando ao pedido da minha mãe. Mas eu estou no direito de saber o que está acontecendo com ela — falo e seu olhar vacila.

Por algum motivo não gostei daquilo ter acontecido. Odiei, na verdade.

— Está bem... Vamos ao meu consultório — fala e eu o sigo.

Ok... Isso foi fácil demais.

Assim que chegamos ele fecha a porta e me aconselha a sentar. Não gostei disso também.

— Pode falar — digo e ele suspira.

— Bom, faz anos que a saúde da sua mãe anda comprometida e para ser sincero ela viveu mais tempo do que sua doença permitiria que ela vivesse.

Odiei ainda mais ter escutado isso.

— Como assim? O que ela tem? — começo a me exasperar e ele suspira mais uma vez.

— A senhora Marcela tem um câncer terminal. Está num estágio muito avançado e não há mais nada que se possa fazer para ajudá-la.

— Não, você não está falando sério — digo já sentindo meu peito doer — Você não pode está falando sério. Me diga que é mentira, doutor, por favor me diga que ela está bem — suplico.

— Eu sinto muito. Ela vivia negligenciando o tratamento e nós não podíamos fazer nada.

Quando a ficha cai e eu percebo que ele está falando a verdade meu mundo vira de cabeça para baixo. Fico sem chão o ar está longe de ser alcançado por mim e eu meu peito dói tanto que ouvido por mim, um som ensurdecedor vindo dele.

Me levanto com as mãos trémulas não tentando nem ao menos fingir que não estou bem. Estou cansada fingir, estou farta de mentir para mim mesmo que estou bem. Eu não estou nada bem, eu estou longe de estar bem.

— Eu quero ficar com ela — digo com firmeza na voz, uma firmeza que eu desconheço de onde pode ter vindo.

— Tudo bem, ela está sendo transferida para um quarto.

Saio do consultório do doutor e o sigo novamente. Desta vez, até o quarto de Marcela. O quarto em que eu irei me despedir dele, para sempre.

Tento não pensar muito nisso no momento e aproveitar o pouco tempo que me resta ao seu lado. Eu não entendo o porquê de quando eu finalmente acho que vou ser feliz alguma merda acontece na minha vida e tudo volta a ser como antes. Sempre que o mundo começa a ganhar cor e algo acontece e ele torna a ser cinzento e vazio. Não sei por que ainda tenho esperanças de um dia ser feliz, não foi pra isso que eu fui feita.

Está dormindo serenamente, sua respiração está regulada e sua pele está pálida. Eu não acredito que até ontem a gente está se divertindo juntas e hoje ela está em uma maca de hospital.

Me sento ao seu lado e seguro a sua mão. Não consigo segurar minhas lágrimas e nem tento contê-las já as segurei demais.

— Quanto tempo a gente tem? — questiono ao doutor.

— Pouco tempo — diz apenas isso.

Ele sai assim que percebe que não há mais nada a ser dito. Abraço seu corpo e choro em seu peito, como eu gostaria de ter feito desde criança. E eu sempre a culpei por não ter seu peito para chorar mas nunca foi culpa dela, nunca. Eu nem sequer sou filha biológica dela mas ela cuidou de mim. Choro tanto que acabo adormecendo em seu peito.

— Filha... — desperto com um sussurro. Me levanto e encaro o rosto de Marcela.

— Como está se sentindo? — pergunto me ajeitando.

— Bem — sorri e eu coloco minha mão sobre a sua.

— Não quer que eu chame o médico? — pergunto e ela nega com a cabeça.

— Só quero que você fique aqui comigo — aceno e decido não tocar no assunto da doença.

Não queria tocar no assunto da doença com ela mas isso está me roendo por dentro. Quero saber por que ela não deu a importância que essa doença deveria ter.

— Por que ficou no silêncio? — essas palavras escapam da minha boca e a ouço suspirar.

— Não queria preocupar ninguém. E também eu já sabia qual seria meu fim.

— Mas eu tinha o direito de saber! Você não podia tirar esse maldito direito de mim. Porquê mãe? — me afasto um pouco da cama.

— Me desculpa — ela sussurra e eu não falo nada.

Decido sair um pouco do quarto para tentar me acalmar um pouco. Eu sei que não deveria me exasperar mas caramba. Agora que a gente ia construir algum tipo de relação. Relação essa que Heitor roubou de nós duas por tantos anos.

Nunca pensei que odiaria alguém na vida tanto quanto odeio Heitor. Maldito! Mil vezes maldito.

Fico caminhando de um lado para o outro enquanto me acalma para voltar para o quarto de Marcela. Isso que estou fazendo deveria ser a última coisa que eu poderia fazer em um momento desses. Eu deveria estar lá dentro. Com ela e não aqui.

Após um bom tempo decido voltar e encontro ela adormecida. Volto a me sentar ao seu lado mas dessa vez não adormeço.

Mais Feliz Do Que Nunca!Where stories live. Discover now