Capítulo 57

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— Mesmo que você não tenha saído do meu ventre eu sou sua mãe

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— Mesmo que você não tenha saído do meu ventre eu sou sua mãe. Sempre amei você desde o primeiro dia que te...

— Olha Marcela, este não é o momento para sentimentalismo. Eu não quero saber se você me vê como uma filha ou não, não me interessa.

— Eu sei que fui ausente mas isso foi para proteger você. Proteger você disso, proteger você do seu pai.

— Ele não é meu pai!

— Ele é seu pai sim, quer você goste, quer não — ela fala — Eu preciso de ser franca com você.

Me levanto irritada.

— Só me dá um tempo ok? Não é do dia para noite que alguém descobre que seu pai é um filho da puta, pedófilo e delinquente! Você acha que é fácil para mim? Você acha? Pois não é, eu já nem sei quem eu sou!— altero o meu tom de voz — Eu não consigo entender nada. Porquê? Qual era a necessidade disso tudo? Não entendo.

— Eu sei que é difícil para você.

— Não, você não sabe. Não sabe como é, só eu sei como me sinto. Só eu sei a merda que sinto. Eu só queria saber porquê. Porquê mentiram para mim? Porquê me criaram com uma mentira? Porquê você permitiu que eu te odiasse? Porquê ele não queria que eu soubesse que sou filha dele? Porquê, Marcela? Porquê me mantém aqui se é óbvio que você não se importa comigo?

— É claro que eu me importo com você! Desde que conheci você eu faço tudo pensando em você! Eu fiz de tudo para proteger você! Porque eu te amo filha, eu amo você, minha filha —  ela tenta me tocar mas eu me afasto.

Ela suspira e então diz:

— Eu e seu  pai não estávamos vivendo bons meses. Ele bebia muito e passava a maior parte dos dias fora de casa mas eu estava cega de amor por ele e sempre o perdoava. Um dia uma mulher bateu na porta da minha casa carregando uma linda bebê alegando que a criança era de Heitor e eu claro, não acreditei nela. Mas a mulher insistia tanto que eu acabei por pegar um fio de cabelo escondido dele e fiz um teste de DNA para provar para mim mesma que aquela mulher não passava de uma golpista mas quando o teste saiu descobri que a mulher não estava mentindo...

"...A bebê era realmente do meu marido. Ao descobrir isso eu fiquei com muita raiva e o confrontei. Ele nem ao menos tentou negar e me culpou por ele ter a engravidado mas para me "tranquilizar" Heitor disse que daria um jeito na criança, eu era uma boba e deixei isso passar mas a mulher continuava batendo na minha porta dizendo que não queria mais a criança até que um dia ela simplesmente largou você na minha porta e nunca mais voltou.

Eu cuidei de você por um tempo e quando seu pai descobriu ele quis jogar você fora, ele odiava você porque quando olhava para você via o rosto da sua mãe. Ele tentou várias vezes me convencer a me livrar de você mas eu claro, não aceitei. Um dia, ele simplesmente pegou você escondido e largou você na rua, eu procurei você por dias e por sorte, uma mulher cuidou de você durante esses dias. Quando eu achei você não pensei duas vezes em pedir o divórcio mas Heitor se recusou e ainda ameaçou tentar contra sua vida. Eu não podia fazer nada, tinha medo que algo acontecesse a você então permaneci em silêncio e então ele me propôs um acordo. Você jamais deveria saber que ele é seu pai, o porquê disso eu não entendia muito bem mas aceitei. Para mim seria melhor que você nunca soubesse que aquele homem é seu pai.

Quando você foi crescendo eu percebi que seu pai te tratava de um jeito estranho, ele te olhava de um jeito estranho e eu fazia de tudo para afastá-lo de você mas as viagens de trabalho apareciam e eu não podia levar você comigo. Eu percebi que seu pai te olhava como mulher, mesmo você sendo uma criança mas eu não tive coragem de falar com ele sobre o divórcio pois tinha medo que ele me agredisse como da última vez que eu tentei o fazer.

Quando você me contava sobre o que ele fazia eu fingia não me importar porque sentia vergonha de permitir que isso acontecesse sob o meu teto e não fazer nada. Por isso tomei a decisão de afastar você daqui, não podia permitir que ele continuasse te aliciando então achei melhor mandar você para outro estado para te proteger. Foi sempre para te proteger.

Ele começou a ficar ainda mais agressivo e a bater em mim sem motivos, eu não podia permitir que você presenciasse aquilo, não podia permitir. Quando eu tomei a decisão de pedir o divórcio ele começou a me fazer ameaças, ele mostrava fotos suas do internato e eu tinha medo que algo de mal acontecesse a você. Não entrava em contato com você por vergonha e porque Heitor me lembrava constantemente que ele poderia te fazer mal a qualquer momento, eu não conseguiria falar com você sabendo o quão péssima mãe estava sendo para você".

— Porque você quis que eu voltasse? Se queria assim tanto me proteger dele.

— Eu sentia sua falta e Heitor estava menos agressivo. Também precisava que você estivesse aqui para que passasse todos meus bens para você sem que Heitor descobrisse e te fizesse mal. Não podia deixar que ficasse sob mesmo teto que ele por isso decidi que seria melhor ficar no dormitório e para ter a certeza que você estava bem sugeri o estágio. Eu não poderia demostrar afeto por você porque Heitor teria ainda mais motivos para me ameaçar. Sei que deveria acabado com tudo desde o início mas só agora tive coragem, sei que pode ter sido tarde mas eu espero que você consiga me perdoar.

— Você poderia ter acabado com tudo isso desde o início! Você poderia simplesmente ter denunciado ele antes! Porque não o fez? — questiono indignada.

— Eu tive medo. Sinto muito — ela abaixa a cabeça envergonhada.

Eu nunca imaginei que teria uma conversa assim com ela. Mas como imaginar? Nenhum filho espera ter uma conversa assim com a mãe. Mesmo que a mãe seja como Marcela.

— Eu preciso de ar — digo saindo do quarto.

Eu achei que quando alguém me explicasse tudo ia se esclarecer mas essa conversa me deixou ainda mais confusa. O que me deixa com raiva é que ela poderia ter resolvido tudo desde o início, poderia ter me poupado disso tudo. Não consigo simplesmente perdoá-la apesar de tudo eu ainda não consigo entender.

Desço as escadas e caminho em direção a garagem. Pego o primeiro carro que acho e pela primeira vez acho útil deixar as chaves do carro próximas ao respectivo carro. Ninguém me impede de o fazer. Os guardas abrem os portões para mim e eu dirijo a alta velocidade.

Abro os vidros do carro e deixo o vento bater em meu rosto balançando meus curtir cabelos. Eu precisava disso. Precisava de um pouco de ar, estava me sentindo asfixiada dentro daquela casa principalmente depois de tudo que Marcela me contou. Eu sei que deveria estar odiando a mulher que me abandonou mas eu simplesmente não tenho e nem quero ter nenhum tipo de sentimento por ela, mesmo que seja ódio.

Quando encontro uma estrada vazia paro o carro e desço do mesmo sentando na calçada. Era uma rua vazia com vários arbustos e nenhuma civilização. O lugar perfeito para mim, preciso de silêncio. Quando eu finalmente consigo ver algo bom em mim, quando eu finalmente tive coragem de enfrentar minha doença é jogado um balde água fria na minha cabeça me fazendo começar do zero. Eu tenho que começar do zero.

Poucos carros passam por aqui e os poucos que passam param para perguntar se está tudo bem comigo e isso está começando a me irritar pois cada vez que eu consigo me concentrar em algum pensamento sou interrompida por alguém. Eu sei que a intenção deles é boa mas isso não o torna menos irritante.

Apesar das interrupções este lugar até que é agradável. O pouco silêncio que tenho me dá espaço para pensar e a primeira pergunta que surge em minha mente é..

O que eu vou fazer daqui pra frente?

Não faço a menor ideia. Não sei nem por onde começar, onde morar, o que fazer. Eu realmente não sei o que vou fazer da minha vida daqui para frente. Seattle de repente se tornou um lugar pequeno demais para mim, sinto que já não tem espaço para mim.

Eu estou completamente perdida aqui. Sempre estive perdida aqui, para ser sincera. Esse lugar nunca foi para mim, essa cidade sempre me mostrou seu pior lado. Tive poucos momentos aqui que eu goste de me recordar. Poucas recordações boas, poucos momentos bons. O internato era melhor que esse lugar.

Ah Seattle, como eu te odeio.

Não revisado.

Mais Feliz Do Que Nunca!Where stories live. Discover now