Prólogo

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Encaro pelo vidro do carro o condomínio luxuoso, até que o carro para em frente a mansão

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Encaro pelo vidro do carro o condomínio luxuoso, até que o carro para em frente a mansão.

— Chegamos senhorita.

Suspiro quando o segurança da Marcela abre a porta do carro e encaro a mansão gigantesca que eu não pensei que voltaria a ver tão cedo.

Pelo pouco que me lembro, não mudou quase nada, a decoração, o jardim, e a trilha feita de mármore que se estende desde a garagem até o hall da entrada.

— Valeu — agradeço pegando minha mochila.

Lá vamos nós… Aperto firme minha mochila, por momentos de insanidade penso em como seria se eu tivesse ficado aqui e não ter ido para o internato. Com certeza, nada seria diferente, teria o mesmo desprezo que tenho por parte da Marcela, então, espanto logo esses pensamentos.

— A Marcela está em casa? — pergunto ao segurança.

— Sim, senhora.

Penso em dar meia volta e entrar no carro, voltar para o internato e fingir que Marcela não decidiu bancar a boa mãe e me tirar daquele lugar depois de oito anos, oito fodidos anos.

Sem uma única visita, ela nem se quer se importou em me ligar nesses anos que passei lá, entrei na faculdade e ela nem esteve lá para me apoiar, apenas mandava dinheiro e nada mais.

Mas agora não importa mais, aprendi a me virar sozinha. Não preciso mais dela emocionalmente, eu a odeio.

Dou uma longa tragada de ar antes de me mover em direção ao hall da mansão, não posso mentir e dizer que senti falta desse lugar pois não senti, não há nada aqui que me traga boas lembranças.

Encaro o lugar luxuoso onde passei parte da minha infância e ajeito o piercing em meu nariz. Marcela vai ter um surto quando ver que sua filha tem piercings no nariz e na orelha e para completar o pacote mechas coloridas. Mas foda-se o que ela pensa.

Adentro na casa encarando tudo como se fosse pela primeira vez, sem nenhum deslumbre, apesar da riqueza do lugar ele não me passa nada de bom, nenhuma lembrança boa.

— Filha, como você cresceu — vejo Marcela descer as escadas sorrindo.

Não retribuo o sorriso, até porquê, não há motivos para isso.

Vejo que não mudou nada, continua a mesma mulher esbelta de sempre, com seu vestido longo luxuoso, cabelo preso em um coque perfeito e sem um sequer fio de cabelo fora do lugar, com o peito estufado e queixo levantado. 

— E aí.

— Isso é forma de falar com sua mãe… — ela termina de descer as escadas e abre a boca surpresa.

Ela me encara de baixo para cima acenando negativamente, rolo os olhos impaciente.

— O que significa isso? — aponta para mim.

Olho para meus pés e vejo minhas botas de cano de cor preta, subo um pouco encarando minha saia xadrez e por fim meu cropped branco, franzi o cenho e encarei Marcela novamente.

— Roupa? — pergunto.

— Filha, o que é isso que você vestiu? E esse cabelo? É isso que…

— Wou, Wou, Wou. E quem é você para falar disso? Não venha querer bancar a mãe preocupada porque você sabe que não é, Marcela.

— Belle...

— Não. Se não tiver mais nada a dizer vou para o meu quarto, se é que ainda tenho um.

— É claro que você tem, Belle. Eu não mexi em nada, sei que não gosta que mexam suas coisas  — diz sorrindo de forma dócil, me fazendo rir com escárnio.

— Você não sabe nada sobre mim, então me poupe, vai — digo passando por ela mas sou impedida por uma mão segurando meu braço.

— Um dia você vai entender que fiz isso pelo seu bem — puxo meu braço de volta com preguiça de respondê-la.

Subo as escadas segurando o corrimão, tentando me lembrar onde ficava meu quarto. Assim que chego no cimo das escadas olho para os dois lados do corredor insegura, até que vejo um quarto com um cartaz na porta e caminho até lá.

É esse mesmo. Identifico por causa do cartaz escrito " Não entre " com uma letra horrível de criança.

Abro a porta e vejo que tudo está no lugar como Marcela disse, como eu deixei, a cama com lençóis de princesa, forço uma careta, vou ter que dar um jeito nisso. O abajur infantil ao lado da cama, a mesinha de criança ao lado da porta do banheiro e outras coisas que terei que dar um jeito.

Jogo minha mochila na poltrona do quarto e me apreço em tirar os lençóis da cama antes que minha visão entre em colapso de tantas cores que tem esse lençol. Paro o que estou fazendo quando ouço baterem á porta, caminho até ela e a abro.

Vejo que se trata do segurança da Marcela trazendo minhas malas.

— Pode deixar na cama, que eu arrumo — digo.

— Sim, senhora.

Ele sai e eu suspiro encarando as seis malas por cima da cama, roupas, sapatos, lençóis, maquiagens, perfumes, cremes, hidratantes corporais, tintas de cabelo, e o mais importante, meu material de pintura, pintar é a coisa que mais curto fazer.

Deduzi que meu quarto não estaria como eu quero então vim preparada para fazer uma reforma nele, odeio que mexam nas minhas coisas então o farei pessoalmente. Além do mais, é capaz de Marcela mandar seus empregados jogar minhas coisas fora.

Depois de várias horas, aqui estou eu, jogada no chão completamente exausta mas valeu a pena o meu esforço, agora sim está parecendo o quarto de uma garota de dezoito anos que ama cores neutras.

Ouço um rangido de porta sendo aberta e levanto olhar encarando a porta, arregalo os olhos quando vejo de quem se trata.

— O que você faz aqui? Sai do meu quarto — me levanto ficando o mais distante que posso.

— Tive que ver com meus próprios olhos, está mesmo de volta, Belle. 

— Para você é Isabelle! Agora vaza do meu quarto, seu traste! — grito.

— Não sentiu saudades do seu pai?

— Você não é meu pai, Heitor! Eu não tenho pai — digo com a voz cortante.

Heitor sorri, um sorriso psicótico. Me lembro perfeitamente dele, do que ele fazia quando Marcela não estava em casa, de todas as noites que ele me observava dormir, de como me tocava e que eu sentia nojo. Ele me obrigava a tocar nele, me beijava na boca, eu só tinha nove anos quando tudo começou.

Eu contava para Marcela mas ela não me dava bola, sempre tentava buscar apoio nela mas ela me afastava dizendo que estava ficando louca, até que me mandou para o bendito internato.

E eu nunca mais o vi.

— Some daqui! Vaza! Eu não sou mais aquela criança Heitor, não vou deixar você me tocar — digo firme.

— Isso é o que vamos ver, Belle — fala e some do quarto.

Inspiro e expiro, tremendo pego meu celular e coloco uma música aleatória da minha playlist. Fecho os olhos tentando me acalmar, eu não posso ter um ataque de pânico, não gosto que me vejam fraca, essa seria uma brecha para me machucarem.

Se acalme, Isabelle.

Me jogo na cama e deixo-me levar pela voz de Billie Eilish, até que adormeço..

Revisado.

Mais Feliz Do Que Nunca!Where stories live. Discover now