Capítulo 139 :

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Minha filha não parecia um esquilo mutante. Nem chegava perto dessa característica!

Talvez minha primeira visão dela, depois que saiu das mãos da doutora Anne toda suja e amassada, tenha sido distorcida... As lágrimas me dominaram, como não fazer? Tentei me segurar, prometi que iria, mas... Não consegui. Larguei a mão da Carla, pois a primeira coisa que fez ao ouvir o choro engasgado de Maria Ísis foi esticar os braços e reivindicar o que era seu, cansada demais para se manter calma.

Doutora Anne: Vejam só! Bem vinda Maria Ísis... Que menina mais linda você é!

Maria Ísis ainda chorava quando a enrolaram em um cobertor e a colocaram sobre a Carla. Fiquei apenas olhando sem reação, com as mãos em frente aos lábios, totalmente transtornado. Como isso era possível? Maria Clara já veio pronta... Mas Ísis... Eu a vi chegar!

Carla: Olá menininha! — Carla dizia para a bebê com a voz mais doce do mundo, tocando com a ponta dos dedos em seu rostinho — Como você é linda. Olhe só o seu pai! — cheguei perto com certo medo de tudo, de repente. A sensação era tão estranha.

Observei o rostinho amassado, o cabelo escuro cobrindo sua cabeça toda e a pele bem branca ainda suja de sangue e algo gosmento. Mesmo suja, ela era uma gracinha. A cópia da irmã. Parecia ser o ponto que irradiava luz dentro daquele quarto. Tão rápido como começou, tiraram a bebê dali e colocaram uma toquinha rosa em sua cabeça minúscula, pesando-a e medindo-a.

Carla: Vai lá falar pra sua mãe que já nasceu antes que ela surte... — disse nem sequer me olhando, não conseguia parar de acompanhar as enfermeiras ajeitando Ísis. — Diga a Maria Clara que a irmãzinha dela é linda como ela imaginava e que eu a amo.

Arthur: Claro... Ok — sai da sala atordoado, sorrindo demais.

Tirei aquela coisa da minha cabeça e andei pelo corredor sem esquecer a primeira imagem que tive da minha filha. Tão pequena, gordinha e gosmenta...

Maria Clara: PAI! — ouvi a voz doce de Maria Clara e olhei para sua direção rapidamente, erguendo os olhos do chão. Aquele formato de rosto me era muito conhecido... Acabei de revê-lo em Maria Ísis. — Como foi? Minha irmã já chegou? — Ela pulava no lugar toda empolgada. Correu em minha direção e me abaixei para pegá-la em meu colo.

Arthur: Sim! E ela é muito bonita, se parece com você — Maria Clara levou as mãos aos lábios e logo em seguida comemorou.

[...]

Maria Clara: Caramba tia Thaís, olha o tamanho dela... Nem parece que estava na barriga da mamãe!

Thaís: Veja só! Tem cabelos claros como os seus, dona Maria Clara.

Gustavo: Não sei como vocês vêm tudo isso. A menina é um bebê, não tem cara de nada!

Jane: Não seja tão insensível! É o bebê mais bonitinho desse berçário.

Maria Clara: Ela é a única menininha aqui. Só tem meninos!

Beatriz: Meus parabéns querido... Ela é linda! — minha mãe me abraçou enquanto víamos a bebê pelo vidro do berçário, onde não ficaria muito tempo, já que logo iria ficar com Carla, em seu lugar.

Arthur: Obrigado mãe. Ísis é mais do que linda... Não tem nem como explicar — suspirei.

CARLA

Realmente, nessa altura do campeonato, palavras me faltavam. Não me lembrava de ter ficado tão emotiva assim quando Maria Clara nasceu. Obviamente, as circunstâncias eram muito incomuns... Naquela época a tristeza era maior do que tudo e, apesar da euforia por ter aquele lindo bebê, minha mente apenas pensava em como vou sustentá-la? Como farei com que seja uma mulher de bem? Como vencer sozinha?

Carla: Agora será que pode cuidar de sua própria bexiga? Ou ainda vai controlar meus horários de fazer xixi coisa pequena?

Não havia nem o que tirar nem por! Mesmo com minhas súplicas, Maria Ísis parecia-se muito mais com Arthur do que comigo. Primeiro em suas características físicas... Aqueles olhos seriam verdes com certeza. E depois na personalidade que, pelo amor de Deus, me traria muita dor de cabeça! Maria Clara desde que nasceu era doce, calma, sempre quietinha e nunca chorava... Em curta meia hora em que tive Ísis em meus braços tomei alguns socos, resmungos e a pequena não parava um segundo de mover os bracinhos em todas as direções. Pensando bem... Seria uma megera igualzinha a mãe. Igual a mim.

Carla: Como te aguentei oito meses dentro de mim? — gargalhei baixo perto de seu rostinho. Ela choramingava, abrindo aquela boquinha minúscula e soltando gritinhos pequenos — Desde que te vi pela primeira vez sabia que seria igualzinha ao seu pai.

Lembrei-me daquele ultrassom, o primeiro, onde o pontinho não parava de se movimentar. Fiquei ninando-a levemente, buscando acalmar os ânimos da garotinha. Se possível, era mais branca do que Maria Clara. O cabelo castanho, mais algo me dizia que ficariam loiro, igual ao da irmã que cobria totalmente sua cabeça era espesso e brilhava na luz do quarto. As bochechas rosa... A barriguinha,subia e descia numa respiração tranquila. Dava vontade de beijar cada dobrinha daquele corpinho pequenino, abraçar minha garotinha contra mim até não poder mais nos separar novamente.

Agora Maria Ísis era somente Maria Ísis. E eu... Era Maria Clara e Maria Ísis.

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O Secretário. Where stories live. Discover now