Capítulo 2 :

1.4K 115 62
                                    


Carla: É formado em moda? — sussurrou para si mesma. Prosseguiu lendo — Formado em administração, trabalhou anos para Chanel, Gucci e Louis Vuitton? — praticamente surtou quando leu, me encarando novamente. Jogou o currículo sobre a mesa — Posso saber o porquê foi demitido?

Arthur: Não fui demitido, senhorita. Apenas desisti de um emprego para ir para o outro quando as oportunidades surgiam — Respondi percebendo que o que essa pequena megera mais queria era me intimidar — E em minha mais recente passagem pela Vuitton fiz algumas desavenças e tive de deixar o cargo.

Carla: Tem ótimas recomendações — assentiu — Porém, porque é formado em moda se não exerce a profissão?

Arthur: Serei sincero com a senhorita — me aproximei um pouco mais, falando um pouco mais baixo — Moda é minha satisfação pessoal. Aprecio tudo o que é bonito de se ver, sem esquecer é claro, do conteúdo — pisquei — Porém, por acasos da vida entrei na administração da Gucci e trabalhei para a marca algum tempo. A partir dai surgiram convites irrecusáveis. Vi na Delux uma oportunidade de juntar moda e administração, e agora está tudo em suas mãos. É isso.

Nos encaramos em silêncio por um tempo. A megerinha tamborilava as unhas marrons pela superfície da mesa e vi em seus olhos um brilho estranho. Suspirou.

Carla: Não. Não quero você na Delux. Não serve para mim — respondeu séria, me olhando ainda do mesmo modo — Obrigada por se candidatar.

Arthur: O que? — Pode ter sido um reflexo ou sei lá, mas me espantei com seu comportamento.

Meu currículo era impecável, minha formação nas melhores faculdades... Incontestável! Continuei encarando-a perplexo. Para mim, o emprego já estava garantido!

Carla: Foi o que ouviu. Fora — silabou devagar, apontando a porta com um aceno leve, abrindo uma revista.

Fiquei uns segundos para entender que estava sendo dispensado. Oh não, nenhuma mulher nunca me dispensou, nunca fui recusado em um emprego! Porém, engoli o orgulho e me coloquei de pé repudiando a megera em mente.

Arthur: Você também não serve para mim — ergueu os olhos em minha direção por trás da revista — Adeus, Carla Diaz, rainha da Delux — ironizei e sai da sala sem olhar para trás.

Ela seria mais difícil do que eu pensava.
Demônio sexy. Sexy. Demônio.

Thaís: E então?

Assim que saí da sala de Carla Diaz, vulgo demônio, a Thaís Braz do RH estava me esperando do lado de fora com uma galera toda ao seu redor. Enfiei as mãos nos bolsos com os lábios torcidos, em expressão de desapontamento.

Arthur: Não foi dessa vez —quando falei todos suspiraram desacreditando — Ela simplesmente me dispensou.

Melanie: Eu sabia! — exclamou uma morena ao lado de Thaís . Era muito bonita e elegante, portava um celular em mãos — Vou avisar para o pessoal que o cara dançou. Estava todo mundo achando que você ia ficar — e saiu.

Aos poucos, a rodinha foi se desfazendo e Thaís veio para o meu lado.

Thaís: Mas como ela pode ter te dispensado? Seu currículo é incrível, sua formação é excelente! — lamentou-se, e por um minuto tive medo da garota chorar — Oh Deus!

Arthur: Calma, tudo bem — toquei seu ombro — Vai aparecer alguém a altura dela. Pode demorar, mas vai.

Thaís: É, mas até que esse alguém apareça, sou eu quem tem que sofrer aturando essa megera! — suspirou limpando algumas lágrimas que caiam por sua bochecha. Segurei sua mão compreensivamente — Obrigada por ter tentado Arthur. É uma pena não te ter por aqui. Cheguei a pensar que iria ser você a mudá-la.

Arthur: Pois é, não foi dessa vez...

Enquanto conversávamos, notei que em uma das mesas do escritório enorme havia uma garotinha sentada perto do computador de uma delas soprando bolinhas de sabão. As mesmas voam pela janela alta fazendo-a rir baixinho. Era muito bonita e familiar. Usava um uniforme escolar azul, tinha o cabelo longo, liso e loiros. Familiar. Os olhos grandes e azuis, o rosto de boneca e também reconhecível aos meus olhos. Me pareceu ser a coisinha mais graciosa do mundo naquele momento; um anjo, uma princesa.

Thaís: ...Arthur? — ouvi meu nome e então me voltei para ela novamente, percebendo que por todo o tempo em que fiquei olhando a garotinha Thaís esteve falando comigo — Você ouviu o que eu disse?

Arthur: Ouvi, é sim — assenti, cocei a cabeça intrigado — Thaís, desculpe, mas... Sendo tão perturbada como é, como a poderosa chefona pode permitir que os empregados tragam os filhos para cá? Ela vai ficar uma fera quando ver essa menina sentada naquela mesa...

Seguindo meu dedo que apontou a pequena, os olhos de Thaís se arregalaram quando viu a menina. Fiquei sem entender de inicio, mas logo saquei quando prosseguiu.

Thaís: CLARA! — gritou, e no exato instante a menininha olhou para ela deixando o potinho que segurava o sabão para fazer as bolinhas cair no chão aos seus pés — Pelo amor de Deus, desce dai querida! Se a sua mãe te ver ai em cima vai sair matando todo mundo nesse lugar... Por favor!

Sua mãe? Aquela mulher grossa e arrogante era mãe? Mãe de uma criaturinha tão linda? Como um homem era capaz de aturar aquela pessoa por uma vida inteira a ponto de ter uma filha com ela? Então era tudo uma capa? Será que existiria vida dentro daquela casca, será que existia sentimento naquele coração?

Notei novamente a familiaridade no rosto da pequena; sim, o cabelo era idêntico ao da megera, o rosto lembrava demais; eram parecidas, exceto pelos olhos e a doçura que exalava da criança. Era por isso que a menina estava ali, porque era filha da patroa! Claro!

Maria Clara: desculpa Tia Thaís! — disse com a voz muito culpada — Já vou descer...

Foi tudo muito rápido. Olhei para a garota, olhei para o chão cheio de sabão sobre o piso altamente escorregadio e olhei para a grande distância que ela teria que pular até alcançar o chão. Resultado?

Arthur: CUIDADO! — gritei ao percorrer o espaço correndo, mas foi tarde demais.

Ouvimos um estalo alto quando ela caiu sobre a própria perna se espatifando ao chão. Em segundos montamos uma aglomeração ao redor da menina, que tinha uma fratura enorme resultante do tombo feio que levou. E ela gritava. Gritava. Gritava, anunciando que a cabeça de alguém ali estava prestes a rodar.

Comentem

O Secretário. Where stories live. Discover now