Capítulo 87 :

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CARLA

Fitas, balões, enfeites e confetes. Por que era tão difícil bolar uma festa de criança?

Com a ajuda de minha sogra, minhas cunhadas, Pedro, Arthur e da própria Maria Clara conseguimos dar conta de toda a decoração, deixando a alimentação por parte do buffet que contratamos para servir. Menos o bolo, a própria irmã de Arthur fez questão dela mesma fazer, já que trabalhava com confeitaria. Ficou uma gracinha, exatamente do jeito que ela queria... Tudo foi razoavelmente fácil.

Após arrumarmos tudo, colocamos as benditas fantasias e até que ficamos bonitinhos com as mesmas. Arthur, é claro, parecia um verdadeiro Rei com sua roupa de aspecto medieval verde escura com alguns enfeites... A boina vermelha que usou ficava linda, mas a atirou em algum canto enquanto dançava com Maria Clara, que o exibia para todas as amigas como seu papai. Não falei nada sobre isso, uma vez que todas as mães de suas amiguinhas que apareciam diziam algo em relação aos dois...

"Prazer em conhecer seu pai, Maria. Você se parece muito com ele".

Algumas me irritavam...
"Nossa, ele é seu pai? Como é bonito! Ele e sua mãe ainda são casados? Ele é solteiro?"

Outras me envaideciam...
"Oh querida, meus parabéns pela família! Maria Clara e seu marido são lindos... Vocês três são lindos".

Algumas me assustavam!
"Não pensam em mais bebês? Um casal tão jovem e bonito com certeza deve trazer mais crianças lindas ao mundo".

Minha filha parecia realmente uma princesa. Estava linda com aquele vestido rosa e brilhante, com a coroa delicada que usava sobre o cabelo longo e loiro. Não me lembrei de ter visto jamais aqueles olhinhos verdes brilhando de maneira tão intensa como hoje... Brincando com o primo e os amigos, aparentava estar no momento mais feliz de sua vida. Aquilo me enchia de alegria, principalmente por saber que era diretamente relacionado a Arthur.

Em dado momento me senti enjoada. Foi exatamente no instante em que meus pais entraram pela porta. Duvidei que viessem, mas o fizeram. Discretos, cumprimentaram a todos da família de Arthur, limitando-se a eles e Maria Clara, a quem monopolizaram por alguns minutos longos com os presentes caros que trouxeram da Europa. Meu pai estava muito feliz conversando com a neta enquanto minha mãe se aproximava de mim um tanto confusa, olhando de Arthur para Maria Clara.

Mara: Ele é seu namorado querida? — como não lhe especifiquei meu namorado, apontou Arthur parado como um idiota ao lado de Maria Clara e meu pai. Assim que o viu, Maria Clara o chamou para ver a boneca da França que acabara de ganhar.

Carla: Sim mamãe. Ele é — cruzei os braços e notei seu olhar crítico para o modo como brincava com Maria, mantendo-a acerca de si a todo o momento, como se estivesse protegendo-a.

Mara: É impressão minha ou...

Carla: Não mãe, não é impressão. Ele e Maria Clara se parecem demais — assenti e finalizei antes que dissesse algo.

Mara: Assustador — murmurou — mas ele é muito bonito e educado querida. Parece tratar Maria Clara super bem. Meus parabéns.

Carla: Obrigada mamãe — sorri de canto, orgulhosa. Há anos ela não me elogiava em alguma coisa.

Antes de se tornarem incômodos meus pais foram embora. Maria Clara não estava muito a fim de paparicá-los, ficando mais à espreita de Arthur e sua atenção. Ela o monopolizava, praticamente roubando meu namorado. Ia brincar e o arrastava para o meio dos amigos, ia comer e o levava junto... Receber os presentes e ele tinha que ajudá-la a desenrolar... Thaís irmã de Arthur veio comentar o quanto minha mãe era bonita e jovem... O quanto meu pai parecia ser rígido, querendo me fazer alguma companhia. Thaís Braz e Gil do vigor vieram também, sendo ambos os únicos que convidei da Delux. Eu não... Maria Clara convidou. Descobriram, finalmente, que Arthur e eu estávamos namorando ao presenciarem um selinho rápido entre nós, algo que já nem era tanta novidade assim.

Rápido o parabéns aconteceu e foi meio indolor. Nós tiramos fotos e fotos, Maria Clara parecia querer sair no álbum com todo mundo da festa, principalmente eu e Arthur. A foto que tiramos juntos ficou incrível, e quando reparei que finalmente não estava sozinha com ela atrás do bolo senti uma imensa sensação de alívio. Pelo que parecia, a solidão tinha chegado ao final mesmo para nós duas. O primeiro pedaço foi para mim, claro, mas senti que fez mais isso para me agradar do que por vontade própria. O segundo foi para Arthur. Enquanto Maria Clara conversava com algumas amigas comendo o bolo, ele se aproximou e me fechou em sua presença na sala vazia.

Arthur: O que foi minha linda? Está cansada? — sentou-se ao meu lado no sofá e tocou minha mão delicadamente.

Carla: Aham — concordei — E meio enjoada.

Arthur: Comeu algo que não caiu bem? — torceu os lábios e tocou meu rosto brevemente — Você está com a temperatura normal...

Carla: Não. Comi apenas o bolo, mas a sensação já vem de algum tempo. Deve ter sido por conta da festinha — sorri de lado, tocando sua mão em meu rosto — Não se preocupe.

Arthur: Quer um remédio? — ameaçou se levantar, mas segurei seu pulso.

Carla: Não. Sua mãe já me deu tudo! Remédio para dor de estômago e chá — assentiu — Sabe... Nunca ninguém se preocupou tanto comigo como vocês aqui. Isso é tão bom...

Era a mais pura verdade. Durante toda minha vida meus pais foram presentes, mas sempre rígidos e de certa maneira distantes de minha realidade. Após a gravidez isso ficou mil vezes pior

Carla: Nunca me senti tão em casa como me sinto aqui.

Arthur: É porque todos sabem que eu te amo — argumentou de forma singela, doce — E sabem que, por outro lado, você é maravilhosa. Não tem porque não te tratar como uma Rainha.

Carla: Isso foi muito meloso — gargalhei baixinho e beijei seus lábios — Que bom que está aqui. Não ia querer estragar tudo com meu enjoo.

Arthur: Tudo bem... Enjoada — nós rimos — você está tão linda hoje...

Carla: Você também meu Rei — beijei seu rosto e toquei-lhe o queixo brevemente — Parece um bonequinho de bolo.

Arthur: Você está me zoando? — perguntou quando comecei a gargalhar.

Carla: Só um pouco... Não posso confessar que estou fantasiando com nós dois e essas roupas de nobreza — mordi os lábios e Arthur olhou em volta um pouco alerta.

Arthur: Posso confessar que pensei o mesmo durante toda a festa?

Carla: Pode — beijou meu pescoço brevemente, mas logo acabou. Maria Clara apareceu.

Maria Clara: Arthur... Esse celular é seu né? — estendeu um aparelho cinza e que piscava em direção a ele. Arthur rapidamente apalpou os bolsos e sorriu.

Arthur: É meu sim — Ela colocou o aparelho na mão dele — nem percebi que sumiu Maria, obrigado — a puxou e lhe deu um beijo rápido na bochecha. A pequena sorriu e se aproximou de mim.

Carla: Suas amigas ainda estão ai? — toquei seu cabelo enquanto Arthur mexia no celular ao meu lado.

Maria Clara: Sim... Mas já estão indo embora — deu de ombros — Você tá legal mamãe?

Carla: Um pouco enjoada filha, mas é só — com a visão periférica, notei que Arthur estava um tanto preocupado com o que havia no celular. Aquilo me instigou a curiosidade, mas algo me dizia para não perguntar nada.

Arthur: Já volto — anunciou ficando de pé e passando por nós, preocupado. Maria Clara e eu olhamos a cena juntas, acompanhando seus passos de pertinho. Arthur levou o celular ao ouvido antes mesmo de entrar na cozinha e o que disse ao atendê-lo parou minha vida durante alguns segundos — Doutor Brawn?

Aquelas palavras gelaram meu sangue, pausaram meu coração, travaram o relógio. Tudo o que pude fazer foi segui-lo sem que notasse, e puxei Maria Clara comigo pela mãozinha. Sem entender nada e um tanto assustada atrás de mim, parei perto da cozinha com ela e de onde estava pude ouvir cada detalhe da conversa que mudou totalmente o rumo perfeito de minha vida até então sem falhas.

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O Secretário. Where stories live. Discover now