Capítulo 61 :

1.3K 114 53
                                    


CARLA

Pensei que na manhã seguinte teríamos um tempinho para conversar... Estava errada. Passei parte da noite tentando encontrar as palavras certas, as frases que fizessem sentido para me explicar a ele sobre a noite passada... Mas Maria Clara e Pedro apareceram no quarto antes que Arthur acordasse. Por sorte, levantei antes para ir ao banheiro e os pequenos não nos viram abraçados e sem camisa.

Maria Clara: Já acordou mamãe? — Ela estava com apenas a cabeça para dentro do quarto. Pedro estava atrás dela, os dois meio acanhados, ainda segurando a maçaneta.

Carla: Não Maria Clara, ainda estou dormindo... — ironizei e os dois sorriram com os olhinhos quase idênticos — Falem baixo que o Arthur está no décimo quinto sono — aproximei-me deles para que as vozes não ficassem altas — O que está fazendo aqui? Não entre no quarto das pessoas sem bater, filha, é falta de educação! — repreendi tocando em seu cabelo, acariciando seu rosto — Você pode ver o que não quer, às vezes.

Pedro: Tipo o que? — pareceu confuso.

Maria Clara: Você e o Arthur se beijando? — piscou os olhinhos de forma fofa e os dois riram alto, com as mãozinhas nas bocas para controlarem o som.

Carla: Maria!  — A repreendi novamente, um pouco envergonhada — O que foi querida? Precisa de mim?

Maria Clara: Não mamãe. É que a vovó pediu para vermos se vocês já estão acordados... Para tomarmos café juntos e ir para casa — A expressão inocente de seu rosto me derreteu na hora.

Carla: Ah, claro — assenti e abri a porta — Falta apenas o Arthur, mas acho que os dois podem dar um jeito nisso, certo? — gesticulei em direção à cama, e no segundo seguinte Maria Clara e Pedrinho estavam sorrindo de ponta a ponta, correndo em direção à cama alta.

Os dois pequenos pularam em cima de Arthur e começaram a acordá-lo. Maria Clara falou algo em seu ouvido, Pedro riu disso. Os dois sacudiram os braços de Arthur, que acordou no segundo seguinte um tanto assustado. Prendendo meu cabelo e isolada no canto, assisti Arthur fingir estar irritado.

Arthur: Que coisa feia... Acordar os outros assim! — sentou-se coçando os olhos, ainda sem camisa e com o cabelo despenteado. Maria Clara e Pedro se retraíram perante sua postura negativa, com receio.

Pedro: Desculpa tio, mas...

Arthur: Mas? — pegou um travesseiro na cama aparentemente nervoso — Não tem nenhum mas! Os dois merecem uma grande travesseirada e um monte de coceguinhas por terem me acordado às dez da madrugada! — também gargalhei com os pequenos no momento em que passaram a fugir de Arthur e as cócegas. Os três estavam tão felizes, que no final acabou sobrando para mim tomar travesseirada também.

[...]

Acabamos atrasando nossa saída, mas fomos para casa no domingo após o almoço, como combinado. Fiquei no banco da frente ao lado de Arthur novamente, Tia Bia e as crianças foram atrás. Não tivemos nenhuma oportunidade de conversar, como suspeitei. Isso tornava tudo mais difícil, porque eu queria dizer a ele o que estava sentindo. Sentindo que poderíamos dar início a nossa relação, que queria ficar com ele de verdade.

Beatriz: Carla dormiu querido? — fechei os olhos e fiquei assim por um bom tempo encostada no banco, virada para a janela. Talvez por isso Tia Bia estivesse fazendo a pergunta. Pensei em dizer que estava acordada, mas por algum motivo desconhecido não o fiz.

Arthur: Deve esta mãe. Ela ficou acordada comigo até tarde... Tomamos chá e ficamos conversando — continuei estática, percebendo pelo silêncio que os pequenos também estavam dormindo.

Beatriz: Conversando? — senti a ironia de sua voz de longe — Pelo visto passaram bem à noite.

Arthur: Mãe! — A repreendeu sério, sem brincadeiras em sua voz — Carla e eu não fizemos nada. Ela é uma mulher direita, não é qualquer uma — contorcir  os lábios, sorrindo um pouquinho.

Beatriz: Não duvido que ela seja uma mulher direita, filho. Pelo contrário, gosto muito da Carla e estou feliz com a presença dela e de Maria Clara em sua vida. As duas te fizeram muito bem... Nunca te vi tão animado como estava nesse final semana — estava sendo sincera, esbanjando sentimentos positivos — Espero que vocês dêem certo. Pelos dois e pela filha dela, que gosta muito de você.

Arthur: Se depender de mim, mãe, vai dar certo — afirmou com convicção — O problema é que a Carla tem algum problema do passado que não consegue esquecer. Por isso tem alguma insegurança em relação aos homens. Estou tentando fazer com que mude, mas parece ser impossível.

Beatriz: Querido, essa garota realmente gosta de você. Só um cego não vê que os dois estão apaixonados... Espere. Tenha paciência. Vai chegar o momento em que isso será inevitável — considerei muito aquelas palavras.

Arthur: Eu sei mãe... É isso o que estou fazendo.

Beatriz: Sabe de uma coisa? — pelo retrovisor localizado dos lados da janela, pude ver a mãe de Arthur acariciando o cabelo de Maria Clara — Essa garotinha me lembra muito você na infância... Talvez seja por isso que gosto tanto dela — sorriu meigamente — Pode soar estranho, mas gosto igualmente dela e de Pedro. Não sei e nem posso explicar.

Arthur: Maria Clara é muito fácil de amar — explicou — Se não fosse por ela, talvez a Carla e eu não possuíssemos um laço tão estreito. Foi Maria Clara que nos uniu, que nos aproximou, que me deu a oportunidade de entrar na Delux. Se hoje sou um homem diferente, devo tudo a ela.

A cada momento que passava, tinha mais certeza de que a decisão que tomei não era equivocada.

Comentem

O Secretário. Onde as histórias ganham vida. Descobre agora