Capítulo 21 :

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CARLA

Permaneci em minha sala com os pensamentos longe. Mais especificamente, no refeitório. Tentei desenhar alguma coisa, algum detalhe nos modelos do outro estilista... Nada. Apenas consegui me lembrar da cena de mais cedo com a Thaís de um jeito que, sinceramente, não me era muito agradável.

Evitando pensar mais no assunto, fiquei de pé e comecei a caminhar pela sala. Andei, andei... E quando vi estava próxima à mesa dele. Assim que respirei o mesmo ar que ele respirou, assim que vi a blusa dele dobrada perto da cadeira... Sai da sala com pressa. Que demônios ficar olhado roupa de macho! Não sou mulher pra isso, definitivamente.

Deparei-me com o departamento todo vazio. Devido ao horário de almoço todos estavam ausentes, e pela primeira vez passei despercebida pelas mesas ali presentes. Tomei um gole de água, enrolei olhando a vista... Cheguei no auge da minha maluquice, querer espiar eles no refeitório... As palavras de Gil ainda estavam vivas em minha mente. "Na hora do almoço todas as garotas ficam ao redor dele".

Carla : E pensar que sou eu quem banca esse teatro todo... — murmurei andando pelo corredor, ouvindo apenas meu salto estalar no piso de mármore azul — E ainda fico dando motivos pro show continuar. Bacana — entrei na sala de segurança — Heitor?

Heitor: Sim senhorita — ele derrubou tudo pelo caminho e parou a minha frente — Em que posso ajudar?

Carla: Da uma volta lá embaixo. Tem gente perturbando no refeitório... — não demorou dois segundos para que ele se mandasse da minha frente, me deixando sozinha com todas as câmeras de segurança.

Sentei-me em sua cadeira giratória após fechar a porta. Em frente ao computador de comando, digitei a palavra refeitório. Todas as câmeras do sistema mostraram imagens do refeitório, de todos os ângulos, todos os locais... Sorri, e procurei nos vídeos as imagens deles. Sem muito esforço localizei Gil do Vigor, todo colorido, de pernas cruzadas enquanto falava e gesticulava ao lado de Arthur, que estava sentado entre ele e Thaís.

Cruzei as pernas e coloquei essa câmera na imagem central, ficando grande. Assisti a todos eles conversando baixinho, incluindo Vitória, Melanie e Emily. A partir dali comecei a dividir a mente... Um lado pensava em como manda-la embora mais fácil e ainda ferrá-la bastante. O outro tentava se concentrar no que faziam lá. Conversavam juntinhos.

Arthur estava com cara de quem não aprovava muito o papo. Thaís estava falando bastante, assim como Gil. Emily, a marcada, falava com cara de arrogância, como se atacasse. Isso aumentou ainda mais a indesejável presença dela para mim. Até que o papo foi aumentando, todos falando juntos... Vitória colocou a mão sobre a de Arthur e disse algo. Fiquei olhando meio em choque, logo ele, com jeito, retirou a mão dela. Não demorou para que se retirasse da mesa também. Deveriam estar falando de mim, aposto!

Naquele momento foi como se um estalo se desse em minha mente! O que é isso? Estava mesmo na segurança da Empresa só pra ver o meu secretário almoçando com as garotas? Jura, Carla Diaz? Fiquei revoltada e sai chutando tudo, sem ao menos voltar às câmeras para o modo anterior. Caminhei para o escritório após pegar um bolinho na sala de reuniões e me sentei a mesa analisando novamente os modelos. Não! Não! Esse cara não poderia me tirar do sério assim... Não pode ficar mandando na minha vida dessa forma...

Carla: Você não vai me deixar louca Arthur, não vai... — sussurrei para mim mesma.

Arthur: O que? — Quando ergui os olhos, ele estava lá, paradão na porta, fechando-a. Pigarreei e tentei disfarçar.

Carla: Você vai me deixar louca com as coisas que faz! — comecei, e vi seu rosto ficar impaciente e confuso.

Arthur: O que fiz de errado senhorita? É só me dizer que farei tudo novamente conforme você pedir e...

Carla: Está ótima essa pré-avaliação que fez sobre os modelos — calei sua boca quando falei, e nem sequer olhei pro seu rosto, continuei olhando os papéis.

Arthur: Está? — sussurrou com certo tom de espanto. Estava singelamente parado ao lado de minha mesa — Não quer que eu reveja nada?

Carla: Não — o olhei e dei de ombros — Adorei — silêncio, e ele voltou a sua mesa — Como foi o almoço? — senti uma leve hesitação de sua parte sem olhá-lo. Sorri de canto por trás dos papéis.

Arthur: Estava a maior fofoca lá em baixo — comentou — Fiquei meio sem jeito, por que... Estavam falando sobre nós. — Paralisei uns segundos. Ergui o olhar e abaixei o papel, pois esperei tudo menos que dissesse isso.

Quando nossos olhares se cruzaram, Arthur não pode evitar dar uma gargalhada baixa. Então não me enganei quando pensei que estava falando de mim... Oh, claro!

Carla: Falando o que de nós? — falei a ultima palavra quase engasgando. Me inclinei para frente de forma engraçada, interessada. Ele sorriu mais.

Arthur: Sobre a festa. A dança... — Ele piscou.

Carla: Eu disse que era uma péssima ideia.

Arthur: Não se preocupe — falou em tom de desculpas — Já esclareci para todo mundo que nossa relação é puramente profissional. Não deixei duvidas que somos profissionais, e vida pessoal não entra nesse ramo.

Carla: Pois é — voltei ao trabalho, e pensei comigo "porque será que Arthur não pensou assim na noite em que me chamou pra dançar e ficou cantando aquela musica linda no meu ouvido?" — A propósito... — ele me olhou — Obrigada elo que fez por mim naquela noite.

Arthur: Já disse isso — Ele piscou novamente.

Carla: Posso dizer de novo — Arthur sorriu — Obrigada.

Era impressão ou Arthur estava me olhando com outros olhos agora?

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O Secretário. Where stories live. Discover now